Hoje, 09-04-2021, dia do trágico assassinato pelos nazistas de Dietrich Bonhoeffer, republicamos a matéria abaixo.
Dietrich Bonhoeffer (04-02-1906 – 09-04-1945) foi um pastor luterano, um professor universitário com doutorado em teologia, um pioneiro do movimento ecumênico, um escritor prolífico, um poeta e uma figura central na luta contra o regime nazista.
O foi publicado por Igreja Evangélica Luterana na Itália. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Nascido em Breslau (Alemanha) em 1906, com a irmã gêmea Sabine, Dietrich foi o sexto de oito filhos de Karl e Paula Bonhoeffer. Seu pai era um importante professor de psiquiatria e neurologia; a mãe, uma das poucas mulheres formadas da sua geração.
Formando-se em teologia em Berlim, em 1927, Bonhoeffer iniciou a atividade de pastor em uma igreja alemã em Barcelona, em 1928. Em 1930, foi estudar em Nova York, no Union Theological Seminary. Em 1931, começou a lecionar na Faculdade de Teologia de Berlim e foi ordenado pastor.
Naquele período, ele começou a atividade no nascente movimento ecumênico, estabelecendo contatos internacionais que, depois, teriam grande importância para o seu empenho na resistência.
Em 1931, ele foi eleito secretário juvenil da União Mundial para a Colaboração entre as Igrejas e, em 1933, passou a fazer parte do Conselho Cristão Universal "Life and Work" (do qual nasceria, depois, o Conselho Ecumênico de Igrejas).
Com a ascensão de Hitler ao poder no fim de janeiro de 1933, a Igreja Evangélica Alemã, a qual Bonhoeffer pertencia, entrou em uma fase difícil e delicada. Muitos protestantes alemães acolheram favoravelmente o advento do nazismo. Em particular, o grupo dos chamados "cristãos-alemães" (Deutsche Christen) tornou-se porta-voz da ideologia nazista dentro da Igreja, chegando até a pedir a eliminação do Antigo Testamento da Bíblia.
No verão de 1933, aqueles que, inspirando-se nas leis arianas do Estado, propuseram um "parágrafo ariano" para a Igreja, segundo o qual era impedido que os "não arianos" se tornassem ministros de culto ou professores de religião. A disputa que se seguiu daí provocou uma profunda divisão dentro da Igreja: a ideia da "missão para os judeus" era muito difundida, mas agora os cristãos-alemães defendiam que os judeus fossem uma raça separada que não podia se tornar "ariana" nem mesmo mediante o batismo, negando assim a validade do Evangelho.
Bonhoeffer se opôs firmemente ao parágrafo ariano, afirmando que a sua ratificação submeteria os ensinamentos cristãos à ideologia política: se aos "não arianos" fosse impedido o acesso ao ministério, então os pastores teriam que renunciar em sinal de solidariedade, também sob o custo de fundar uma nova Igreja, livre da influência do regime.
No artigo de abril de 1933 intitulado "A Igreja diante do problema dos judeus", Bonhoeffer foi o primeiro a abordar o tema da relação entre a Igreja e a ditadura nazista, defendendo fortemente que a Igreja tinha o dever de se opor à injustiça política.
Em setembro de 1933, quando o parágrafo ariano foi aprovado pelo Sínodo nacional da Igreja Evangélica, Bonhoeffer se comprometeu a informar e sensibilizar o movimento ecumênico internacional sobre a gravidade da questão. Ele também recusou um posto de pastor em Berlim, por solidariedade com aqueles que eram excluídos do ministério por razões raciais, e decidiu se mudar para uma congregação de língua alemã, em Londres.
Em maio de 1934, nasceu a chamada Igreja Confessante por obra de uma minoria interna da Igreja Evangélica Alemã, que adotou a Declaração de Barmen em oposição ao nazismo. Em abril de 1935, Bonhoeffer voltou para a Alemanha para dirigir, antes em Zingst e depois em Finkenwalde, um seminário clandestino para a formação dos pastores da Igreja Confessante, que estava sofrendo pressões crescentes por parte da Gestapo, que culminaram em agosto de 1937, no decreto de Himmler que declarava ilegal a atividade de formação de candidatos a pastores para a Igreja Confessante.
Em setembro, o seminário de Finkenwalde foi fechado pela Gestapo. Nos dois anos seguintes, Bonhoeffer continuou a atividade de professor na clandestinidade; em janeiro de 1938, a Gestapo o baniu de Berlim e, em setembro de 1940, proibiu-o de falar em público.
Em 1939, Bonhoeffer se aproximou de um grupo de resistência e conspiração contra Hitler, constituído entre outros pelo advogado Hans von Dohnanyi (seu cunhado), pelo almirante Wilhelm Canaris e pelo general Hans Oster. O teólogo constituiu um elo fundamental entre o movimento ecumênico internacional e a conspiração alemã contra o nazismo.
A sua atividade para ajudar um grupo de judeus a fugir da Alemanha levou à sua prisão em abril de 1943. Durante os dois anos de prisão que precederam a sua morte, nas cartas ao amigo Eberhard Bethge, Bonhoeffer explorou o significado da fé cristã em um "mundo que se tornou adulto", perguntando-se: "Quem é Cristo para nós hoje?".
O cristianismo muitas vezes fugiu do mundo, tentando encontrar um último refúgio para Deus em um canto "religioso", a salvo da ciência e do pensamento crítico. Mas Bonhoeffer afirmou que é justamente a humanidade na sua força e maturidade que Deus exige e transforma em Jesus Cristo, "a pessoa pelos outros".
Depois de uma tentativa fracassada de atentado contra Hitler no dia 20 de julho de 1944, Bonhoeffer foi transferido para a prisão de Berlim, depois para o campo de concentração de Buchenwald e, por fim, para o de Flossenbürg, onde foi enforcado junto com outros conspiradores.
Durante a sua vida, Bonhoeffer publicou, em 1930, Sanctorum communio; em 1931, Ato e ser, em 1937, Discipulado; em 1938, A vida comum. As cartas e as anotações escritas durante sua prisão e enviadas ao amigo Eberhard Bethge foram publicados por ele postumamente em 1951, junto com as cartas para os pais e para algumas poesias, sob o título de Resistência e submissão.
Apareceram postumamente as obras que, segundo o autor, deviam constituir a sua maior contribuição: Ética (1949); Tentação (1953); O mundo maior de idade (1955-1966) (NEV, 13-14/2005).