Por: André | 26 Julho 2016
A Polônia, considerado o país mais católico da Europa, acolhe a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) 2016 em um esforço para fazer frente à crescente secularização de sua sociedade, especialmente entre os jovens, que se traduziu em uma diminuição de vocações e de participação na missa.
A reportagem é publicada por Religión Digital, 24-07-2016. A tradução é de André Langer.
Durante mais de 40 anos, a Igreja católica polonesa desempenhou um papel chave na luta contra o regime comunista imposto na Polônia no final da Segunda Guerra Mundial e, embora mantenha uma importante influência social, o país vive um contínuo processo em que a religião passou a ser uma questão individual e não coletiva.
“A perda de peso social e cultural da Igreja católica polonesa é um fato irreversível, especialmente nas grandes cidades, assim como também a modernidade social, que apesar de ter chegado à Polônia mais tarde que a outros países do Oeste Europeu, é algo inevitável”, explicou à Efe a socióloga Malgorzata Wos.
Neste cenário, os seminários da Polônia estão cada vez mais vazios, uma tendência que preocupa a hierarquia eclesiástica, embora o país conte com 31 mil sacerdotes relativamente jovens (em 2010, 57,7% tinham menos de 50 anos) e ofereça à Europa um de cada quatro padres.
O número de estudantes nos seminários cai ano após ano, e em 2015, menos de 3.600 seminaristas se preparavam para o sacerdócio, número muito abaixo dos 8.122 de 1990 ou dos 6.038 em 2006, segundo dados da Conferência Episcopal da Polônia.
Junto com esta chamada crise de vocações, também a participação nas missas caiu na última década, algo especialmente evidente entre os jovens.
O ano de 2008 ficou marcado como o pior ano das últimas três décadas, ao situar-se a presença nos serviços religiosos pela primeira vez abaixo dos 40%, 6% a menos que em 2007.
Desde então, os números se mantiveram estáveis e 39,1% dos poloneses participam regularmente da missa dominical (sobretudo em pequenos povoados e em áreas rurais do leste do país) e 16% comungam cada domingo, segundo uma pesquisa elaborada pelo Instituto Estatístico da Igreja católica.
Apesar desta tendência à secularização, 91% dos poloneses são oficialmente católicos e a Igreja mantém ainda grande peso na sociedade, que recorda o papel decisivo que milhares de padres exerceram na oposição ao comunismo, o apoio ao movimento Solidariedade e à chegada da democracia.
Diante deste prestígio social de que a Igreja católica polonesa ainda goza, os costumes sociais mudam rapidamente no país. Os emigrantes que retornam ao país trazem uma atitude mais relativista diante da vida, grande parte dos jovens é cada vez mais consumista e quer viajar ao exterior e os sermões dominicais interessam cada vez menos, destaca Wos.
A perda de peso social da Igreja católica contrasta com sua maior influência nas estruturas do Estado, ao menos desde que o partido nacionalista-ultraconservador Lei e Justiça assumiu o governo em novembro de 2015, após ganhar as eleições com maioria absoluta.
Esta proximidade com o poder faz com que as paróquias sirvam em mais de uma ocasião como plataformas para transmitir as posturas da Igreja sobre questões que ultrapassam o divino, e não é raro que o pároco de pequenos povoados recomende aos seus fiéis em que partido votar.
A comunhão com o Governo, por exemplo, impulsionou a cruzada da Igreja católica contra o aborto, depois que uma iniciativa popular reuniu as 100 mil assinaturas necessárias para levar ao Parlamento o pedido de proibir a interrupção da gravidez.
Este é o cenário com que a Igreja da Polônia receberá o Papa Francisco a partir do próximo dia 27 de julho em Cracóvia, cenário da Jornada Mundial da Juventude 2016.
