01 Agosto 2016
Nesta sexta-feira, dezenas de milhares de jovens vindos do mundo inteiro reinventaram a tradicional Via Sacra para o Papa Francisco, recordando não somente os últimos momentos dolorosos da vida de Jesus Cristo como também encenando como o seu sofrimento continua na vida das pessoas de hoje.
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada por National Catholic Reporter, 29-07-2016. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Usando uma dança dramática para mostrar a separação causada pelas prisões e mesmo uma parede de escalada para comparar a necessidade de perdoar as ofensas a fim de seguirmos em frente após um tropeço, os jovens presentearam o pontífice com o que chamaram de “A Via da Misericórdia”.
Enquanto carregavam uma grande cruz de madeira ao longo do Parque Blonia, na cidade de Cracóvia, os participantes relacionaram cada uma das 14 Estações da Cruz a uma obra corporal ou espiritual da misericórdia: desde alimentar os famintos e confortar os aflitos a aconselhar os ignorantes e suportar os erros com paciência.
Eles começaram o evento associando a condenação de Jesus à morte com a necessidade de abrigar os peregrinos, quem eles identificaram hoje como os migrantes que entram na Europa para fugir da guerra e da violência. Entre os que carregavam a cruz nesta primeira estação estiveram dois sírios que vivem como refugiados na Itália.
“Senhor Jesus, no começo de sua caminhada a Jerusalém, e portanto para a morte, fostes rejeitado”, lei em voz alta um dos jovens.
“Eles não iriam vos receber porque éreis um estrangeiro, porque pertencíeis a uma outra nação, porque professáveis uma religião diferente”.
“Tudo isso, Senhor, soa assustadoramente familiar – como se tivesse sido tirado dos nossos jornais, reminiscência das situações em nossas ruas”, continuaram os jovens na encenação. “Recusamo-nos a acolher pessoas que buscam uma vida melhor, que por vezes estão simplesmente defendendo suas vidas, sob a ameaça de morte, pessoas que batem à porta dos nossos países, das nossas igrejas e lares”.
“Em vez de hospitalidade, elas encontram a morte: no litoral de Lampedusa e nas ilhas gregas, em campos de refugiados lotados”, disseram. “Nós vos pedimos: Abri nossos olhos! Permiti-nos reconhecê-Lo!”.
Diferentemente de outros eventos de grande porte na Jornada Mundial da Juventude, em que a multidão canta a toda altura e interage com os locutores a todo instante, o clima durante as Estações da Cruz esteve mais reservado. Muitos na multidão ajoelharam-se em reverência, e todos estiveram relativamente em silêncio.
Francisco respondeu à encenação criativa dos jovens com uma reflexão breve porém de grande alcance a respeito da natureza do bem e do mal e do papel de Deus no mundo. Tendo em conta a ênfase dada pelos jovens na forma como as pessoas continuam sofrendo hoje, o papa começou perguntando várias vezes como se poderia encontrar Deus nesse sofrimento.
“Onde está Deus, se no mundo existe o mal, se há pessoas famintas, sedentas, sem abrigo, deslocadas, refugiadas?”, perguntou-se em voz alta o papa. “Onde está Deus, quando morrem pessoas inocentes por causa da violência, do terrorismo, das guerras?”
“Há perguntas para as quais não existem respostas humanas”, disse o papa. “Podemos apenas olhar para Jesus, e perguntar a Ele. E a sua resposta é esta: ‘Deus está neles’, Jesus está neles, sofre neles, profundamente identificado com cada um”.
“Abraçando o madeiro da cruz, Jesus abraça a nudez e a fome, a sede e a solidão, a dor e a morte dos homens e mulheres de todos os tempos”, completou.
Em seguida, reconhecendo os sírios que participaram da encenação na primeira estação, o papa falou: “Nesta noite, Jesus e nós, juntamente com Ele, abraçamos com amor especial os nossos irmãos sírios, que fugiram da guerra. Saudamo-los e acolhemo-los com fraterno afeto e simpatia”.
“A nossa credibilidade de cristãos é posta em jogo no acolhimento da pessoa marginalizada, que está ferida no corpo, e no acolhimento do pecador, que está ferido na alma”, continuou o papa acrescentando logo em seguida: “Não em ideias!”.
Mais tarde, Francisco contou que, se desejam seguir a Cristo, os jovens devem viver vidas de serviço.
“Perante o mal, o sofrimento, o pecado, a única resposta possível para o discípulo de Jesus é o dom de si mesmo, até da própria vida, à imitação de Cristo”, falou. “É a atitude do serviço”.
“Se alguém, que se diz cristão, não vive para servir, não serve para viver. Com a sua vida, renega Jesus Cristo”, completou.
A Via Sacra desta sexta-feira era um dos inúmeros eventos que aconteceram em Cracóvia esta semana em comemoração à 14ª Jornada Mundial da Juventude, que levou Francisco à Polônia. Os organizadores estimam que 2 milhões de peregrinos participarão dos eventos finais do encontro, que culminará com uma missa a céu aberto com o papa no domingo antes de ele voltar a Roma.
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Com “Via da Misericórdia”, jovens mostram a Francisco um desejo de acolher migrantes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU