04 Junho 2020
"Toquem, entrem, alguém vos acolherá". Assim que você chega em Bose, nas colinas de Biella, no mosteiro da discórdia, esse slogan é a primeira coisa que chama a atenção. Um chamado para ficar, para aproveitar do acolhimento, para cruzar a soleira. Essa frase também será a última coisa que o irmão Enzo Bianchi lerá antes de deixar sua comunidade "por período indeterminado". O Vaticano depois de uma longa negociação - o convenceu a fazer as malas, a dizer adeus à sua criatura, uma entidade que cresceu muito, que ficou famosa em todo o mundo por seu compromisso ecumênico e por ter se mostrado um ambiente de trocas. Por lá passaram intelectuais, políticos, o Dalai Lama, o Patriarca de Constantinopla, anglicanos e luteranos, acadêmicos e escritores.
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada por Il Messaggero, 03-06-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Fundada em meados dos anos 1960, com o impulso do Concílio Vaticano II para acolher irmãos e irmãs, em espírito de obediência, caridade e castidade, justamente como as primeiras comunidades cristãs, a Comunidade de Bose foi recentemente dilacerada internamente por uma mudança geracional que abriu profundos sulcos. No final, o irmão Enzo teve que engolir o sapo e aceitar, embora com espírito de dolorosa obediência, todas as disposições contidas no Decreto da Santa Sé de 13 de maio de 2020. Foram necessários três dias de negociação para convencê-lo a dar um passo atrás para o bem de sua criatura, para não a destruir e não dividi-la, de um lado seus fiéis partidários e do outro os do novo prior, Luciano Manicardi, por anos seu braço direito, escolhido há 3 anos para a substituição.
Algo, no entanto, não deve ter funcionado, já que logo depois começou uma queda de braço nos bastidores até a intervenção do Vaticano, que enviou três inspetores para resolver o assunto, acalmar os ânimos, diminuir a temperatura. Por um lado, Manicardi, que acusava Bianchi de não querer se afastar, trancando efetivamente o mecanismo de gestão, pelo outro Bianchi que, com seu peso e seu carisma, se opunha às decisões com medo de que alguém quisesse desnaturar Bose do que representa para a galáxia progressista. Duas noites atrás, um dos três religiosos enviados pelo cardeal Pietro Parolin para uma primeira inspeção encerrada em janeiro, encontrou um entendimento. Não haverá vencedores ou vencidos. O ex-prior Bianchi e três de seus partidários (a quem o decreto havia imposto o afastamento) concordaram em fazer as malas. Toda a comunidade foi informada da notícia enquanto estava reunida. Enquanto isso, no Vaticano, jogam água sobre o fogo. De fato, não se trata de um afastamento permanente.
Enzo Bianchi não será banido da entidade que ele próprio concebeu e construiu 55 anos atrás. Ele foi forçado a se retirar para um mosteiro diferente, distante, para que sua personalidade forte não tenha novamente a tentação de se inserir e atropelar a linha do novo prior. Quem sabe se o tempo conseguirá curar as feridas. Geralmente, dentro das entidades monásticas, os ressentimentos entre irmãos (ou irmãs) estão destinados a se manter por um longo tempo, apesar das belas palavras do evangelho que ressoam todos os dias nas capelas.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Negociação entre Bianchi e o Vaticano, depois o prior se dobra: “Deixo Bose” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU