Viganò volta a mentir. Desta vez, sobre o encontro que organizou durante a viagem de Francisco aos Estados Unidos, em 2015, uma das causas, segundo confessou o Pontífice a Juan Carlos Cruz, de sua saída da Nunciatura.
A reportagem é publicada por Religión Digital, 03-09-2018. A tradução é do Cepat.
Ao longo do fim de semana, o arcebispo insistiu em que o Papa conhecia perfeitamente, e abonou, o encontro que organizou com a ativista ultracatólica Kim Davis, conhecida por sua cruzada contra os gays, que foi utilizada pelo lobby estadunidense para pretender que o Papa aprovava sua luta. Davis era uma empregada do registro civil de Kentucky que se negou a casar pessoas do mesmo sexo.
Tal e como Francisco confessou a Cruz, essa reunião foi uma punhalada, mais uma, de Viganò, e a gota que entornou o copo. O ex-núncio não demorou em responder a isto, destacando que o Papa aprovou o encontro de antemão e que não houve mais que elogios para a sua organização da viagem à América do Norte.
No entanto, em um comunicado conjunto emitido à noite, o anterior porta-voz da Santa Sé, Federico Lombardi, e seu auxiliar em inglês, Thomas Rosica, transcreveram os apontamentos manuscritos de uma reunião que ambos mantiveram com Viganò na noite posterior ao affaire com Kim Davis. Em tais apontamentos, o ex-núncio lhes confessou que Francisco o havia repreendido por “enganá-lo” com o encontro com Davis, e por ter ocultado o fato de que a mulher havia se casado quatro vezes.
No comunicado, Lombardi apontou que Viganò tomou a iniciativa para o encontro com Davis, que deveria saber que provocaria uma grande rejeição e que embora funcionários do Vaticano o aprovaram, não estavam bem informados sobre a repercussão que teria semelhante encontro.
A reunião com a ativista adquiriu nova importância após as denúncias de Viganò, de que informou a Francisco sobre os abusos de McCarrick, no dia 23 de junho de 2013, mas que o Papa, segundo ele, o reabilitou das sanções que, também segundo ele, tinham sido impostas por Papa Bento XVI, em 2009 ou 2010.
Não existem provas de que essas sanções teriam sido aplicadas, já que nesses anos McCarrick realizava seu ofício de maneira muito pública e viajava pelo mundo em missões para a igreja. Viganò disse que Francisco deveria renunciar por sua suposta cumplicidade no acobertamento dos abusos de McCarrick, que se prolongou durante duas décadas.
Francisco retirou o chapéu cardinalício de McCarrick em julho passado, quando uma investigação estadunidense determinou que a denúncia de que abusou de um adolescente nos anos 1970 era credível.
Rosica disse que nenhum hierarca do Vaticano participou da redação de sua declaração com Lombardi, mas que informou ao secretário de Estado, Pietro Parolin, e ao ‘ministro do exterior’, Richard Gallagher.
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