02 Dezembro 2017
O pontífice não citou o povo perseguido para não criar atritos com a Birmânia, mas elogiou Dhaka pela “generosidade que o mundo apreciou”. Depois, lembrou o atentado do ano passado.
A reportagem é de Paolo Rodari, publicada por La Repubblica, 30-11-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Ele elogiou o “espírito de generosidade” e o “impulso humanitário” com o qual Bangladesh se consumiu “em favor dos refugiados que afluíram em massa do Estado de Rakhine, provendo-lhes um abrigo temporário e as necessidades primárias para a vida”. “Isso foi feito com muito sacrifício”, disse. “E foi feito diante dos olhos do mundo inteiro.”
Ao mesmo tempo, pediu que “a comunidade internacional implemente medidas eficazes contra essa grave crise, não só trabalhando para resolver as questões políticas que levaram ao deslocamento massivo de pessoas, mas também oferecendo imediata assistência material a Bangladesh no seu esforço para responder de forma eficaz às urgentes necessidades humanas”.
O Papa Francisco aterrissou em Dhaka, a imensa capital de Bangladesh, com os seus quase 16 milhões de habitantes, quando, no palácio presidencial, perante as autoridades, a sociedade civil e o corpo diplomático, usou palavras em defesa da minoria islâmica do Estado de Rakhine, muito perseguida pelo governo da ex-Birmânia e forçada a fugir para o outro lado da fronteira. E, embora tenha preferido não usar o termo Rohingya, tão impopular às autoridades birmanesas, as suas palavras pelos “refugiados” são um passo à frente em relação àquilo que ele disse nos últimos dias em Rangoon e Nay Pyi Daw.
Francisco lembrou os critérios fundadores que inspiraram o xeique Mujibur Rahman, o primeiro-ministro de Bangladesh depois da independência alcançado em 1971. Em 15 de agosto de 1975, um grupo de oficiais do Exército invadiu a capital e a residência presidencial, com algumas divisões mecanizadas e mataram Mujib, parte da sua família e do pessoal de serviço. Ele, lembrou Francisco, imaginava Bangladesh como “sociedade moderna, pluralista e inclusiva”, uma sociedade em que “cada pessoa e cada comunidade pudessem viver em liberdade, paz e segurança, no respeito pela inata dignidade e igualdade de direitos de todos”.
Para o bispo de Roma, as diversidades são um valor, um bem a se salvaguardar: “Somente através de um diálogo sincero e do respeito pela legítima diversidade – disse – é que um povo pode reconciliar as divisões, superar perspectivas unilaterais e reconhecer a validade de pontos de vista diferentes. Porque o verdadeiro diálogo olha para o futuro, constrói unidade no serviço do bem comum e está atento às necessidades de todos os cidadãos, especialmente dos pobres, dos desfavorecidos e daqueles que não têm voz”.
O Papa Bergoglio também lembrou o “brutal atentado terrorista do ano passado aqui em Dhaka”. Ele ocorreu na noite de 1º de julho. Sete terroristas islamistas abriram fogo dentro do restaurante Holey Artisan Bakery, localizado no bairro diplomático de Gulshan, na capital, não muito longe da Embaixada italiana. Depois de jogar algumas granadas, tomaram como reféns algumas dezenas de clientes e mataram dois policiais. Vinte e dois civis e cinco terroristas morreram durante o ataque.
Francisco lembrou, a esse respeito, a “clara mensagem enviada pelas autoridades religiosas da nação segundo a qual o santíssimo nome de Deus nunca pode ser invocado para justificar o ódio e a violência contra outros seres humanos, nossos semelhantes”.
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Papa Francisco sobre os Rohingya: ''É preciso resolver a crise dos refugiados'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU