16 Agosto 2019
Com a diminuição de vocações sacerdotais, especialmente no Ocidente, o grito por mulheres diaconisas está ganhando força, embora haja o medo de que um diaconato de ambos os gêneros possa servir para reforçar o clericalismo na igreja.
A reportagem é de Rita Joseph, publicada por National Catholic Reporter, 14-08-2019. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
O Papa Francisco não se opôs totalmente à ideia. Ele afirmou que não pode ordenar mulheres como diaconisas sem um fundamento histórico e teológico.
O pontífice criou uma comissão no Vaticano, em 2016, para estudar a tradição de mulheres diaconisas na Igreja Católica, por um pedido da União Internacional de Superiores Gerais. Todavia, a Comissão não conseguiu chegar a um consenso e lhes foi dito para continuar seus estudos individualmente.
Especialistas em teologia, na Índia, não estão otimistas com os resultados.
A teóloga feminista Kochurani Abraham, de Kerala disse, em entrevista por telefone, que as Escrituras apontam referências bíblicas e teológicas para mulheres diaconisas, particularmente na Carta de Paulo aos Romanos, capítulo 16, na qual menciona Febe, uma mulher que serviu como diaconisa.
Virigina Saldanha, de Mumbai, uma líder do Movimento de Mulheres Indianas Cristãs, questionou por que as mulheres não estão prontas para serem ordenadas diaconisas.
“Por que não temos mulheres diaconisas quando a maioria das igrejas no Ocidente está funcionando por causa de mulheres que fazem o trabalho de diáconos?”, disse ela, em entrevista por telefone. Ela citou o exemplo de Ludwien Mortier, uma assistente de pastoral que tem trabalhado na Paróquia Sagrada Família, em Liège, Bélgica, nas últimas duas décadas.
Mortier faz tudo que o pároco deve fazer, exceto consagrar as hóstias e ouvir a confissão. Ela conduz funerais, liturgias eucarísticas, prepara as crianças para o sacramento da catequese; com 80 anos de idade, o padre visita apenas em certas ocasiões para consagrar a Eucaristia.
As pessoas da paróquia estão felizes com o serviço de Mortier, mesmo ela não tendo sido ordenada diaconisa. Essa é uma “absoluta injustiça” com as mulheres, diz Saldhana.
Um survey feito no último ano pelo Centro de Pesquisa Aplicada no Apostolado, na Georgetown University, relatou que 72% dos superiores de ordens religiosas, femininas e masculinas, são a favor da ordenação de mulheres como diaconisas.
“As freiras estão fazendo o trabalho de diaconisas e muito mais. Com essa denominação somente serão mais exploradas e terão muito mais deveres sem reconhecimento”, disse ela.
A concepção é que mesmo se mulheres sejam ordenadas diaconisas permanentes, elas não estarão em posições de liderança ou envolvidas nas tomadas de decisões políticas da Igreja, disse Abraham.
Dra. Astrid Lobo Gajiwala, de Mumbai, uma teóloga e ativista, assessora dos bispos indianos sobre a temática das mulheres e pesquisadora de ética médica, disse: “Nós não precisamos de diáconos de ambos os sexos. Isso somente levará ao clericalismo, que é um flagelo da Igreja”.
“Como diaconisas, as mulheres deveriam ser elevadas na hierarquia e prestar contas ao clero. Isso pode ser desastroso para as mulheres, porque o serviço delas é frequentemente explorado e reduzido à servidão. O poder do espaço de trabalho aliado ao poder espiritual é uma combinação perigosa, como nós vimos em casos de abuso sexual do clero”, disse ela.
Sra. Rekha M. Chennattu, superiora-geral dos Religiosas da Assunção, em seu artigo “Women in the Mission of the Church – An Interpretation of John 4” [Mulheres na Missão da Igreja – Uma interpretação de João 4], afirma que “está crescendo uma consciência entre nós, hoje, de que as mulheres não recebem um lugar de direito pleno na exegese bíblica e na teologia, e na vida e missão da Igreja”.
“Essa exclusão frequentemente se justificou pelas Escrituras. É geralmente aceito que a leitura das Escrituras não é neutra, e as interpretações não são livres de pressuposições. Além disso, textos bíblicos foram ideologicamente enviesados contra as mulheres; alguns textos são traduzidos e interpretados erroneamente pelos exegetas. Assim, a Bíblia se tornou uma importante e legitimadora fonte de exclusão e alienação das mulheres da missão da Igreja”.
A mulher samaritana descrita em João 4 toma a iniciativa na missão de proclamar Jesus sem procurar a aprovação de ninguém e sem esperar a permissão de ninguém, ela afirma.
Então há paróquias onde as religiosas e paroquianas estão executando serviço do pároco, mas nenhuma é ordenada, disse Gajiwala. Jesus não ordenou padres. A teologia que sustenta a ordenação dos homens foi criada por homens ordenados no poder para “justificar e proteger seu próprio poder sobre a Eucaristia e o perdão dos pecados e, portanto, sobre a congregação”, disse ela.
"É ridículo estar vinculado a práticas patriarcais que viam as mulheres como ‘pecadoras, sedutoras e cidadãs de segunda classe’", disse a teóloga.
"Uma das razões subjacentes à proibição da ordenação das mulheres é a noção de que as mulheres são impuras porque menstruam. As mulheres menstruadas não podiam se aproximar do altar, muito menos segurar a Eucaristia", disse Gajiwala.
Benedicta Lobo, uma professora aposentada que agora ensina catecismo, perguntou: "uma vez que homens casados podem ser ordenados diáconos, por que mulheres não?". Ela disse que o Papa Francisco afirmou que valoriza o "gênio feminino", mas ela se perguntou “por que ele não vai permitir que se penetre plenamente na liderança da igreja".
Gajiwala é também da opinião de que deve ser dado às mulheres um papel de liderança na igreja. "As mulheres estão governando o mundo, por que a Igreja deve ser uma exceção? No entanto, não precisamos de diaconisas para que as mulheres façam parte da tomada de decisão na Igreja", enfatizou.
"As mulheres formam 50% da igreja e são a maioria nos bancos. Elas seguram a igreja. O que os bispos parecem não perceber é que, se as mulheres saíssem, não haveria igreja. Não só por causa de seu número, mas também porque as mulheres ensinam aos jovens a sua fé; portanto se elas saírem, seus filhos irão com elas", disse ela.
O Sínodo dos Bispos para a região Pan-Amazônica, que ocorrerá de 6 a 27 de outubro no Vaticano, discutirá a possibilidade de ordenar homens casados como padres. Devido a uma escassez aguda de sacerdotes, os povos indígenas da Amazônia estão tendo negados a Eucaristia e os sacramentos.
Chennattu escreveu em seu artigo, "as culturas patriarcais consideram as mulheres como psicologicamente sentimentais, intelectualmente inferiores, socialmente marginais, religiosamente impuras e culturalmente insignificantes e, portanto, incapazes de liderar".
Isso talvez seja a premissa oculta do Vaticano para a ordenação de apenas homens como diáconos e do seu próximo Sínodo para considerar a ordenação de homens casados ao sacerdócio.
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Teólogas indianas afirmam que mulheres diaconisas poderiam criar progresso e retrocessos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU