1º domingo do advento - Ano A - Subsídio exegético

25 Novembro 2022

Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana – ESTEF 

Dr. Bruno Glaab
Me. Carlos Rodrigo Dutra
Dr. Humberto Maiztegui
Me. Rita de Cácia Ló

Leituras do dia

Evangelho: Mt 24,37-44
Primeira Leitura: Is 2,1-5
Segunda Leitura: Rm 13,11-14
Salmo: Sl 121,1-2. 4-9

O Evangelho

Mateus 24,37-44 é uma unidade dentro do chamado “discurso escatológico” (Mt 24–25). Este grande discurso fala da vinda do Filho do Homem com a finalidade de oferecer uma perspectiva sobre o compromisso de vida do cristão na história humana.

A perícope de Mt 24,37-44 é composta por três sequências: a primeira faz a memória do dilúvio (vv. 37-39); a segunda fala de dois homens e duas mulheres no trabalho cotidiano (vv. 40-42); a terceira usa como comparação a chegada de um ladrão (vv. 43-44). Todas essas sequências têm em comum a incerteza da Parusia (vinda, chegada, visita) do Senhor e, portanto, a necessidade da vigilância.

As três sequências falam de situações da vida cotidiana: alimentar-se, beber, casar-se, trabalho no campo, trabalho na casa, moer, cuidar para evitar um assalto. A vinda do Filho do Homem não é um megaevento, para o qual alguém interrompe todas as suas atividades e fica sem fazer nada à sua espera, pois ninguém sabe o dia e nem a hora (cf. Mt 24,36). O que torna a vivência comum do dia a dia é uma atitude de abertura e acolhimento do Filho do Homem, não é no que se faz, mas como se faz: a prática cotidiana deve estar orientada pelo propósito de Deus.

Para se referir ao dilúvio (vv. 37-39), o evangelista não qualifica as ações dos contemporâneos de Noé como imorais ou prova de incredulidade. Ao contrário, ele usa o verbo “compreender”: eles “nada compreenderam” e foram destruídos. Este mesmo verbo será retomado no v. 43, como chamado de atenção – “compreendei” – para que os ouvintes tenham uma postura diferente dos contemporâneos de Noé e estejam preparados para quando o Senhor voltar, um evento que ocorrerá em momento desconhecido. Por outro lado, o texto chama atenção para o perigo da ignorância e do despreparo: são estas as atitudes que levam a comunidade à destruição.

A sequência dos vv. 40-42 usa imagens mais próximas à vivência da comunidade: homens e mulheres nos seus devidos fazeres (os membros da comunidade?). Mas a vinda do Filho do Homem não terá o mesmo efeito sobre todos: alguns serão tomados, outros deixados.

Em outros textos de Mateus, ser deixado traz como consequência a destruição, pois equivale a ser abandonado à própria sorte (Mt 23,38; 24,2; 25,30). Na continuação do discurso escatológico, nas parábolas das dez virgens (25,1-13), dos talentos (25,14-30) e do juízo final (25,31-46), os que são “levados” entram para festa ou para junto do pai (Mt 25,10.21.23.35).

O trecho do evangelho deste Primeiro Domingo do Advento é uma advertência para que a igreja/comunidade esteja sempre consciente do serviço, na vigilância e na fidelidade ao projeto do reino de Deus. Vigiar, é uma atitude de vida plena na justiça do reino.

Relacionando com as outras leituras

A primeira leitura é do profeta Isaías (Is 2,1-5). No centro desta leitura está a salvação de YHWH que é uma oferta e um compromisso. Os dons divinos sempre nos colocam na dinâmica oferta-compromisso: o dom que Deus nos dá, ao chegar em nossas mãos, se torna compromisso. Assim com a vida, os filhos, a paz etc. Na leitura de hoje, YHWH oferece unidade de todos os povos e convergência deles para Jerusalém, o centro e a fonte da salvação. Mas unidade e convergência exigem uma transformação radical das pessoas e da sociedade.

Neste trecho de Isaías, o monte Sião será luz para os povos (v. 5). Esta promessa serve como motivação para caminhar na luz da palavra do “Deus de Jacó” (v. 3). Este título dado a YHWH retoma os dois que estão em Is 1,24: “Senhor dos exércitos” (YHWH sabaoth) e o “forte de Israel/Jacó”, que recordam, respectivamente, o Êxodo (o Deus Libertador) e os Patriarcas (na pessoa de Jacó, Gn 49,24, à Aliança).

Ainda no v. 3, o termo hebraico Torah é normalmente traduzido por “lei”. Neste caso, porém, é preferível traduzir por “instrução” ou algo equivalente, pois a palavra “lei” é muito ligada ao Pentateuco e, consequentemente, aos acontecimentos do Sinai. Mas, neste texto de Isaías, a referência é o monte Sião: dele sairá uma nova instrução que atrairá todos os povos ao monte da casa de YHWH. Desse modo, esses versículos de Isaías apresentem o SENHOR como Mestre da Sabedoria que ensina o caminho a todos os que desejarem segui-lo.

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