A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus, que corresponde ao 33º Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico. O comentário é elaborado por Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
"Acontecerá como um homem que ia viajar para o estrangeiro. Chamando seus empregados, entregou seus bens a eles. A um deu cinco talentos, a outro dois, e um ao terceiro: a cada qual de acordo com a própria capacidade. Em seguida, viajou para o estrangeiro. O empregado que havia recebido cinco talentos saiu logo, trabalhou com eles, e lucrou outros cinco. Do mesmo modo o que havia recebido dois lucrou outros dois. Mas, aquele que havia recebido um só, saiu, cavou um buraco na terra, e escondeu o dinheiro do seu patrão. Depois de muito tempo, o patrão voltou, e foi ajustar contas com os empregados. O empregado que havia recebido cinco talentos, entregou-lhe mais cinco, dizendo: ‘Senhor, tu me entregaste cinco talentos. Aqui estão mais cinco que lucrei’. O patrão disse: ‘Muito bem, empregado bom e fiel! Como você foi fiel na administração de tão pouco, eu lhe confiarei muito mais. Venha participar da minha alegria’. Chegou também o que havia recebido dois talentos, e disse: ‘Senhor, tu me entregaste dois talentos. Aqui estão mais dois que lucrei’. O patrão disse: ‘Muito bem, empregado bom e fiel! Como você foi fiel na administração de tão pouco, eu lhe confiarei muito mais. Venha participar da minha alegria’. Por fim, chegou aquele que havia recebido um talento, e disse: ‘Senhor, eu sei que tu és um homem severo pois colhes onde não plantaste, e recolhes onde não semeaste. Por isso, fiquei com medo, e escondi o teu talento no chão. Aqui tens o que te pertence’. O patrão lhe respondeu: «Empregado mau e preguiçoso! Você sabia que eu colho onde não plantei, e que recolho onde não semeei. Então você devia ter depositado meu dinheiro no banco, para que, na volta, eu recebesse com juros o que me pertence’. Em seguida o patrão ordenou: ‘Tirem dele o talento, e deem ao que tem dez. Porque, a todo aquele que tem, será dado mais, e terá em abundância. Mas daquele que não tem, até o que tem lhe será tirado. Quanto a esse empregado inútil, joguem-no lá fora, na escuridão. Aí haverá choro e ranger de dentes".
No texto que a liturgia nos dá para meditar neste domingo, continuamos com o Evangelho de Mateus 25, 14-30.
Ele nos conta a história de um homem que tem que partir para um pais estrangeiro, então ele chama seus empregados e distribui seus bens. Ressaltamos que não se trata de uma distribuição equitativa, ou seja, ele não dá o mesmo a cada um, pois, segundo o texto, foram dados: a cada um segundo a sua própria capacidade. Ao primeiro, ele dá cinco talentos, ao segundo, dois, e ao terceiro, um talento. Parece que a distribuição não é muito livre, pois depois ele vem "acertar contas com seus empregados" para ver o que aconteceu com as mercadorias entregues.
Em primeiro lugar, observamos que a distribuição foi feita de acordo com a capacidade de cada um. Está claro que cada um dos empregados tem diferentes competências ou aptidões e, de acordo com essa realidade, os bens foram entregues a eles. Embora no texto esses dons ou talentos sejam colocados em termos de medidas (cinco, três, um), fica claro que são qualidades diferentes que o "senhor" conhece muito bem. Isso nos leva a pensar que ele tem um relacionamento pessoal com cada funcionário, do seu ponto de vista eles não são todos iguais, por isso ele distribui de acordo com as possibilidades e capacidades que cada um tem. Ele os conhece, viu-os trabalhar durante o tempo em que estiveram juntos e, por isso, confia a cada um o que sabe que pode germinar, dar frutos, fazer um bom investimento.
Cada pessoa é original, única e irrepetível e, portanto, em cada ser humano há diferentes capacidades, diferentes dons e talentos que não podem ser medidos de acordo com nossos parâmetros e muito menos de acordo com o que nos é pedido por um tipo de sociedade que tenta unificar todos sob o mesmo parâmetro. Todo ser humano é digno de respeito e os direitos iguais devem ser respeitados.
