06 Dezembro 2019
Metz se afastou da teologia transcendental dos jesuítas em favor de uma nova teologia política.
O comentário é de Nicolas Senèze, publicado por La Croix International, 05-12-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
As intuições de Metz podem ser encontradas, em muitos aspectos, nos discursos do papa atual.
Johann Baptist Metz, considerado um dos principais teólogos da Alemanha do pós-guerra, faleceu no dia 2 de dezembro, aos 91 anos, em Münster, onde ele lecionou Teologia por 30 anos.
Com experiência em Bamberg, Innsbruck e Munique, ele presidira a cátedra de Teologia Fundamental da faculdade católica de teologia da Universidade de Münster desde 1963, quando tinha apenas 35 anos.
Discípulo de Karl Rahner, Metz se afastou da teologia transcendental dos jesuítas nos anos 1960, em favor de uma “nova teologia política”, enraizada nas práticas cristãs e de maneira semelhante à teologia da libertação, que leva em conta os sofrimentos dos pobres e dos excluídos.
“Nunca deixei de sentir o problema de Deus ressoando em mim em sua versão política – para a salvação daqueles que sofrem injustamente, dos derrotados da nossa história”, escreveu ele em 2009 na tese “Memoria Passionis”.
No contexto europeu, Metz estava preocupado com o Holocausto, pois Auschwitz aponta para um horror para o qual a teologia não encontrou nenhuma resposta.
“Um horror que despedaça todas as garantias teológicas do discurso cristão”, ele costumava dizer.
Com Joseph Ratzinger (Papa Bento XVI), ele acreditava que o mundo ocidental estava enfrentando uma crise espiritual que resultava do “esquecimento de Deus”.
Assim como Ratzinger, ele alertava contra a crescente amnésia cultural, individualismo e “ateísmo religioso”.
Embora refletindo sobre o conceito de memória, Metz se opunha ao conservadorismo. Para Metz, que foi um dos conselheiros do Sínodo Alemão no início dos anos 1970 e editor do seu principal documento, “é apenas servindo à liberdade de Jesus Cristo” que a fé cristã permanece relevante.
Ele foi impulsionado pelo caráter político do cristianismo como uma “religião com uma face voltada para o mundo”.
“A nova teologia política procurou romper criticamente com a autoprivatização com a qual a teologia reage com mais frequência à modernidade europeia. Assim, de certa forma, ela se apresenta como um programa de desprivatização”, escreveu.
“O discurso sobre Deus não é mais claro para todos”, advertiu o homem que havia sido especialista do Secretariado para os Não Cristãos de Roma.
Ele pedia uma melhor transmissão da mensagem divina e deixava espaço para o “sagrado”, que ele se recusava a ver como “a canção de ninar da religião burguesa, perfeitamente adaptada à modernidade”.
Essa abordagem seria oposta à de Ratzinger, que foi acusado de “reduzir o cristianismo pela metade” ao substituir o espírito judeu apocalíptico por um espírito metafísico grego.
“O Deus de Jesus Cristo não é uma ideia platônica eterna”, enfatizava aquele que o cardeal Ratzinger, então arcebispo de Munique, proibiu de fazer parte do corpo docente da universidade da cidade em 1979.
Isso não restringirá a influência mundial de um teólogo cujas intuições podem ser encontradas, em muitos aspectos, nos discursos do papa atual.
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Metz: o problema-Deus em versão política - Instituto Humanitas Unisinos - IHU