Centenas de milhares de jovens de todo o mundo se reunirão a partir desta terça-feira, 26 de julho, até o domingo, 31 de julho, com o Papa Francisco na 31ª Jornada Mundial da Juventude de Cracóvia (Polônia), onde viveram “os dois grandes apóstolos da misericórdia”, os santos João Paulo II e Faustina Kowalska. Esta jornada se inscreve no Ano Jubilar da Misericórdia.
Durante a sua permanência no país, o Papa se reunirá no dia 29 de julho com um grupo de 10 sobreviventes de Auschwitz no marco de uma visita ao antigo campo de concentração nazista programada em sua viagem, que acontecerá dois dias após sua chegada a Cracóvia. Ali permanecerá durante duas horas sem que esteja previsto um pronunciamento seu, embora escreva algumas palavras no livro de honra. Justamente na coletiva de imprensa no Vaticano, no dia 20 de julho, por ocasião da apresentação da Jornada Mundial da Juventude, o porta-voz oficial do Vaticano, o Pe. Federico Lombardi, enfatizou que estas palavras serão “muito importantes”.
Durante a sua visita ao campo, o Papa atravessará a pé o portal com a inscrição “Arbeit mach frei” (“O trabalho liberta”) e depois rezará diante do “muro da morte”, quando acenderá uma vela e rezará. Em seguida, acontecerá a reunião com alguns sobreviventes do campo de concentração. O último deles entregará ao Papa uma vela, e o Pontífice acenderá uma lâmpada que doará ao campo de concentração.
Este é o lugar onde o franciscano polonês Maximiliano Kolbe foi assassinado pelos nazistas. O dia 29 de julho é, além disso, o dia do seu 75º aniversário de condenação à morte. Está previsto que o Papa visite de forma reservada a cela na qual foi assassinado com uma injeção letal. Na saída, assinará o livro de honra.
Posteriormente, o Santo Padre irá ao campo de concentração de Birkenau onde visitará o monumento em homenagem às vítimas das nações, composto por uma série de placas que recordam diversas ações comemorativas.
O Papa é o terceiro Sumo Pontífice a visitar o chamado “vale obscuro da morte”. João Paulo II visitou este campo de concentração em 1979; Bento XVI, por sua vez, fez o mesmo em 2006. “Francisco viverá este momento de dor e compaixão em silêncio”, especificou Lombardi.
Nesse mesmo dia, às 16h30, irá a Prokocim, onde visitará o Hospital Pediátrico Universitário, um dos mais importantes da Polônia, onde são atendidos 30 mil pacientes internados e 200 mil crianças com tratamento ambulatório por ano.
Ali, cerca de 50 crianças esperarão o Santo Padre reunidos na sala de recepção do hospital junto com seus pais, onde está previsto que o Papa faça um discurso.
Também fará uma visita privada a algumas áreas da guarda de emergência no piso térreo, acompanhado pelo diretor e pelos pais de algumas crianças e rezará na capela do hospital. O Papa João Paulo II visitou este hospital em 1971.
Às 18h, o Pontífice fará a Via Sacra com os jovens no Parque Blonia, com capacidade para cerca de 600 mil pessoas, e ao término do ato dirigirá algumas palavras aos fiéis. Nesse dia, depois da janta, o Pontífice irá aparecer na janela Papal para saudar a multidão reunida na praça em frente à residência dos bispos de Cracóvia.
Mesmo que o Pontífice aterrisse em Cracóvia apenas no dia 27 de julho, a Jornada Mundial da Juventude começará oficialmente um dia antes, 26 de julho, com uma cerimônia de abertura e uma missa presidida pelo arcebispo da cidade polonesa, o cardeal Stanislaw Dziwisz que, durante muitos anos, foi secretário pessoal de São João Paulo II. O Papa, que pronunciará todos os discursos em italiano menos um em espanhol, chegará no dia seguinte, em torno das 16h (horário local), ao Aeroporto Internacional João Paulo II Cracóvia-Balice, onde acontecerá a cerimônia de boas vindas.
