02 Agosto 2019
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho segundo Lucas 12,13-21, que corresponde ao 18° Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Cada vez conhecemos melhor a situação social e econômica que Jesus conheceu na Galileia dos anos trinta. Enquanto nas cidades de Séforis e Tiberíades crescia a riqueza, nas aldeias aumentava a fome e a miséria. Enquanto os camponeses ficavam sem terras, os latifundiários construíram silos e celeiros cada vez maiores.
Numa pequena história, preservada por Lucas, Jesus revela o que pensa dessa situação tão contrária ao projeto desejado por Deus, de um mundo mais humano para todos. Não narra essa parábola apenas para denunciar os abusos e atropelos cometidos pelos latifundiários, mas para desmascarar a insensatez em que vivem.
Um rico proprietário de terras é surpreendido por uma grande colheita. Não sabe como administrar tanta abundância. “Que farei?”. O seu monólogo revela-nos a lógica tola dos poderosos que só vivem para acumular riqueza e bem-estar, excluindo os necessitados do seu horizonte.
O homem rico da parábola planeja a sua vida e toma decisões. Destruirá os antigos celeiros e construirá outros maiores. Armazenará ali toda a sua colheita. Pode acumular bens para muitos anos. De agora em diante, só viverá para desfrutar: “Deita-te, come, bebe e tem uma boa vida”. De forma inesperada, Deus interrompe os seus projetos: “Insensato, esta mesma noite vão exigir a tua vida. O que acumulaste, de quem será?”.
Este homem rico reduz sua existência a desfrutar da abundância dos seus bens. No centro da sua vida, está ele sozinho e seu bem-estar. Deus está ausente. Os trabalhadores que trabalham as suas terras não existem. As famílias das aldeias que lutam contra a fome não contam. O julgamento de Deus é retumbante: esta vida é apenas tolice e insensatez.
Neste momento, praticamente em todo o mundo aumenta de forma alarmante a desigualdade. Este é o fato mais sombrio e inumano: «os ricos, especialmente os mais ricos, estão se tornando muito mais ricos, enquanto os pobres, especialmente os mais pobres, estão se tornando muito mais pobres» (Zygmunt Bauman).
Este acontecimento não é normal. É, simplesmente, a última consequência da insensatez mais grave que os humanos estão cometendo: substituir a cooperação amistosa, a solidariedade e a busca do bem comum de toda a Humanidade pela competição, rivalidade e a acumulação de bens nas mãos dos homens mais poderosos do planeta.
Desde a Igreja de Jesus, presente em toda a Terra, deveria escutar-se o clamor dos seus seguidores contra tanta insensatez e a reação contra o modelo que guia hoje a história humana. Assim o está fazendo, repetidamente, o papa Francisco.
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Contra a insensatez - Instituto Humanitas Unisinos - IHU