08 Mai 2019
Sonhar sempre, sonhar grande, sonhar junto. E como os "cinzeladores" que transformam pedras brutas em esculturas, transformar assim a própria vidas, muitas vezes ameaçada pela discórdia, pouca esperança e "colonizações ideológicas", em uma obra de arte. O rosto de Francisco, chegando ao penúltimo compromisso da viagem apostólica à Macedônia do Norte, está visivelmente cansado, mas reaviva-se ao falar com cerca de 1.500 jovens do país balcânico de todas as denominações cristãs e de outras religiões.
A reportagem é de Salvatore Cernuzio, publicada por Vatican Insider, 07-05-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
O encontro acontece no centro pastoral de Skopje, onde grupos de jovens se apresentam em cantos e danças. O papa aplaude e sorri, depois convida um menino sentado na primeira fila a se aproximar dele para abraçá-lo e acena para os outros meninos. Depois escuta atentamente os três testemunhos.
O primeiro é o de Dragan e Marija, ele católico, ela ortodoxa, que se casaram depois de nove anos de convivência encorajados pelas palavras do Papa durante a visita de 2015 a Sarajevo. Depois, segue o testemunho de Bozanka, uma estudante greco-católica de medicina, e de Liridona Suma, muçulmana, que sonha com "um mundo em que reinem relações sinceras e abertas entre os indivíduos e as comunidades, entre os povos e entre as religiões". "Talvez eu sonhe demais? Podemos nós, jovens muçulmanos e cristãos, trabalhar juntos pelo bem comum?” pergunta a jovem.
Uma pergunta que sensibiliza o Papa, que lembra como o mesmo desejo animou a elaboração e a assinatura do "Documento sobre a Fraternidade Humana", assinado em Abu Dhabi com o grande imã de Al-Azhar: "Liridona, sonhou grande ... também eu tive um sonho muito parecido com o seu com um amigo, o grande imã de Al-Azhar Ahmad Al-Tayyeb" e "que nos levou a querer nos compromissar e a assinar juntos um documento que diz que a fé deve levar os crentes a ver no outros irmãos que devemos apoiar e amar sem nos deixarmos manipular por interesses mesquinhos", diz o Papa.
"Sonhar nunca é demais", continua ele, "um dos principais problemas de hoje e de tantos jovens é que perderam a capacidade de sonhar" . E quando "uma pessoa não sonha, quando um jovem não sonha, esse espaço é ocupado pela lamentação e pela resignação". Bergoglio cria uma nova figura: a "deusa lamentação". Atenção, ele diz aos jovens, "é um engano: faz com que te encaminhes pela estrada errada".
O pontífice reitera aos jovens o convite para se tornarem artesãos da esperança. “Que maior adrenalina do que se empenhar todos os dias, com dedicação, a serem artesãos de sonhos, artesãos de esperança? Os sonhos nos ajudam a manter viva a certeza de saber que outro mundo é possível e que somos chamados a nos envolver nele e a fazer parte dele com nosso trabalho, com nosso compromisso e nossa ação".
Daí uma nova metáfora que se baseia na antiga tradição da Macedônia do Norte, a dos "cinzeladores", "habilidosos em cortar a pedra e trabalhá-la". Pois bem, "é preciso fazer como aqueles artistas e tornar-se bons cinzeladores dos próprios sonhos. Um cinzelador toma a pedra nas suas mãos e, lentamente, começa a moldá-la e transformá-la, com dedicação e esforço e sobretudo com uma grande vontade de ver como aquela pedra, pela qual ninguém daria nada, se torna uma obra de arte”, enfatiza o Pontífice.
O importante é jogar-se e arriscar: nunca se deve "ficar bloqueado pela insegurança" ou ter medo de "cometer erros". "Mesmo se você cometer erros, você sempre pode levantar a cabeça e começar de novo, porque ninguém tem o direito de roubar sua esperança", afirma o Papa Francisco. Pior é "viver paralisado, como mortos-vivos, reduzidos a sujeitos que não vivem porque não querem arriscar, porque não perseveram em seus compromissos ou têm medo de cometer erros".
Madre Teresa – sempre presente em todos os discursos do Papa de hoje - é um exemplo disso. Ela, que se definia um "lápis de Deus", "quando vivia aqui, não poderia imaginar como teria sido sua vida, mas nunca parou de sonhar e trabalhar duro para sempre tentar descobrir o rosto de seu grande amor, Jesus, em todos aqueles que ficaram à margem da estrada". A santa sonhava grande: "Ela queria ser ‘um lápis nas mãos de Deus’. E Deus começou a escrever páginas inéditas e estupendas com aquele lápis”.
O Bispo de Roma também recomenda sonhar juntos: "Não sozinhos, pois se corre o risco de ter miragens. Mas com os outros, nunca contra os outros". E incita o "cara a cara" especialmente nesta "era de conexões" na qual, no entanto, "pouco sabemos sobre comunicações": "Muito conectados e pouco envolvidos uns com os outros. Porque se envolver exige a vida, exige estar ali e compartilhar bons momentos ... e outros menos bons", ressalta o Papa.
O mesmo "cara a cara" é fundamental que se realize entre jovens e idosos: "Ouçam as longas histórias de seus avós, que por vezes parecem fantasiosas, mas, na realidade, estão cheias de preciosa experiência”. Porque, explica Francisco, afastando-se do discurso preparado, "são as raízes de vossa história, do vosso povo, das vossas famílias. Se as raízes são cortadas de uma árvore, essa árvore morre. Se vocês jovens cortarem vossas raízes, que são as histórias do vosso povo, vocês morrerão".
Novamente de improviso, o Papa Francisco adverte os jovens contra as "contas coloridas". Como os europeus colonizadores enganavam os índios norte-americanos fazendo-os comprar peças sem valor mentindo que eram novidades, também hoje "há os conquistadores, os colonizadores que nos trarão contas coloridas: são as colonizações ideológicas". E virão até vocês e dirão: não, vocês devem ser um povo mais moderno, mais adiantado, que vai em frente, peguem isso, sigam esse caminho, esqueçam as coisas velhas”. Deve-se então discernir: "O que essa pessoa me traz, é uma coisa boa que está em harmonia com a história do meu povo? Ou são contas coloridas?
Antes de concluir, o Papa chama a atenção dos presentes para uma jovem grávida sentada na primeira fila: "Esta mulher arriscou trazer uma criança ao mundo porque olha para a frente, olha a história. Porque ela se sente com a força das raízes para levar a vida adiante, para levar adiante a pátria, para levar adiante o povo. E todos terminemos com um aplauso para todas as jovens mulheres, para todas as mulheres corajosas que levam a história adiante".
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Francisco aos jovens: "Sonhem e arrisquem, não vivam paralisados como mortos-vivos" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU