02 Setembro 2016
“Por isso uma vez mais Jesus se volta para a multidão e olhando para ela expressa com clareza duas condições para viver esse serviço, condições que se entrelaçam e retroalimentam: a primazia do amor a Jesus e ao seu projeto e viver com liberdade a cruz que este primado traz como consequência”.
O comentário do Evangelho, correspondente ao Domingo 23° do Tempo Comum (05-09-2016), é elaborado por Maria Cristina Giani, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Grandes multidões acompanhavam Jesus. Voltando-se, ele disse: «Se alguém vem a mim, e não dá preferência mais a mim que ao seu pai, à sua mãe, à mulher, aos filhos, aos irmãos, às irmãs, e até mesmo à sua própria vida, esse não pode ser meu discípulo. Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo. De fato, se alguém de vocês quer construir uma torre, será que não vai primeiro sentar-se e calcular os gastos, para ver se tem o suficiente para terminar?
Caso contrário, lançará o alicerce e não será capaz de acabar. E todos os que virem isso, começarão a caçoar, dizendo: ‘Esse homem começou a construir e não foi capaz de acabar!’ Ou ainda: Se um rei pretende sair para guerrear contra outro, será que não vai sentar-se primeiro e examinar bem, se com dez mil homens poderá enfrentar o outro que marcha contra ele com vinte mil?
Se ele vê que não pode, envia mensageiros para negociar as condições de paz, enquanto o outro rei ainda está longe. Do mesmo modo, portanto, qualquer
de vocês, se não renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo.
Uma vez mais Jesus volta a nos surpreender. Neste evangelho o vemos acompanhado de uma multidão, mas parece que ele não se importa pelo número de pessoas que o seguem, sabe que não passa por ali o acontecer do Reino de Deus.
O mesmo cresce e se expande na vida das pessoas que o assumem e o servem como Jesus o fez.
Por isso uma vez mais Jesus se volta para a multidão e olhando para ela expressa com clareza duas condições para viver esse serviço, condições que se entrelaçam e retroalimentam: a primazia do amor a Jesus e ao seu projeto e viver com liberdade a cruz que este primado traz como consequência.
Estas duas realidades só se dão no seguimento de Jesus, num processo que dura a vida toda e que permite que cada dia possamos voltar a optar pelo projeto do Reino e servi-lo “crucificadamente”.
Da multidão de pessoas que ao longo dos séculos têm escutado a mensagem de Jesus, encontramos muitas que têm levado a sério suas palavras. Para nomear ao menos duas contemporâneas cito: Dom Helder Câmara e Dom Luciano Mendes de Almeida. Conhecer sua vida e trajetória nos encoraja a acreditar que vale a pena viver as condições que nos propõe o evangelho, para que nosso povo continue tendo vida e vida em abundância.
Voltemos a olhar para Jesus, que continua a falar à multidão. Depois de esclarecer as condições do seguimento através de duas parábolas explicita um pouco mais o processo que devem percorrer seus seguidores.
Há um verbo que se repete nas duas parábolas: “sentar-se”, tanto o construtor como o rei, protagonistas das narrações são convidados em primeiro lugar a parar para poder refletir e discernir suas futuras ações.
Esta proposta nos dias de hoje é contracultural! Vivemos na correria do impulso, do desejo do instante, do presentismo sem projeção.
Mas para colaborar no serviço do Reino é necessário parar, sentar-se. À luz das parábolas vamos tentar compreender essa importância.
Na parábola da construção da torre Jesus sinaliza a importância de: “sentar-se e calcular os gastos, para ver se tem o suficiente para terminar”. Ou seja, o primeiro passo é ter consciência de nossa realidade tanto a nível pessoal como comunitário, social. Precisamos nos perguntar: Como eu estou, como me sinto neste momento? E mais ainda precisamos ser capazes de sentir também o pulso de nossa comunidade, de nossa sociedade, de nosso país.
A partir dessa realidade sentida e conscientizada, nossa inteligência à luz do evangelho, sem julgamento mas com misericórdia, é convidada a entrar em cena para refletir sobre o porquê dessa situação e suas possíveis causas.
A nossa fé precisa nesse momento ter o auxilio de psicologia, sociologia e outras ciências para ter uma boa compreensão da realidade, da conjuntura na qual estamos e dos recursos que temos olhando para o futuro.
A segunda parábola sobre o rei que sai para guerrear nos traz outro verbo importante para dar continuidade a este processo: examinar, e examinar bem. Antes da ação é necessário o discernimento, precisamos parar para perguntar-nos: Quais são nesta situação os possíveis caminhos que nos levam à vida e a uma vida mais plena?
Na carta aos Romanos, Paulo o diz claramente: “Não se amoldem às estruturas deste mundo, mas transformem-se pela renovação da mente, a fim de distinguir qual é a vontade de Deus: o que é bom, o que é agradável a ele, o que é perfeito” (Rm 12, 2).
Paremos, sejamos cristãos/as conscientes do que está acontecendo para poder discernir com ousadia as decisões que devemos tomar, os caminhos que precisamos desconstruir e construir para que o reino de Deus continue desabrochando em nossa terra.
Amigos, perdoem
se pareço prosa,
convencida,
orgulhosa...
Move-me a alegria
de entrever
- em pleno dilúvio,
que continua e se agrava –
indícios de terra firme,
onde plantar
meu ramo de oliveira!
(Dom Helder Câmara)
Quem poderá conhecer os desígnios de Deus?
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"Sentar-se" para servir - Instituto Humanitas Unisinos - IHU