14 Janeiro 2021
"Esperar é viver como cristãos, esperar já é evangelização. Será que hoje a nossa evangelização é estéril precisamente porque falta esperança aos evangelizadores?", escreve Enzo Bianchi, monge italiano e fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado por Jesus, janeiro de 2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Passamos pelo tempo do Advento, um tempo de exercício de esperança, e agora celebramos as vindas epifânicas do Senhor entre nós, o Immanu-El, o "Deus conosco", feito carne frágil e reconhecido como dom que só Deus poderia nos dar, por pastores pagãos e sábios pagãos em Belém e pelos filhos de Israel no Jordão.
A esperança é o que pode dar sentido à espera, a torna eficaz e acelera sua realização, e nós, humanos, carregamos em nosso interior a semente da esperança, com a qual fomos dotados desde o nosso nascimento.
É verdade que na origem de todas as nossas virtudes está a confiança (a fé), mas a esperança sempre a acompanha e continua a ser a mais necessária em tempos de incerteza e dúvida, quando a nossa fé se enfraquece. Hoje a esperança parece ser a virtude mais difícil e muitos nem sequer conseguem formular a pergunta fundamental: “O que posso esperar?”.
Não havendo capacidade de ouvir uma promessa, não conseguindo mais vislumbrar uma orientação, a esperança permanece confinada a um sentimento de sobrevivência.
E os cristãos? Várias vezes sinto-me impelido a repetir a pergunta de Hilário de Poitiers, bispo e pai da Igreja do século IV: “Onde está a vossa esperança, cristãos?”.
No entanto, Cristo, nossa esperança, é a força de nossa vida. Se Cristo é a nossa esperança, então “esperamos novos céus e nova terra” (2Pd 3,13), não no sentido de que esperamos o paraíso, mas que, esperando, estamos atuando, nos empenhamos com essa nova criação que já começou com a ressurreição de Jesus Cristo. A esperança é para hoje, por isso é uma virtude! A nossa esperança participa daquela de toda a humanidade, é aquela da criação que geme e sofre, alimentando a esperança da libertação (cf. Rm 8, 20-22).
A esperança - devemos ter a coragem de dizer isso a nós mesmos - é a esperança de que a morte já não tenha mais a última palavra. Este é o proprium da nossa fé cristã: esperança na ressurreição, na vida plena, na reparação doada a quantos nesta terra sofreram e conheceram injustiça e opressão, doença e pobreza.
Quando o apóstolo Pedro, dirigindo-se aos cristãos em diáspora entre os pagãos, os convida à missão, não lhes pede ações ou estratégias especiais, mas apenas para estar "sempre preparados para responder a qualquer que lhes pedir a razão da esperança que há em vocês" (1Pd 3,15).
Esperar é viver como cristãos, esperar já é evangelização. Será que hoje a nossa evangelização é estéril precisamente porque falta esperança aos evangelizadores? Certamente, é preciso se exercitar à esperança: plantada como uma semente na vida de cada um de nós, deve ser confirmada, exercitada empenhando também a própria vontade. Devemos decidir ter esperança, como Abraão que "teve fé, esperando contra toda a esperança" (Rm 4,18).
Exercitar a esperança torna visionários, no sentido de que se perscruta o hoje e se vislumbra o amanhã, se contempla as coisas visíveis, mas se veem as invisíveis. A esperança é a virtude dos pobres, dos viajantes e dos peregrinos, é a virtude que pede para ser vivida junto com os outros: só “juntos”, de fato, se pode ter esperança, e então tornamo-nos capazes de esperar por todos. Pensemos bem: preferimos sempre reclamar, refugiamo-nos nos vales da indiferença e do sonambulismo espiritual, contentamo-nos em sobreviver sem esperar mais nada, e assim a nossa vida encolhe, torna-se mísera, sem ímpeto nem paixões.
Charles Péguy tinha razão quando escreveu de forma poética: “A virtude que prefiro, diz Deus, é a esperança. A fé não me surpreende ... nem a caridade. Mas a esperança, diz Deus, é o que me surpreende: é precisamente a maior maravilha da minha graça”. Este é realmente um tempo para que nos empenhemos todos juntos a esperar.
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A esperança, a virtude favorita de Deus. Artigo de Enzo Bianchi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU