"A fé em Jesus é a base da Igreja. Pedro é o porta voz de toda Igreja. Esta fé não é mérito humano, mas revelação que o Pai faz aos pequeninos".
Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana - ESTEF:
Dr. Bruno Glaab
Me. Carlos Rodrigo Dutra
Dr. Humberto Maiztegui
Me. Rita de Cácia Ló
Jesus, ao iniciar sua missão, convidou discípulos para se associarem e dar continuidade a sua obra (Mt 10,1-4). Isto ele fez enquanto estava na missão histórica, bem como depois de sua ressurreição, chamando Saulo (At 9,1ss). Entre os muitos chamados, duas pessoas se destacam: Pedro e Paulo. Pedro como primaz e Paulo como o maior missionário de todos os tempos. Pedro, chamado a ser o coordenador da instituição e Paulo, chamado a viver o carisma missionário de forma excepcional. Pessoas com características muito diferentes e até com visões opostas (Gl 2,11-14), mas firmes em sua opção por Jesus Cristo até o martírio.
A cena ocorre em Cesareia de Filipe, longe de Jerusalém. A missão começa na periferia pagã. Lá os discípulos são questionados sobre a identidade de Jesus. As primeiras respostas ao questionamento de Jesus: João Batista, Elias, ou profetas não satisfazem. Neste caso, Jesus ainda estaria no Antigo Testamento. Na resposta de Pedro está a novidade: “O Cristo (Messias), o Filho do Deus vivo”. Ele realiza plenamente o messianismo das promessas de Deus feitas pelos profetas.
A fé professada por Pedro, torna-se o chão da Igreja que se confrontará com as contrariedades (portas do inferno). Diante da profissão de fé, de Pedro, algo novo vai acontecer. A antiga qahal (comunidade reunida) de Javé (Dt 23,2) vai ser reconstruída na pessoa de Jesus: “a minha Igreja”. Nesta obra, Pedro tem papel decisivo. Ele terá as chaves de acesso. Por isto ele é a pedra sobre a qual se edifica a Igreja. Mateus se inspira no relato de Is 22,19-25 onde Eliacim recebe as chaves da casa de Davi. Ele terá autoridade irrevogável. Ligar e desligar no Antigo Testamento designava o poder de interpretar a lei de Moisés. Agora, Pedro é esta autoridade para interpretar a lei de acordo com o ensino de Jesus e adaptá-la às novas realidades. O papel primaz de Pedro é atestado diversas vezes no Novo Testamento (Mc 9,25; Mt 14,28ss e sobretudo em Jo 21,15ss; At 1,15ss; 2,14ss; 3,11ss; 15,7ss; 1Cor 15,5).
Pode-se constatar a profissão de fé de Pedro em diversas versões: “Tu és o santo de Deus” (Jo 6,69), “Tu és o Messias” (Mc 8,29), “Tu és o Messias de Deus” (Lc 9,21). Ao que parece, a versão de João 6,69 seria a mais original. Mateus inspira-se em Marcos e o completa: “Tu és o Messias”, acrescentando “o Filho do Deus vivo”. O que em Marcos é apenas cristológico, em Mateus se torna também eclesiológico. A verdadeira fé em Jesus é a base da Igreja. Pedro é, neste relato, o porta-voz dos demais, isto é, de toda Igreja. Esta fé não é mérito humano, mas revelação que o Pai faz aos pequeninos (Mt 11,25-26).
Por esta fé professada, Pedro se torna a rocha (Kefa): “sobre esta pedra…”. Ou seja, a fé professada por Pedro é fé pétrea e, por isto, a base para a edificação da Igreja. Esta fé sólida, jamais será vencida pelas portas do inferno (cf. Mt 7,24,27 e Is 28,16).
Como em Is 22,19-22 Pedro recebe as chaves. Pela fé professada, recebe o leme da Igreja para nunca se separar da verdade. Ligar e desligar tem um sentido doutrinal e disciplinar: doutrinal, enquanto preservar a Sã Doutrina e adaptá-la às novas realidades; disciplinar, enquanto receber na comunhão eclesial, ou excluir dela. Estas chaves têm o aval do Céu.
A Igreja Católica professa que a autoridade de Pedro continua na pessoa do Papa, seu legítimo sucessor. Como Pedro recebeu a autoridade de interpretar com fidelidade o evangelho. Assim, o Papa com os bispos tem, hoje a mesma missão. Portanto, cabe à Igreja, com seus bispos em comunhão com o Papa, interpretar as exigências do Evangelho às novas realidades através da história.
At 12,1-11: o relato é uma paráfrase da paixão, morte e ressurreição de Jesus (cf. Lc 22-24). Como Jesus, derrotado, sai vencedor da sepultura, Pedro, indefeso diante de um forte poder opressor, sai vencedor da cela de forma milagrosa. Jesus já dissera: “Se eles me perseguiram, perseguir-vos-ão” (Jo 15,20). Como Deus não permitiu a derrota de seu filho, também agora, não permite a destruição da missão dos apóstolos. Eles continuam a obra de Jesus, também no martírio.
2Tm 4,6-8.17-18: tanto Pedro como Paulo enfrentaram muitos problemas de perseguição. Muitas vezes foram perseguidos e livrados. Por fim, ambos morrem mártires. Mas o anúncio do evangelho continua. Paulo sabe que seu fim está próximo, mas confia totalmente naquele, pelo qual empenhou sua vida. Ele foi liberto das muitas perseguições, mas não escapa da morte que lhe advirá como preço de sua missão.