Por: Lara Ely | 05 Outubro 2017
Após o governo chileno endurecer a repressão com os mapuches ao aplicar o Plano Furacão, responsável pela detenção de cidadãos acusados pela queima de caminhões na região sul do país, o subsecretário do interior de Michele Bachelet, Mahmud Aleuy, pede a saída do governo há dois meses das eleições presidenciais. Ele alegou que a presidente descumpriu o acordo que estava vigente com os indígenas – de que a Lei antiterrorista não seria reaplicada como fez durante seu primeiro mandato entre 2006 e 2010.
Um dos impasses ocorre na região de Araucanía, a 700 quilômetros de Santiago, onde se vive há décadas um enfrentamento violento entre índios, latifundiários e empresas agrícolas e florestais. Em julho de 2016 um grupo de mapuches atacou uma igreja evangélica na localidade de Padre das Casas. No interior do templo, adultos e crianças celebravam uma cerimônia. O governo de Bachelet aplicou a Lei Antiterrorista contra os quatro acusados: Alfredo Trancal e os irmãos Benito, Pablo e Ariel Trangol. Presos de forma preventiva há mais de um ano e três meses, eles estão em greve de fome desde o dia 7 de junho de 2017 e são acusados de empreender um “incêndio terrorista” em um processo repleto de incoerências lógicas e jurídicas. O episódio segue o fluxo do que ocorre nos últimos quatro anos, quando ataques a igrejas e equipamentos florestais são geralmente reivindicados pelo "Weichan Auka Mapu", ou "Luta do território rebelde", um novo grupo mapuche radical.
Pouco antes do início da greve de fome, Bachelet fez um pedido de perdão pelos "erros e horrores" cometidos contra o povo mapuche, em uma tentativa de começar a saldar uma antiga dívida com a maior etnia chilena. Entre outras medidas, a presidente anunciou o Plano de Reconhecimento e Desenvolvimento da Araucanía, que inclui a criação do Ministério dos Povos Indígenas e o Conselho de Povos Indígenas, oficializa o uso do mapudungún, a língua mapuche, na região e estabelece o Dia Nacional dos Povos Originários. São ações que, apesar de demonstrarem uma tendência da esquerda de estar ao lado da luta indígena, não apontam um real apoio do governo à causa.
Considerados os primeiros habitantes do Chile e de parte da Argentina, os mapuches lutaram contra os conquistadores espanhóis até que, no final do século XIX, foram submetidos pelo Exército chileno à chamada "pacificação de Araucanía". Reduzidos a 700 mil pessoas, dos 17 milhões de habitantes do Chile, em sua maioria moram em pequenas comunidades nas regiões da Araucanía, Los Ríos e uma parte vive em Bio-Bio.
Esse não é o único nem o primeiro caso de ataque ao povo mapuche. Na Argentina, há cerca de dois meses, o jovem Santiago Maldonado foi forçadamente desaparecido pelo Estado e seu aparato repressivo, a polícia. Ativista da causa mapuche do outro lado da cordilheira, Maldonado lutava contra a tomada de terras de povo originário pela empresa Benetton.
Infelizmente, tampouco foi o primeiro caso de desaparecimento forçado. O jovem José Huenante, também está desaparecido, desde 2005, pelas mãos do Estado chileno. Os casos de perseguição e criminalização são inúmeros, demonstrando o caráter repressivo dos Estados que assim reafirmam as políticas coloniais e racistas, negando e atacando a cultura de seu povo originário.
Além do Chile, o sumiço do ambientalista identificado com a causa mapuche envolve países vizinhos, como Argentina e Uruguai. Tanto que a Comissão interamericana de Direitos Humanos da OEA dedicará uma reunião no próximo dia 26 em Montevideo, para analisar o desaparecimento de Maldonado.
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Chile. A tensa relação do Estado com os mapuche - Instituto Humanitas Unisinos - IHU