01 Setembro 2020
A China pediu ao escritor e economista francês Thomas Piketty que excluísse algumas partes de seu novo livro Capital e Ideologia, em que comenta a desigualdade do país asiático. Piketty se recusou a fazer alterações, então, parece improvável que o livro seja publicado e lançado na China.
A reportagem é publicada por El Diario, 31-08-2020. A tradução é do Cepat.
Thomas Piketty informou que a editora chinesa Citic Press havia enviado, em junho, para sua editora francesa, uma lista de dez páginas solicitando a remoção de certas partes da edição francesa do livro. Em agosto, enviaram uma lista adicional relacionada à edição em inglês, conforme contou ao The Guardian.
“Rejeitei essas condições e disse a eles que aceitaria apenas uma tradução sem cortes de qualquer espécie. Basicamente, queriam cortar quase todas as partes que se referem à China contemporânea e, em particular, à desigualdade e a obscuridade na China”, afirma. Outras editoras chinesas também contataram a editora francesa do livro para solicitar alguns recortes. "Parece que nesta etapa o livro não será publicado na China continental", disse.
Entre os trechos destacados por editores chineses está um que se refere às sociedades pós-comunistas, em regiões como a China, que se tornaram "os mais ferrenhos aliados do hipercapitalismo" como uma consequência direta dos "desastres do stalinismo e do maoísmo". Outras seções fazem referência à obscuridade dos dados chineses sobre renda e riqueza, fuga de capitais e corrupção.
Diante dessa situação, Piketty postou uma mensagem no Twitter na qual afirma: "É triste que o 'socialismo com características chinesas' de Xi Jinping esteja se afastando da discussão aberta". “Em Capital e Ideologia ofereço uma perspectiva crítica, mas construtiva sobre os regimes de desigualdade e suas hipocrisias: na China, mas também nos Estados Unidos, Europa, Índia, Brasil, Oriente Médio...”, detalha.
No livro, Piketty se baseia em uma pesquisa que foi coautor e que utiliza dados tributários, pesquisas e estatísticas de contabilidade nacional chineses para estimar o crescimento da desigualdade chinesa, de 1978 a 2015, explica Quartz. A obra também critica a falta de dados detalhados sobre o imposto de renda na China, o que impossibilita uma visão precisa de como os ganhos patrimoniais do país foram distribuídos ao longo dos anos.
Em Capital e Ideologia, Piketty analisa, por meio de fontes fiscais e históricas, a história da desigualdade, das propriedades e sociedades escravistas às sociedades modernas. A principal conclusão de sua análise é que a desigualdade é ideológica e política. O autor se mostra convencido a construir uma “sociedade justa” e expõe sua proposta em sua nova obra.
O presidente chinês, Xi Jinping, já havia elogiado o trabalho do economista francês. Especificamente, o livro O capital no século XXI, um livro de 700 páginas sobre teoria econômica. Elogiou o uso das evidências estatísticas de Piketty para mostrar os níveis históricos de desigualdade nos países ocidentais.
“O livro usa dados detalhados para demostrar que o grau de desigualdade nos Estados Unidos e em outros países ocidentais atingiu e ultrapassou o nível mais alto da história. Considera que o capitalismo desenfreado exacerbou a desigualdade de riqueza e continuará a se deteriorar. A análise do autor é feita principalmente no campo da distribuição e não envolve questões de propriedade mais fundamentais, mas vale a pena considerar os métodos utilizados e as conclusões tiradas", disse o Presidente da China, em maio de 2016.
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China censura o novo livro do economista francês Thomas Piketty - Instituto Humanitas Unisinos - IHU