02 Setembro 2016
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho segundo Lucas 14,25-33 que corresponde ào 23° Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico.
O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Os exemplos utilizados por Jesus são muito diferentes, mas os seus ensinamentos são os mesmos: quem empreende um projeto importante de forma temerária, sem avaliar antes os meios e forças para alcançar o que pretende, corre o risco de acabar fracassando.
Nenhum lavrador começa a construir uma torre para proteger suas vinhas, sem antes ter tido tempo para calcular se a poderá concluir com êxito, para que a obra não fique inacabada, provocando o escárnio dos vizinhos. Nenhum rei decide entrar em combate com um adversário poderoso, sem antes analisar se aquela batalha pode terminar em vitória ou será um suicídio.
À primeira vista, pode parecer que Jesus convida para um comportamento prudente e precavido, muito afastado da audácia com que fala habitualmente aos seus. Nada mais afastado da realidade. A missão que quer encomendar aos seus é tão importante que ninguém deve comprometer-se nela de forma inconsciente, temerária ou presunçosa.
Sua advertência ganha grande atualidade nestes momentos críticos e decisivos para o futuro da nossa fé. Jesus chama, em primeiro lugar, a uma reflexão madura: os dois protagonistas das parábolas «sentam-se» para refletir. Seria uma grave irresponsabilidade viver hoje como discípulos de Jesus, que não sabem o que querem, nem onde pretendem chegar, nem com que meios devem trabalhar.
Quando iremos sentar para juntar forças, refletir juntos e procurar entre todos o caminho que temos de seguir? Não necessitaremos dedicar mais tempo, mais escuta do evangelho e mais meditação para descobrir chamadas, despertar carismas e cultivar um estilo renovado de quem segue Jesus?
Jesus chama também ao realismo. Estamos vivendo uma mudança sociocultural sem precedentes. Será possível contagiar a fé neste mundo novo que está nascendo, sem o conhecer bem e sem o compreender por dentro? Será possível facilitar o acesso ao Evangelho ignorando o pensamento, os sentimentos e a linguagem dos homens e mulheres do nosso tempo? Não será um
erro responder aos desafios de hoje com estratégias de antigamente?
Seria uma temeridade nestes momentos atuar de forma inconsciente e cega. Nos expomos ao fracasso, à frustração e até ao ridículo. Segundo a parábola, a «torre inacabada» só serve para provocar o escárnio das pessoas para com o construtor. Não devemos esquecer a linguagem realista e humilde de Jesus que convida os Seus discípulos a ser «fermento» no meio do povo ou
punhado de «sal» que dá sabor novo à vida das pessoas.
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