Uma hora mais tarde está prevista sua chegada ao Castelo Real de Wawel, onde terá um encontro com as autoridades e o corpo diplomático. Na sequência e após sua visita de cortesia ao Presidente da República da Polônia, o Santo Padre terá um encontro com os bispos deste país na catedral de Wawel.
Ali acontecerá a oração silenciosa diante do túmulo de Santo Estanislau – onde também se encontram as relíquias de São João Paulo II – e onde venerará o Santíssimo Sacramento na capela que se encontra atrás do altar e fará um discurso. Ao entardecer, na residência dos bispos de Cracóvia e depois da janta, o Santo Padre irá aparecer na janela Papal para saudar a multidão reunida na praça em frente à residência.
Na quinta-feira, 28 de julho, pela manhã, está previsto que o Papa se desloque para Balice, com uma parada no Convento das Irmãs da Apresentação. Na sequência, se deslocará de helicóptero a Czestochowa, ao Mosteiro de Jasna Góra, onde rezará na capela da Imagem Milagrosa da Virgem Negra antes de presidir a Santa Missa no âmbito da Celebração dos 1.050 anos do Batismo da Polônia.
Esta missa é um evento de importância nacional, que se coloca no situa do Jubileu do Batismo da Polônia. A área do Santuário pode abrigar cerca de 300 mil fiéis, onde os bispos e muitos sacerdotes poloneses irão concelebrar, e da qual participarão o presidente da República e as mais altas autoridades do país. Às 17h, na praça em frente à sede do Arcebispado, o prefeito de Cracóvia entregará as chaves da cidade ao Santo Padre.
Posteriormente, o Papa viajará em um bonde ecológico até o Parque Blonia com um grupo de jovens deficientes e depois percorrerá as ruas no papamóvel antes da cerimônia de acolhida, na qual se espera a presença de cerca de 600 mil jovens. Depois da janta, o Santo Padre aparecerá na janela papal para saudar a multidão reunida na praça em frente à residência dos bispos de Cracóvia.
No sábado, 30 de julho, começarão propriamente as atividades da Jornada Mundial da Juventude quando o Papa irá ao Santuário da Divina Misericórdia, atravessará a Porta Santa e visitará a capela na qual repousam os restos de Santa Faustina Kowalska. Ali ouvirá a confissão de cinco jovens em italiano, espanhol e francês. Depois de deslocará ao Santuário São João Paulo II, construído na região em que o papa polonês trabalhou como operário e posteriormente celebrará a missa com os sacerdotes, religiosos, religiosas, consagrados e seminaristas poloneses.
No domingo, 31 de julho, Francisco voltará ao Campus Misericórdia onde dará a bênção das instalações da Cáritas: a Casa da Misericórdia, para pobres e idosos, e a Casa do Pão, que corresponde a um armazém de alimentos para os mais necessitados. Finalmente, celebrará a missa de encerramento da Jornada Mundial da Juventude e fará o envio dos jovens como testemunhas da Divina Misericórdia, anunciando o lugar da próxima jornada.
Até o dia 19 de julho, 335.437 peregrinos de 187 países tinham realizado e pagado a inscrição para participar da Jornada Mundial da Juventude de Cracóvia. Entre os grupos mais numerosos estão os peregrinos provenientes da Espanha. A Polônia é o país anfitrião e, portanto, a mais numerosa quanto a peregrinos inscritos. É seguida pela Itália, França e Espanha. Em quinto lugar estão os Estados Unidos e a Alemanha está em sexto.
Pela primeira vez participarão jovens do Kosovo, Bangladesh, Gibraltar, Palestina, Mianmar e Sudão do Sul. Por ordem de idiomas mais falados, o primeiro é o polonês, seguido do italiano, espanhol, inglês e, por último, o português.
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Francisco visita a Polônia, o país mais católico da Europa, sob o impacto da secularização - Instituto Humanitas Unisinos - IHU