17 Novembro 2017
«Acontecerá como um homem que ia viajar para o estrangeiro. Chamando seus empregados, entregou seus bens a eles. A um deu cinco talentos, a outro dois, e um ao terceiro: a cada qual de acordo com a própria capacidade. Em seguida, viajou para o estrangeiro.
O empregado que havia recebido cinco talentos saiu logo, trabalhou com eles, e lucrou outros cinco. Do mesmo modo o que havia recebido dois lucrou outros dois. Mas, aquele que havia recebido um só, saiu, cavou um buraco na terra, e escondeu o dinheiro do seu patrão.
‘Senhor, tu me entregaste cinco talentos. Aqui estão mais cinco que lucrei’. O patrão disse: ‘Muito bem, empregado bom e fiel! Como você foi fiel na administração de tão pouco, eu lhe confiarei muito mais. Venha participar da minha alegria’. Chegou também o que havia recebido dois talentos, e disse: ‘Senhor, tu me entregaste dois talentos. Aqui estão mais dois que lucrei’. O patrão disse: ‘Muito bem, empregado bom e fiel! Como você foi fiel na administração de tão pouco, eu lhe confiarei muito mais. Venha participar da minha alegria’. Por fim, chegou aquele que havia recebido um talento, e disse: ‘Senhor, eu sei que tu és um homem severo pois colhes onde não plantaste, e recolhes onde não semeaste. Por isso, fiquei com medo, e escondi o teu talento no chão. Aqui tens o que te pertence’. O patrão lhe respondeu: ‘Empregado mau e preguiçoso! Você sabia que eu colho onde não plantei, e que recolho onde não semeei. Então você devia ter depositado meu dinheiro no banco, para que, na volta, eu recebesse com juros o que me pertence’. Em seguida o patrão ordenou: ‘Tirem dele o talento, e deem ao que tem dez. Porque, a todo aquele que tem, será dado mais, e terá em abundância. Mas daquele que não tem, até o que tem lhe será tirado. Quanto a esse empregado inútil, joguem-no lá fora, na escuridão. Aí haverá choro e ranger de dentes.’
Leitura do Evangelho segundo Mateus Mt 25,13. (Correspondente ao 32° Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico).
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Hoje continua a leitura do capítulo 25 do Evangelho de Mateus, que começou no domingo passado com a parábola das dez virgens, cinco precavidas e outras cinco insensatas. Nos últimos domingos do Ano Litúrgico, antes do Advento, os textos Evangélicos nos apresentam diferentes atitudes para aguardar a vinda do Filho de Deus. Hoje lemos a parábola do empresário que sai ao estrangeiro e distribui seus talentos, em abundância, a três empregados.
O homem entrega uma fortuna considerável, se temos em conta que cada talento, nessa época, equivalia a aproximadamente 26 quilogramas de prata. O proprietário entrega a cada um uma quantidade diferente. Ele confia a seus empregados as quantias que, a seu juízo, podem administrar. Ao seu retorno, recebe a produção que cada um realizou com os bens recebidos.
Somos portadores de diferentes tipos de bens que nos foram confiados para que administremos. Não importa a quantidade, mas a importância que tem para cada pessoa é o valor daquilo que recebemos. Temos consciência disso?
E agora também podemos perguntar qual é nossa atitude diante deste bem recebido? Pode significar algo muito apreciado, e daí seu valor, para a pessoa que deposita em nós sua riqueza, aquilo que é considerado um bem pessoal, que nos confia uma situação determinada.
E Deus foi o primeiro a depositar sua confiança em nós, sem limites. Ele nos confiou toda sua criação para que nós a cuidemos e distribuamos de forma equitativa entre todas as pessoas. Ela é nossa casa comum e assim deve ser preservada e considerada.
Na Encíclica Laudato Si: cuidado da Casa Comum (maio de 2015), o Papa Francisco relê as narrações da Bíblia e articula a “tremenda responsabilidade” (90) do ser humano diante da criação, o elo íntimo entre todas as criaturas e o fato de que “o meio ambiente é um bem coletivo, patrimônio de toda a humanidade e responsabilidade de todos” (95). Nela, apresenta a necessidade de enfrentar vários aspectos da atual crise ecológica, (15) como nas mudanças climáticas, que “são um problema global com graves implicações ambientais, sociais, econômicas, distributivas e políticas, constituindo atualmente um dos principais desafios para a humanidade” (25). Porque se “o clima é um bem comum, um bem de todos e para todos” (23), Deus confiou sua criação à nossa responsabilidade pessoal e social para que seja equitativo para todas as pessoas que moram nesta terra.
E, junto com esta riqueza, fomos marcados com a grandeza do seu amor. Ele nos confia seu tesouro, como disse Paulo, de sermos seus filhos e filhas amados. Como disse Paulo aos Coríntios, “Pois o Deus que disse: ‘Do meio das trevas brilhe a luz’!, foi ele mesmo que reluziu em nossos corações para fazer brilhar o conhecimento da glória de Deus, que resplandece na face de Cristo. Todavia, esse tesouro nós o levamos em vasos de barro, para que todos reconheçam que esse incomparável poder pertence a Deus e não é propriedade nossa” (2Cor 4, 6-7).
O fato de confiar a uns mais e a outros menos talentos não significa amar a uns mais que a outros: uma parábola deve ser considerada não em suas particularidades, mas como um todo e dentro do contexto geral do Evangelho.
A diversa quantidade de talentos distribuídos sublinha a ideia de que somos diferentes, devendo, por isso mesmo, complementar-nos, como bem nos ensina Paulo a respeito da diversidade dos dons e dos carismas (cf 1 Cor 12).
Na parábola, o problema se apresenta com a diversa atitude diante dos talentos recebidos. O primeiro apresenta-se diante do administrador com o dobro do que foi recebido. E o segundo empregado também. Mas o terceiro tem uma atitude totalmente diferente: “Senhor, eu sei que tu és um homem severo, pois colhes onde não plantaste, e recolhes onde não semeaste. Por isso, fiquei com medo, e escondi o teu talento no chão. Aqui tens o que te pertence”.
Ele acha que conhece seu senhor e por isso ficou com medo e escondeu o talento. Ele fica dominado pelo medo, considerando que está fazendo o correto. Não se anima a arriscar à procura de outra coisa, acha melhor enterrar o talento, aquilo que lhe foi confiado e o devolve aparentemente intacto, mas ele não fez nada!
O medo de arriscar paralisou-o, levando-o a ocultar numa cova o talento recebido. Ele escolheu a segurança do mais fácil, tentando convencer-se de que era o melhor, e para isso muda a ideia do seu senhor e apresenta-o como uma pessoa que é muito exigente e, além disso, que “colhe onde não semeou”. Quase uma pessoa injusta, digna de se ter medo. Ele não ama, porque amar é comprometer-se, tentar, expor-se, estar disposto a dar a vida, não omitir-se!
Ele tem medo de ser livre e ter que tomar as decisões próprias de uma pessoa livre, ele enterra seu talento como enterra os dons recebidos e omite a confiança que lhe é depositada. Escolhe a comodidade que lhe traz segurança aparente, mas que não frutifica em nada.
Nesta parábola Jesus nos ensina uma vez mais a não ficar numa atitude cautelosa, medida, seja no plano religioso, social, político ou econômico.
Também me é dirigido o convite a dispor livremente de minha vida a serviço de Deus e do próximo. Qual é a minha resposta?
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