13 Setembro 2019
Neste espaço se entrelaçam poesia e mística. Por meio de orações de mestres espirituais de diferentes religiões, mergulhamos no Mistério que é a absoluta transcendência e a absoluta proximidade. Este serviço é uma iniciativa feita em parceria com o Prof. Dr. Faustino Teixeira, teólogo, professor e pesquisador do PPG em Ciências da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora - MG.
Quem Sou Eu?
(Foto: Faustino Teixeira | Arquivo pessoal)
Quem sou eu? Seguidamente me dizem
que saio da minha cela
tão sereno, alegre e firme
qual dono de um castelo.
Quem sou eu? Seguidamente me dizem
que da maneira como falo
aos guardas, tão livremente,
como amigo e com clareza
parece que esteja mandando.
Quem sou eu? Também me dizem
que suporto os dias do infortúnio
impassível, sorridente e com orgulho
como alguém que se acostumou a vencer.
Sou mesmo o que os outros dizem de mim?
Ou apenas sou o que sei de mim mesmo?
Inquieto, saudoso, doente,
como um passarinho na gaiola,
sempre lutando por ar, como se me sufocassem,
faminto de cores, de flores, às vezes de pássaros.
Sedento de palavras boas, de proximidade humana,
tremendo de ira a respeito da arbitrariedade
e ofensa mesquinha,
nervoso na espera de grandes coisas,
em angústia impotente pela sorte de amigos distantes,
cansado e vazio até para orar, para pensar, para produzir,
desanimado e pronto para me despedir de tudo?
Quem sou eu? Este ou aquele?
Sou hoje este e amanhã um outro?
Sou porventura tudo ao mesmo tempo?
Perante as pessoas um hipócrita?
E um covarde, miserável diante de mim mesmo?
Ou será que aquilo que ainda em mim perdura,
seja como um exército em derradeira fuga,
à vista da vitória já ganha?
Quem sou eu?
A própria pergunta nesta solidão
de mim parece pretender zombar.
Quem quer que sempre eu seja,
tu me conheces, ó meu Deus,
sou teu.
Fonte: Dietrich Bonhoeffer. Resistência e submissão: cartas e anotações escritas na prisão. São Leopoldo: Sinodal, 2003, p.468-469
Dietrich Bonhoeffer, em 1939
German Federal Archives (Bundesarchiv)
Dietrich Bonhoeffer (04-02-1906 – 09-04-1945): foi um pastor luterano, professor universitário e fundador da Bekennende Kirche, Igreja Confessante, ala da igreja evangélica contrária ao nazismo. Em 1934, Bonhoeffer foi um dos autores da Declaração de Bremen, que fazia oposição ao regime de Adolf Hittler. Segundo a carta, “Jesus Cristo, e não homem algum ou o Estado, é o nosso único Salvador”.
O pastor foi preso em 1943 por ajudar na fuga de judeus, passou por diversos campos de concentração até o seu assassinato, em 09 de abril de 1945, pouco tempo antes da libertação da prisão pelas tropas aliadas.
Publicou em vida Sanctorum communio (1930), Ato e ser (1931), Discipulado (1937) e A vida comum (1938). As cartas escritas durante o tempo que esteve na prisão e enviadas ao amigo Eberhard Bethge foram publicadas postumamente, junto com as cartas para os pais e algumas poesias, sob o título de Resistência e submissão.
O Instituto Humanitas Unisinos - IHU publicou uma breve biografia sobre Bonhoeffer, acesse aqui.
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Quem Sou Eu? Dietrich Bonhoeffer na oração inter-religiosa desta semana - Instituto Humanitas Unisinos - IHU