04 Mai 2018
Consórcio internacional analisa políticas de 23 países e conclui que carvão mantém níveis perigosos de investimento; Brasil recebe críticas por repique do desmate.
A reportagem é publicada por Observatório do Clima, 03-05-2018.
As energias renováveis seguem avançando a passos largos nas maiores economias do mundo, mas esse avanço é insuficiente para conduzir o planeta à segurança climática – e segue tendo a concorrência desleal do carvão, o mais sujo dos combustíveis fósseis. A conclusão agridoce é de um consórcio internacional de pesquisadores que monitora as políticas climáticas globais.
O CAT (Climate Action Tracker) divulgou sua última avaliação nesta quinta-feira (3), durante a reunião em Bonn, Alemanha, que prepara o terreno para a COP24, a conferência do clima de Katowice, na Polônia, no fim deste ano.
Foi analisado o progresso da ação climática nos últimos seis meses em 23 países, todos pesos-pesados das emissões globais. O otimismo que havia na análise anterior, quando a projeção de aquecimento global neste século foi revisada de 3,6oC para 3,4oC, desapareceu. Em seu lugar os pesquisadores do CAT expressaram preocupação com a persistência de investimentos em carvão em vários países.
“Há um nível decepcionante de investimentos em novas usinas a carvão em países como Japão, Indonésia e Turquia”, disse Bill Hare, da Climate Analytics, uma das integrantes do consórcio CAT.
Ele lembrou que, nos cenários de estabilização do aquecimento em 1,5oC, meta mais ambiciosa do Acordo de Paris, o carvão é eliminado da matriz energética global em 2050.
O andar da carruagem, neste momento, não aponta nesta direção: além dos países citados por Hare, a China, maior emissor do mundo – que vem adotando uma política consistente de eliminação do carvão como medida para combater a poluição do ar – teve aumento no uso desse combustível no ano passado. E o segundo maior emissor, os EUA, está adotando políticas para ressuscitar o carvão contra as tendências econômicas. “O carvão simplesmente não está saindo do mercado rápido o bastante”, disse Hare.
Por outro lado, as renováveis seguem batendo recordes de redução de preço e fazendo as emissões caírem em países como Chile, Argentina e, apesar de Donald Trump, nos Estados Unidos.
“Revisamos a projeção de emissões dos EUA para 2030. Ela é 5% menor agora do que há cinco meses”, disse Niklas Höhne, do New Climate Institute, outro membro do consórcio. “Isso vai na total contramão de políticas do governo como tarifas para a importação de painéis solares, enfraquecimento do Plano de Energia Limpa e expansão do petróleo e gás offshore”, continuou. Segundo Höhne, as políticas recentes de Trump ainda não se refletiram nas projeções de emissões dos EUA, mas isso pode acontecer em breve.
O Brasil foi um dos países criticados pelo CAT. Segundo a análise, o país este “retrocedendo” nas promessas de redução de desmatamento. “O progresso notável na redução da velocidade do desmatamento e das emissões decorrentes, observado desde 2005, parece ter parado”, afirma a análise, citando o aumento de 50% no desmatamento na Amazônia entre 2015 e 2016.
O consórcio reconhece que a taxa voltou a declinar em 2017 na Amazônia, mas diz que há incerteza sobre outras regiões e que os incêndios florestais têm sido uma preocupação.
O Climate Action Tracker também critica os sinais trocados mandados pelo governo federal sobre florestas, como a legalização da grilagem, a tentativa de reduzir áreas protegidas e os cortes orçamentários no Ministério do Meio Ambiente.
“O governo brasileiro precisa com urgência reforçar a mitigação nesse setor [florestas] e não enfraquecê-la”, dizem os pesquisadores.
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