Alerta do Federal Reserv - Fed: mudanças climáticas ameaçam estabilidade financeira

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18 Novembro 2020

Provavelmente não é apenas coincidência. Justamente nos dias da vitória de Joe Biden, que prometeu como primeira medida da sua presidência o retorno dos Estados Unidos aos Acordos de Paris, o Federal Reserve “promove” as mudanças climáticas como um dos riscos sistêmicos para o sistema financeiro, em um grupo restrito que inclui as consequências da pandemia, as convulsões geopolíticas devido às tensões comerciais com a China, os ciberataques e o Brexit.

A reportagem é de Francesco Semprini, publicada por La Repubblica, 16-11-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Se certamente não é o primeiro alerta sobre o assunto, seguramente é a primeira vez que uma situação de risco muito forte, inclusive financeiro, é codificada com tamanha determinação e por uma das fontes mais renomadas do mundo.

As implicações das mudanças climáticas, precisamente aquelas obstinadamente negadas por Trump, estão descritas detalhadamente na edição do dia 9 de novembro do Financial Stability Report, o volumoso compêndio sobre todos os aspectos da economia estadunidense e mundial que o banco central dos EUA publica a cada seis meses (disponível em inglês aqui).

Com um esquematismo exemplar, o Fed relata principalmente um diagrama que, com uma série de setas a seguir, resume os eventos desastrosos devido às mudanças climáticas e as consequências em cadeia delas em termos econômicos.

É um gráfico organizado em três colunas: os eventos provocados pelas mudanças, as consequências práticas, as vulnerabilidades econômicas. Todas unidas por uma linha crescente: um círculo vicioso impressionante, em que a única solução possível é impedir essa corrente desde o início.

O aumento da frequência e da intensidade dos eventos climáticos extremos (secas, furacões, incêndios) com a reiterada capacidade devastadora deles (primeira coluna) provoca incertezas nos tempos da economia e incompletude e atrasos na implementação dos contratos (segunda coluna), que, por sua vez, causam perdas nas avaliações dos ativos e o aumento da necessidade de endividamento por parte de empresas e famílias (terceira coluna).

Até mesmo eventos aparentemente menos repentinos e traumáticos como a progressiva elevação do nível do mar, afirmam as notas explicativas, “têm o potencial de provocar violentas perdas de valor nas atividades envolvidas”.

Tal como está escrito na premissa deste e de cada edição do FSR, ao publicar essas informações, o Fed pretende “promover o entendimento público” e, por conseguinte, “melhorar a fiabilidade e a transparência das medidas de política econômica”.

O capítulo sobre as mudanças climáticas começa com uma declaração que é tão assertiva quanto aterrorizante: “As mudanças climáticas aumentam a probabilidade de desorganizações e disrupções na economia e podem aumentar os choques financeiros e as vulnerabilidades do sistema financeiro que, por sua vez, podem ampliar ainda mais esses choques”.

O motivo de tanta clareza decisiva é explicado no mesmo relatório: “As consequências das mudanças climáticas estão ligadas às incertezas financeiras: a opacidade de certas explicações e a certeza não uniforme dos participantes do mercado sobre as causas dos fenômenos (aqui também é visível uma referência crítica ao negacionismo do governo anterior) levam a erros de sobrevalorização dos ativos com o risco de colapsos sucessivos”.

E para não deixar dúvidas: “A falta de consciência das relações entre os eventos naturais e as consequências econômicas causa flutuações impróprias nos mercados, e, assim, cria-se uma nova vulnerabilidade grave”.

Os interlocutores naturais do Fed são os bancos, e a eles, de fato, se dirige a explícita recomendação de se dotarem de “sistemas capazes de identificar, medir, controlar e monitorizar todos os riscos ligados a esse problema”.

As mudanças climáticas não afetam todos os cantos do planeta de maneira uniforme, observa finalmente o Fed. Há regiões mais expostas, e a elas devem ser dedicados uma atenção e um cuidado particulares. O exemplo mais típico são os imóveis costeiros, expostos a inundações cada vez mais frequentes e devastadoras, marés anormais e furacões.

“Dada a evolução da situação, são propriedades para as quais se tornam necessários investimentos e adaptações cada vez mais frequentes se se quiser continuar a utilizá-los. Caso contrário, seu valor continuará caindo, o que levanta riscos para o mercado das hipotecas e dos títulos baseados neles (desde sempre uma pedra no sapato para os mercados estadunidenses, mas não só), assim como para toda a linha de dívidas e créditos ligados a eles. Mas também para a rentabilidade dos estabelecimentos comerciais localizados nessas regiões”.

As bruscas variações dessas valorizações, observa o banco central com preocupação, “podem repercutir e se ampliar em cadeia, indo muito além da escala local e setorial, a ponto de comprometer a solidez de todo o sistema financeiro e econômico”.

Em suma, a crise de 2008 continua oferecendo lições.

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