02 Setembro 2016
Grandes multidões acompanhavam Jesus. Voltando-se, ele disse: «Se alguém vem a mim, e não dá preferência mais a mim que ao seu pai, à sua mãe, à mulher, aos filhos, aos irmãos, às irmãs, e até mesmo à sua própria vida, esse não pode ser meu discípulo. Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo. De fato, se alguém de vocês quer construir uma torre, será que não vai primeiro sentar-se e calcular os gastos, para ver se tem o suficiente para terminar? Caso contrário, lançará o alicerce e não será capaz de acabar. E todos os que virem isso, começarão a caçoar, dizendo: ‘Esse homem começou a construir e não foi capaz de acabar!’
Ou ainda: Se um rei pretende sair para guerrear contra outro, será que não vai sentar-se primeiro e examinar bem, se com dez mil homens poderá enfrentar o outro que marcha contra ele com vinte mil? Se ele vê que não pode, envia mensageiros para negociar as condições de paz, enquanto o outro rei ainda está longe. Do mesmo modo, portanto, qualquer de vocês, se não renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo.
(Correspondente ao 23º Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico).
Hoje, lemos que Jesus continua seu caminho a Jerusalém e “grandes multidões o acompanhavam”. Num momento determinado, ele se volta e continua apresentando as condições para quem deseja ser seu discípulo e segui-lo.
Desde o início do texto, vemos uma característica que quebra com muitos paradigmas da cultura religiosa e social daquele momento. Com grande dor devemos reconhecer que ainda continua existindo ao nosso redor, como realidade religiosa, social e cultural. Referimo-nos ao espaço oferecido para a mulher na possibilidade de serem discípulas de Jesus.
Quando Lucas disse que há grandes multidões, podemos imaginar homens e mulheres, jovens e pessoas mais idosas. Não aparece nenhuma distinção entre mulheres e homens, nem pelo nível social nem pelo nível religioso de cada um/a. Isso pode acontecer porque há um projeto comum que os une: o seguimento de Jesus que convida a todos e todas a construir uma sociedade mais justa, igualitária e libertadora.
Desde esta perspectiva entendemos como a proposta de Jesus é totalmente revolucionária e os judeus que acreditavam ser os “donos” da religião dificilmente iam recebê-la. No caso ficariam implicados para muitos costumes e práticas religiosas e sociais, além de aceitar ideias e sugestões que o povo levar-lhes-ia.
Em 2016 foi criada uma comissão de 12 pessoas para estudar, discernir e oferecer recomendações para decidir a questão das diaconisas e foi incluída como membro da comissão Phillis Zagano.
Voltando à realidade da multidão, como nos sentimos cada um e cada uma de nós no meio de uma multidão? É um espaço que sem dúvida não é confortável, ou ainda pior, não há muito espaço. A multidão “aperta por todos lados”, como narra o Evangelho de Marcos quando Jesus cura uma mulher que sofria de hemorragia fazia dez anos (Mc 5, 25-30).
Quais são essas palavras dirigidas hoje a cada um/a de nós?
Jesus propõe diferentes condições para segui-lo.
Num primeiro momento refere-se à relação com família. É uma proposta exigente, que para nós pode tornar-se incompreensível. Para entender melhor suas premissas, lembremos que para os levitas a Vontade de Deus estava anteposta ao amor à família: pai, mãe, irmãos, filhos. (Dt 33,9).
Jesus fala também da necessidade de não priorizar a própria vida de cada um/a ao seu seguimento, “carregar sua cruz” e “caminhar atrás” dele para ser “seu discípulo”.
É possível levar adiante este estilo de vida? Como fazê-lo?
Neste domingo podemos ponderar quais são aquelas relações a que damos prioridade. Pode acontecer que nosso discurso seja diferente da prática. Para reconhecê-lo precisa-se de humildade e ter um tempo para reconhecer os objetivos que estimulam nossas atitudes.
Francisco disse que “Onde está Jesus há humildade, mansidão e amor”.
Ele destaca a diferença entre a “luz tranquila de Jesus, que fala ao nosso coração”, e a luz do mundo, “uma luz artificial” que nos torna soberbos e orgulhosos.
O exemplo da pessoa que quer construir uma torre e “vai primeiro sentar-se e calcular os gastos, para ver se tem o suficiente para terminar?” apresenta duas atitudes como primordiais: “sentar-se” e “calcular os gastos”, ou seja, pensar, refletir, para sopesar os custos dessa obra.
Pensemos, por exemplo, nas diferentes pesquisas que oferecem informações sobre a quantidade de crianças, mães e famílias que morrem de fome nos países mais atingidos pela carência de água, pelos massacres e contínuos bombardeios. Mas há também outra realidade, que é toda a comida excessiva que logo é desprezada e considerada lixo porque não houve um cálculo adequado na sua elaboração. Hoje somos convidados a tornar realidade estas palavras com nossa vida e contribuir na construção desta sociedade mais justa e mais sensível às necessidades que estão ao nosso redor.
Mas, para levar adiante esta proposta, é fundamental o silêncio, esse “Som do silêncio que não sabemos mais ouvir” sobre o novo livro do jornalista Paolo Rodari: “La custode del silenzio” (Einaudi), lançado em julho de 2016.
Neste domingo lembramos Madre Teresa de Calcutá, declarada santa neste domingo 4 de setembro pelo papa Francisco.
Uma mulher que entregou sua vida em favor dos mais necessitados. E com um silêncio diário permanente que lhe permitia a escuta da Vontade de Deus, tanto para sua vida como para as Irmãs da Caridade.
Cabe-nos perguntar neste tempo quais são aquelas pequenas ou grandes mudanças que podemos realizar para melhor levar adiante a proposta de Jesus.
Neste dia tão especial aproveitamos para pedir a Madre Teresa que nos conceda os cinco silêncios dos quais ela falava e que "não se limitam aos trabalhadores da caridade, àqueles que vivem com os mais pobres dos pobres".
O silêncio dos olhos;
O silêncio dos ouvidos;
O silêncio da boca;
O silêncio da mente;
O silêncio do coração.
Quem poderá conhecer os desígnios de Deus?
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