30 Novembro 2020
"Vigiar sobre a criação, que não pode ser deturpada pela nossa vontade de poder e de destruição, e, no mínimo, deve responder a um Deus que confiou em nós a ponto de nos deixar as chaves da casa. Da sua casa", escreve Tonio Dell’Olio, padre, jornalista e presidente da associação Pro Civitate Christiana, sobre o Evangelho deste 1º Domingo do Advento, 29 de novembro de 2020 (Marcos 13,33-37), em artigo publicado por Mosaico di Pace, 27-11-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: ‘Cuidado! Ficai atentos, porque não sabeis quando chegará o momento. É como um homem que, ao partir para o estrangeiro, deixou sua casa sob a responsabilidade de seus empregados, distribuindo a cada um sua tarefa. E mandou o porteiro ficar vigiando. Vigiai, portanto, porque não sabeis quando o dono da casa vem: à tarde, à meia-noite, de madrugada ou ao amanhecer. Para que não suceda que, vindo de repente, ele vos encontre dormindo. O que vos digo, digo a todos: Vigiai!’” (Mc 13,33-37).
Parece-me que estou no filme de Troisi, em que a resposta mais oportuna e sincera é: “Está bem, vou anotar”. Em poucas linhas, repete-se quatro vezes o mesmo verbo. Quase parece que é a única deixa que o senhor nos dá. Nada mais além disto: vigiem.
Um dono de casa que parte e deixa a própria casa sob a custódia dos seus servos e do porteiro. É uma página que nos fala acima de tudo de uma relação de confiança entre aquele homem que parte e os seus servos. Ele confia, aposta, responsabiliza.
Parece voltar aos primeiros gritos da criação, em que o criador pede ao homem e à mulher que guardem e cultivem aquela casa que é o jardim do Éden. Por isso, a exortação não pode ser outra senão vigiar.
Vigiar como guardar. Vigiar sobre a globalização, para que não ofenda os homens e mulheres, mas os faça se sentirem mais próximos e corresponsáveis pelo destino do universo.
Vigiar sobre a economia, como “A Economia de Francisco” nos ensinou a fazer, para que tudo esteja a serviço do sonho de paz de Deus.
Vigiar sobre uma política que deve pôr barreiras à sede de lucro e fazer com que a solidariedade consiga vencer a tentação dos piores egoísmos.
Vigiar sobre a criação, que não pode ser deturpada pela nossa vontade de poder e de destruição, e, no mínimo, deve responder a um Deus que confiou em nós a ponto de nos deixar as chaves da casa. Da sua casa.
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As chaves da casa. Artigo de Tonio Dell’Olio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU