01 Novembro 2018
Da Amazônia, o bispo de Parintins, Dom Giuliano Frigeni, fala no “dia seguinte” à eleição no Brasil. Até em Manaus – a metrópole na fronteira da floresta – Haddad saiu derrotado. “Como presidente, que ele [Bolsonaro] saiba assumir a responsabilidade de preservar a beleza que existe dentro desta terra.”
A reportagem é de Giorgio Bernardelli, publicada em Mondo e Missione, 29-10-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“Eu disse às pessoas na missa do domingo, dia das eleições: nós já temos um Pai, não precisamos nem dos paternalistas nem dos salvadores da pátria...” Também em Parintins – no coração da Amazônia – é o dia de Bolsonaro, e Dom Giuliano Frigeni, missionário do PIME no Brasil desde 1979 e bispo dessa diocese há quase 20 anos, não escapa da inevitável pergunta sobre a eleição de Jair Bolsonaro à presidência do Brasil.
Até na Amazônia, no fim, Haddad, o candidato do PT, recebeu menos votos do que o ex-militar, pelo qual se inclinou Manaus, a metrópole às margens da floresta. Até mesmo nas “invasões” – os assentamentos mais pobres nas novas periferias da cidade que continuam crescendo – despontavam as bandeiras com o número 17 e o rosto de Bolsonaro na véspera da eleição.
Até mesmo o governador cessante do Amazonas foi derrotado. Em seu lugar, à frente do governo local, estará Wilson Lima, um jornalista que, já na campanha eleitoral, havia se aliado ao candidato eleito presidente do Brasil.
“O povo brasileiro escolheu confiar em pessoas novas em relação às quais fazíamos muitas perguntas hoje”, comentou Dom Frigeni em uma entrevista a Mondo e Missione e à Tv2000. “Que respostas eles realmente darão? Mas o que vem à tona claramente é sobretudo o sentimento da confiança traída por parte de quem governou o Brasil nesses anos. As muitas esperanças depositadas pelo povo em Lula se dispersaram, o assistencialismo e a corrupção as minaram na raiz.”
Bolsonaro, no entanto – a partir de 1º de janeiro, quando oficialmente assumirá o cargo – também deverá dar prova dos fatos: “O que dá medo é a ousadia de algumas das suas afirmações”, continua o bispo de Parintins. “As simplificações de uma realidade complexa: governar o Brasil não é liderar um país, é um continente de mil rostos que devem ser respeitados. A esperança é que agora ele saiba ir além da superficialidade da linguagem da campanha eleitoral. Mas muito vai depender dos homens que ele escolher ter ao seu lado. E quem eles serão é outro aspecto que ainda não está claro. Uma coisa é certa: será das periferias do Brasil que veremos para quem ele estará trabalhando.”
E é precisamente aqui que entra em jogo a questão da Amazônia: “As suas declarações sobre as reservas indígenas a serem limitadas ou sobre o tipo de exploração dos seus recursos certamente preocupam”, explica o bispo de Parintins. “Mas esperamos que, como presidente, ele saiba assumir a responsabilidade de preservar a beleza que existe dentro desta terra e que qualquer projeto dominador correria o risco de destruir.”
Para Bolsonaro, no entanto, o verdadeiro desafio começa agora: “Ele teve sucesso porque utilizou uma linguagem semelhante à das pessoas comuns”, conclui Dom Frigeni. “Mas será bom lembrar o que o Papa Francisco diz: se alguém fala em nome de um povo, mas não o escuta realmente, corre o risco de se transformar em um tirano.”
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
''Das periferias, veremos quem Bolsonaro realmente é'', afirma bispo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU