A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Mt 11,1-11, que corresponde ao 3° Domingo do Advento, ciclo A do Ano Litúrgico. O comentário é elaborado por Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Naquele tempo, João estava na prisão. Quando ouviu falar das obras de Cristo, enviou-lhe alguns discípulos, para lhe perguntarem: "És tu, aquele que há de vir, ou devemos esperar um outro?" Jesus respondeu-lhes: "Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados. Feliz aquele que não se escandaliza por causa de mim!" Os discípulos de João partiram, e Jesus começou a falar às multidões, sobre João: "O que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? O que fostes ver? Um homem vestido com roupas finas? Mas os que vestem roupas finas estão nos palácios dos reis. Então, o que fostes ver? Um profeta? Sim, eu vos afirmo, e alguém que é mais do que profeta. É dele que está escrito: 'Eis que envio o meu mensageiro à tua frente; ele vai preparar o teu caminho diante de ti'. Em verdade vos digo, de todos os homens que já nasceram, nenhum é maior do que João Batista. No entanto, o menor no Reino dos Céus é maior do que ele".
Neste domingo, a liturgia nos convida a meditar sobre quem é Jesus através da pergunta que João Batista lhe faz, enviando alguns de seus discípulos para perguntar: "És tu, aquele que há de vir, ou devemos esperar um outro?" João está na prisão, porque suas palavras incomodaram aqueles que detinham o poder e tentaram silenciá-lo. Mas, embora estivesse preso, ele não se calou. Ele ouve falar das obras do Messias e, por isso, envia alguns dos discípulos que permaneciam perto dele com essa pergunta. No contexto evangélico, João expressa a dúvida que paira sobre alguns judeus que não se incorporavam à comunidade cristã porque Jesus não correspondia às expectativas que eles tinham do Messias. Mesmo na prisão, João continua com sua missão de anunciar o Messias, de apresentá-lo, de encorajar aqueles que estão ao seu lado a seguirem Jesus: ele é o Messias esperado, nele se cumprem as promessas do Senhor.
Jesus respondeu-lhes: "Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados".
Jesus não responde com teorias sobre quem é ou qual é sua missão; ele aponta para os sinais concretos que estão diante deles, aquilo que podem ouvir e ver. Sua identidade como Messias se revela na prática libertadora, voltada especialmente aos pobres e excluídos. Não se trata de um messianismo de glória ou triunfo, mas de um compromisso radical com os necessitados, que são os primeiros destinatários da Boa Nova.
Jesus destaca que os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados. Aquilo que antes era visto como castigo divino — doença, privação, limitação ou deficiência — torna-se precisamente o espaço onde Deus se manifesta. É nesse lugar de fragilidade que o Reino de Deus se revela, tendo os marginalizados como protagonistas e herdeiros da promessa. São eles os destinatários do Reino de Deus.
“Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo”. Jesus não lhes entrega uma explicação abstrata; ao contrário, convida-os a despertar os ouvidos e a abrir os olhos. As obras já lhes eram conhecidas, pois, como João, tinham ouvido falar delas. Mas agora, Jesus os chama a contemplar diretamente, a escutar de modo renovado, para que a resposta a João brote da própria experiência deles. Não são meros portadores de uma mensagem teórica ou conceitual: são convocados a participar do Reino, a tornar-se testemunhas vivas da Boa Nova, da presença libertadora de Deus que se revela junto aos que estão marginalizados no caminho.
Mais uma vez, Jesus nos convida, assim como aos discípulos de João, a “ver”, a ouvir, a nos deixarmos tocar pelos milagres que estão ao nosso lado, mas que não vemos! Mas, para isso, é necessário entrar nesse espaço de cegueira, de paralisia, de “morte” e, a partir daí, perceber os sinais da presença viva de Deus, onde a vida renasce, os cegos veem, os surdos ouvem. Lembramos as palavras do Papa Francisco quando pedia insistentemente: "paremos de tornar invisíveis" os que estão à margem da sociedade, seja por motivos de pobreza, seja por motivos de dependência, doença mental ou deficiência.[...] Como é que deixamos que a 'cultura do descarte', na qual milhões de homens e mulheres não valem nada em relação aos benefícios econômicos, como é que deixamos que esta cultura domine as nossas vidas, as nossas cidades, o nosso modo de vida?"
Feliz aquele que não se escandaliza por causa de mim!
A prática de Jesus, voltada aos mais pobres e vulneráveis, não passa despercebida: ela escandaliza, incomoda e perturba. Ele não corresponde ao messias triunfante que muitos judeus esperavam; ao contrário, desestabiliza uma sociedade que escraviza e descarta os que não servem ao império dominante, e desafia uma religiosidade distante da vida concreta e cotidiana.
Reconhecê-lo como Messias exige atravessar a muralha erguida pela dúvida, construída com tijolos de conceitos falsos, palavras vazias e questionamentos estéreis. É preciso derrubar essa barreira para enxergar o caminho e aproximar-se dos cegos e surdos que agora veem e ouvem; para caminhar junto àquele que antes estava paralisado.
Jesus nos chama a uma experiência viva e transformadora com Ele — uma experiência que se espalha e se comunica como a água que jorra da fonte, renovando e dando vida.
Neste tempo de preparação para o Natal, Jesus continua a nos chamar à sensibilidade diante daqueles que vivem ao nosso lado: os que não ouvem, os que não enxergam, os que não podem caminhar, ou mesmo os que já foram considerados “mortos” pela sociedade. É somente a partir dessa abertura do coração que podemos reconhecer sua ação libertadora, capaz de devolver vida, abrir os olhos, ressuscitar e fazer brotar, mesmo no mais profundo da dor, uma nova esperança.
Não se trata de teoria, hipótese ou especulação: é a presença real do Messias que caminha conosco, atraindo-nos e convidando-nos a olhar com seus olhos, a sentir com sua sensibilidade. Somente assim podemos perceber sua força libertadora, que transforma e renova.
Já não perguntarei mais,
quando chegará teu dia
mas sim por onde atravessas o presente,
por que existe o malvado
mas sim de que maneira o salvas agora,
quando se curará minha ferida
mas sim como a curas neste instante,
quando acabarão as guerras,
mas sim onde constróis a justiça,
quando seremos numerosas
mas sim onde está hoje a gruta de Belém,
quando acabará a opressão
mas sim como passar pelas brechas do sistema,
quando te revelarás,
mas sim onde te escondes.
Porque teu futuro é agora,
é este instante universal
onde todo o criado dá um passo
dentro de teu mistério partilhado.
Benjamin Gonzalez Buelta