12 Fevereiro 2020
Em ensaio publicado em uma importante revista católica on-line, uma escritora queer defende o programa australiano de educação sexual inclusiva LGBTQ. Na Eureka Street, publicação jesuíta da Austrália, Sol Kochi Carballo recorda a sua experiência de educação sexual tida em escolas católicas, privadas e públicas. Em sua iteração da educação sexual, desde a infância até a adolescência, a autora lembra que a mensagem se resumia a isto: “Não faça sexo, mas se fazer, use proteção”.
A reportagem é de Kevin Molloy, publicada por New Ways Ministry, 07-02-2020. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Essa mensagem está recebendo certa atenção na Austrália e em outras partes do mundo, na esperança de se estabelecer uma educação sexual mais abrangente, que capacite os alunos com “o conhecimento, as habilidades e os valores que tornam responsáveis as escolhas a respeito de suas relações sexuais e sociais”. As Nações Unidas, lembrada no texto por Carballo, espera que uma educação sexual abrangente proteja a saúde dos jovens, o bem-estar deles e sua dignidade, ao mesmo tempo deseja que ela empodere os participantes nas tomadas de decisão fundamentadas em valores.
No entanto, a autora do ensaio destaca que o conteúdo desta educação sexual abrangente e a formação oferecida aos professores carece de uma compreensão adequada das complexidades da sexualidade da juventude LGBTQ. Para a maioria dos programas de educação sexual, esta limitação normalmente significa ignorar o tópico como um todo, o que é problemático para os alunos LGBTQs e seus colegas héteros.
Para os jovens LGBTQs, não mencionar a sexualidade que combina com a experiência vivida por eles nega a realidade. Querendo ou não, estes jovens ouvem que a sua sexualidade não só é inaceitável, mas também não é real. Dedicar o programa de educação sexual apenas para formar alunos héteros sobre práticas seguras e uma sexualidade sadia exclui os alunos LGBTQs e normaliza a invisibilidade de que estes sofrem.
Segundo Carballo, com sua sexualidade ignorada muitas pessoas LGBTQs voltam-se à internet para aconselhamento sexual. Isto é injusto na medida em que a rede de computadores apresenta informações não confiáveis e perigosas. Criam-se dois programas de educação sexual separados: um programa de empoderamento, planejado, baseado em valores e para a saúde dos alunos héteros, e uma busca perigosa e não confiável na internet para os alunos LGBTQs.
Mesmo quando a sexualidade LGBTQ for incorporada na educação sexual, se não for feita com cuidado, sustenta a autora, ela pode servir para excluir e marginalizar os alunos LGBTQs. Trazendo presente a sua própria experiência em escolas católicas e públicas de quando era adolescente queer, Carballo observa que os professores frequentemente empregavam pronomes de segunda pessoa (“você, seu”) quando debatiam o sexo hétero e a sexualidade, normalizando aos alunos ouvintes sobre a orientação e expressão heterossexual. Para os debates da sexualidade LGBTQ, os seus educadores frequentemente falavam na terceira pessoa (“eles, deles”), isolando e marginalizando ainda mais os alunos queer.
A educação sexual, portanto, deve incluir discussões fundamentadas e planejadas sobre a sexualidade LGBTQ para que esta formação seja considerada abrangente. Carballo defende que este não é um problema só das escolas católicas e privadas, mas um problema que as escolas públicas também precisam resolver.
Se as escolas católicas levam a sério o bem-estar e a saúde sexual de seus alunos, elas trabalharão para incorporar a educação sexual inclusiva LGBTQ ao buscar implementar uma educação sexual abrangente. Não serve ao corpo discente rebaixar a existência e a realidade dos alunos LGBTQs. Discutir a sexualidade LGBTQ com candura e com o mesmo cuidado ofertado a alunos héteros não transformará – como uns temem – ninguém em gay ou transgênero. Irá, no entanto, dizer a uma comunidade já marginalizada, intimidada e excluída que ela é digna de respeito e empoderamento. Estas pessoas também podem fazer escolhas inteligentes, bem informadas e saudáveis.
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Revista jesuíta publica defesa de educação sexual inclusiva LGBTQ - Instituto Humanitas Unisinos - IHU