Mas, ao mesmo tempo, o sopro do Espírito de Deus gravou em cada ser humano uma originalidade única, uma novidade que deve ser aprimorada e não pode ser enterrada. A sociedade tende a unificar diferentes grupos de pessoas sob certas categorias: pobres, imigrantes, jovens, grupos religiosos e, embora existam grupos sociais, há o risco de perder a diversidade e não considerar a particularidade de cada pessoa com suas próprias habilidades e talentos.
A visão do proprietário é de um vínculo tão pessoal e familiar que ele dá a cada um de acordo com sua capacidade. É por isso que cada pessoa recebe medidas diferentes. Portanto, destacamos duas realidades: por um lado, o conhecimento que o proprietário tem de cada um de seus funcionários, de cada trabalhador, que ele sabe como dar a cada um de acordo com sua capacidade. Em segundo lugar, destacamos duas atitudes que os funcionários têm em relação ao que receberam: alguns duplicam e outros enterram por medo, a fim de salvaguardar o que receberam, o que, no final, é inútil.
O funcionário que investe para duplicar seus talentos, assume riscos, não fica calmo, mas ousa algo diferente e possivelmente desconhecido. Ele se atreve a assumir algo novo, o que sempre envolve certa dose de incerteza, mas também compromisso e uma vida dedicada a um objetivo específico: fazer com que o talento que recebeu produza.
Aquele que enterra o talento o faze por medo de perdê-lo, porque, segundo ele, seu chefe "é um homem severo, porque ele colhe onde você não plantou e colhe onde você não semeou". E por isso "fiquei com medo, e escondi o teu talento no chão. Aqui tens o que te pertence".
O texto nos convida a refletir sobre a riqueza que existe em cada pessoa, a fim de favorecer o desenvolvimento pessoal e único. Ele nos convida a correr riscos em direção ao novo e ao diferente. Em alguns momentos, esse texto foi considerado com a visão de um Deus que depositou em cada pessoa uma certa quantidade de talentos e que, após a morte, pedirá contas disso. Mas, no texto, o Senhor valoriza aqueles que assumem riscos, aqueles que não têm medo de investir, mas que sabem como se mover e gastar suas habilidades, seus recursos, sem medo de perdê-los.
Todos nós recebemos o dom da vida e somos convidados a investi-lo no presente de nosso tempo e a não o enterrar por medo, insegurança ou simplesmente por comodidade. A vida, o melhor talento que recebemos, é nosso. Muitas vezes olhamos para fora e vemos "grandes talentos", seja na ciência, no esporte, em vidas dedicadas ao serviço ao próximo, e talvez não tenhamos consciência do esforço que está por trás de cada um desses talentos que brilham em nossa sociedade. São pessoas que souberam investir e gastar seu tempo, que não tiveram medo de germinar lentamente, mas que investiram suas vidas com projetos claros e atitudes que respondiam a esses objetivos.
Neste domingo, o Senhor nos chama a investir e arriscar os dons que recebemos para que possam ser duplicados. Cada pessoa recebeu um talento, que é a vida original e única que Deus nos deu e que nos convida a gastá-la. Enterrá-la já é perdê-la! A vida pede vida, o amor cresce com o amor, a doação se multiplica e cresce com a dedicação e a doação gratuita. É a única alternativa! Ele investe para duplicar seus talentos, assume riscos, não fica quieto, mas ousa algo diferente e possivelmente desconhecido. Ele ousa algo novo, o que sempre envolve uma certa dose de incerteza, mas também compromisso e uma vida dedicada a um determinado objetivo: produzir o talento que recebeu.
Facemos eco das palavras do Papa Francisco aos participantes da European Youth Conference (Praga, 11-13 julho 2022) “Eu quero concluir com um voto: que sejais jovens generativos, capazes de gerar novas ideias, novas visões do mundo, da economia, da política, da convivência social; e não só novas ideias, mas sobretudo novos caminhos para serem percorridos juntos. E que sejais generosos também em gerar novas vidas, sempre e só por amor!” (Cfr: Francisco convoca os jovens à mudança: “sejam capazes de gerar novas ideias, novas visões do mundo, da economia, da política, da convivência social”