24 Janeiro 2020
Ao saber que João tinha sido preso, Jesus voltou para a Galileia. Deixou Nazaré e foi morar em Cafarnaum, que fica às margens do mar da Galileia, nos confins de Zabulon e Neftali, para se cumprir o que foi dito pelo profeta Isaías: “Terra de Zabulon, terra de Neftali, caminho do mar, região do outro lado do rio Jordão, Galileia dos que não são judeus. O povo que vivia nas trevas viu uma grande luz; e uma luz brilhou para os que viviam na região escura da morte”.
Daí em diante, Jesus começou a pregar, dizendo: “Convertam-se, porque o Reino do Céu está próximo”.
Jesus andava à beira do mar da Galileia, quando viu dois irmãos: Simão, também chamado Pedro, e seu irmão André. Estavam jogando a rede no mar, pois eram pescadores. Jesus disse a eles: “Sigam-me, e eu farei de vocês pescadores de homens”. Eles deixaram imediatamente as redes e seguiram Jesus. Indo mais adiante, Jesus viu outros dois irmãos: Tiago e João, filhos de Zebedeu. Estavam na barca com seu pai, consertando as redes. E Jesus os chamou. Eles deixaram imediatamente a barca e o pai e seguiram Jesus.
Jesus andava por toda a Galileia ensinando em suas sinagogas, pregando a Boa Notícia do Reino e curando todo tipo de doença e enfermidade do povo.
Leitura do Evangelho de Mateus 4,12-23. (Correspondente ao 3° Domingo do Tempo Comum, ciclo do A do Ano Litúrgico.)
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
O texto que a liturgia oferece hoje pertence ao Evangelho de Mateus que é o evangelho que será lido durante o Tempo Comum deste ano. Começa com uma frase muito significativa: Ao saber que João tinha sido preso, Jesus voltou para a Galileia. Jesus começa sua atividade, quando recebe a notícia de que João tinha sido encarcerado.
Por que o evangelista destaca este momento e a partir dele se inicia a atividade de Jesus? Qual é a importância que este dado tem na vida pública de Jesus?
Pode-se pensar que Jesus vai compreendendo mais sua atividade e missão no meio de nós através dos acontecimentos que vão sucedendo. João desaparece da cena porque foi preso e este dado pode ter ocasionado em Jesus a consciência e a necessidade de continuar sua atividade. O evangelista deixa claro que a predicação de Jesus é continuação da atuação de João.
“Jesus voltou para Galileia”. A Galileia era uma terra que não tinha nenhuma importância na história judaica. Assim apresenta-se no evangelho de João, num diálogo dos chefes dos sacerdotes do Templo e os fariseus quando respondem a Nicodemos: “Você também é galileu? Estude e verá que da Galileia não sai profeta” (Jo 7,53).
Jesus começa sua atividade longe da Judeia, de Jerusalém e do espaço mais sagrado e importante para os judeus, que é o Templo. Não há conexão da atividade de Jesus com a instituição judaica e na sua escolha desliga-se totalmente dela.
Depois Jesus deixa Nazaré e vai morar em Cafarnaum, uma pequena aldeia de poucos habitantes, “que fica às margens do mar da Galileia”. Cafarnaum é um povoado de pessoas que vivem do seu trabalho, pessoas simples, quase esquecidas e desprezadas: pescadores, camponeses, esse grupo de pessoas, mulheres, crianças, homens, comerciantes que moram neste povoado e nas aldeias próximas. Esse é o público escolhido por Jesus para começar sua atividade.
Esta atitude de Jesus nos chama a perguntar-nos, onde estão e quem são estas pessoas pobres, marginalizadas, esquecidas e desprezadas pelas nossas sociedades? E para isto não é preciso ir muito longe do nosso redor. É preciso abrir os olhos e afinar os ouvidos para ver e escutar o trabalho silencioso e a vida possivelmente desconhecida das pessoas que talvez estejam a poucos metros do nosso entorno.
Como ressalta Francisco, estamos chamados a ser uma “Igreja, que vê os que estão em dificuldades, não fecha os olhos, sabe olhar a humanidade na cara para criar relações significativas, pontes de amizade e solidariedade em vez de barreiras". “A igreja deve ser sem fronteiras e de portas abertas”, afirma o Papa Francisco
Este é o cenário que Jesus escolhe para iniciar nesta terra sua pregação. “Convertam-se, porque o Reino do Deus está próximo”. São as palavras com as quais João Batista exortava ao povo para que se prepare para receber “aquele que ia vir”. Ele anunciava a necessidade da conversão porque “o Reino do Céu estava próximo” (Mt 3, 1 -12). Na sua mensagem inicial, Jesus vincula a conversão e o Reinado de Deus.
A palavra conversão é muito conhecida, mas seu sentido é muitas vezes limitado ou reduzido. A palavra grega metanoia geralmente se vincula a arrependimento e ressalta- se o erro, a lamentação pelo acontecido, a necessidade de fazer penitência ou receber uma pena. Mas o sentido da palavra metanoia é mudar de opinião, de mentalidade, para assim voltar ao caminho. Para isso é preciso ir além dos próprios critérios, daquilo com que cada pessoa está acostumada. Não é somente uma mudança exterior, mas essencialmente deve ser uma transformação interior que se visibilize numa abertura e mudança de critérios que leve a uma mudança de vida.
O chamado de Jesus é um convite a transformar a mentalidade, os critérios, e mudar assim o estilo de vida. Desde o início Jesus chama a mudar o coração de pedra em um coração de carne, agir com um coração puro: “Felizes os puros de coração, porque verão a Deus”. A pessoa que escuta seu coração e age em consequência é solidária, considera os que estão ao seu lado como irmãos e irmãs. Desde o começo Jesus chama a esta mudança para construir uma sociedade fraterna e mais humana.
A mesura da nossa conversão é a capacidade para fazer o bem sem limites nem fronteiras. É um convite permanente!
“Convertam-se, porque o Reino do Céu está próximo”. O objetivo da conversão é porque o Reino de Deus está perto de nós, no meio de nós. Este reino nasce continuamente ao nosso redor e apresenta-se de formas diferentes e em situações e cenários distintos. Não pertence a um lugar determinado, nem possui um espaço ou estilo definido. Não o percebemos se nossos sentidos não estão acostumados a reconhecer sua presença.
Nesta semana deixemos ressoar o convite de Jesus que nos chama a mudar nossa mentalidade e estilo de vida para abrir-nos ao reconhecimento da sua presença que continuamente caminha ao nosso lado.
Rezemos com as bem-aventuranças que o Papa Francisco propõe para a era moderna:
• felizes os que suportam com fé os males que outros lhes infligem e perdoam de coração;
• felizes os que olham nos olhos os descartados e marginalizados fazendo-se próximo deles;
• felizes os que reconhecem Deus em cada pessoa e lutam para que também outros o descubram;
• felizes os que protegem e cuidam da casa comum;
• felizes os que renunciam ao seu próprio bem-estar em benefício dos outros;
• felizes os que rezam e trabalham pela plena comunhão dos cristãos.
Todos os que põem em prática esses seis itens, disse o Papa, “são portadores da misericórdia e ternura de Deus, e d’Ele receberão sem dúvida a merecida recompensa”.
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