28 Outubro 2019
O Arcebispo de Viena: "O homem sozinho não tem forças para evitar a destruição do planeta". Prudência sobre os viri probati e progresso sobre o papel das mulheres.
A entrevista é publicada por Corriere della Sera, 26-10-2019. A tradução é de Luisa Rabolni.
“Nestes dias estou relendo o profeta Jeremias. Ele continuava a dizer: vamos direto para o desastre, convertei-vos, mudem sua vida, ainda há tempo. Mas ninguém acreditou nele." O cardeal Christoph Schönborn, 74 anos, arcebispo de Viena e grande teólogo dominicano, senta-se absorto no salão Paulo VI antes da sessão da tarde do Sínodo sobre a Amazônia. O Papa o nomeou na comissão de redação do documento final que será votado no sábado. O cardeal olha para suas anotações: "O que me impressiona é que o grito mais dramático veio dos especialistas".
E o que eles disseram, Eminência?
Na última das palestras, o grande climatologista Hans Schellnhuber disse simplesmente: ‘A evidência científica é de que a destruição da floresta amazônica é a destruição do mundo’. Assim, de chofre. E esse apelo dramático é o que este Sínodo quer e deve dizer ao mundo inteiro, sobretudo ao mundo rico e industrializado.
Como?
Um bispo amazônico observou: vocês europeus querem que nós protejamos a floresta, mas vocês não querem mudar vosso estilo de vida. Se há um fio condutor no documento final, é a palavra ‘conversão’, tantas vezes repetida pelo Papa Francisco. Conversão ecológica, conversão cultural, conversão social, conversão pastoral....
No texto grego dos Evangelhos, conversão é “metanoia”, significa literalmente “mudar o modo de pensar” ...
Está certo. A conversão começa com o pensamento e se mostra na atitude. A urgência da conversão ecológica, a proteção da criação, é inseparável de outras duas urgências que este Sínodo relevou. A proteção das minorias, acima de tudo. A situação dos povos indígenas e seu destino ameaçado foi um grande tema da assembleia. E mesmo nesse caso, como Schellnhuber disse, a Amazônia é o ‘caso teste’ para todo o planeta. E depois há o terceiro grito.
Qual?
A conversão social, a justiça social. A situação de uma economia que destrói e mata, como o Papa Francisco havia dito, e literalmente mata. Um bispo local nos contou sobre um vilarejo chamado "Trecentos": ele descobriu que esse nome lembra trezentos trabalhadores rurais assassinados pelo proprietário da empresa que os usava como escravos. Existe uma economia agrária e extrativista que não tem nenhum respeito nem pela natureza nem pelas pessoas.
Muitos negam as mudanças climáticas ou são indiferentes. O que a Igreja pode fazer?
Mesmo no Sínodo, após a intervenção do professor Schellnhuber, alguns disseram: sei não, dramatiza ... Eu não os acuso, é humano, eu também sinto esse pensamento em mim, ‘não pode ser tão dramático!’. Para isso, devemos chegar a uma quarta conversão, a pastoral: o desafio da evangelização. Porque sem o sentido de Cristo, de sua Cruz e ressurreição, sem a força do Evangelho, não teremos a força para mudar a vida.
Você está dizendo que não se pode realizar de outra forma?
Sim. Humanamente nunca teremos forças para nos convertermos, porque isso envolve sacrifícios, renunciar a um determinado estilo de vida, escolhendo a solidariedade. Tudo isso não é possível se eu sou o centro do mundo. O evangelho me diz, ao contrário, que o outro, o pobre e o necessitado, são a porta da salvação.
O que diria aos católicos conservadores que imaginavam uma concessão do Sínodo aos "ídolos pagãos"?
O cristianismo em sua história sempre integrou. Purificou e integrou.
Muito foi dito sobre a ordenação sacerdotal dos "viri probati", homens idosos casados, para compensar a falta de clero. A maioria dos padres sinodais amazônicos pede isso, por outro lado, há fortes resistências. O que vai acontecer?
Acredito que isso será falado de maneira prudente: primeiro se deve começar com os diáconos permanentes, depois veremos. Aquela dos diáconos permanentes é uma possibilidade que sempre existiu na Igreja, relançada pelo Concílio Vaticano II. Em Viena, por exemplo, temos 180, a maioria casados e prestam serviço nas paróquias e nas comunidades .
E as mulheres?
Excluído pelos Papas, o sacerdócio – ‘essa porta está fechada’ Francisco repetiu - falava-se de um diaconato ou de ‘ministérios’ ... ‘O tema das mulheres diaconisas está sendo estudado, existem diferentes posições sobre o que fosse o diaconato feminino nos primeiros séculos cristãos, o magistério dará uma resposta. Mas, enquanto isso, eu vejo a realidade concreta. Em uma região como a Amazônia, nos explicaram que a maioria das comunidades é administrada por mulheres. Mas cada vez mais, mesmo em outros lugares, as comunidades são totalmente abertas às mulheres, inclusive em posições de responsabilidade. Em Viena, temos muitas em cargos de direção, existem assistentes pastorais que presidem a liturgia da palavra nas igrejas onde não há missa dominical, mulheres que celebram funerais, catequistas ... Afinal, o pároco é o responsável principal, mas não é um monarca: existe um trabalho em equipe. Na formação dos futuros sacerdotes, será importante que desde o começo aprendam como o serviço presbiteral é de comunhão. A experiência da Amazônia, nesse sentido, é exemplar.
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Amazônia, o Cardeal Schönborn: “O grito do Sínodo: conversão ecológica para salvar o mundo” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU