06 Outubro 2015
Jovem Rico. Heinrich Hoffmann. Século XIX.
Igreja Batista de Riverside, Nova Iorque, Estados Unidos
Fonte: http://arguments.es/arte/
Quando Jesus saiu de novo a caminhar, um homem foi correndo, ajoelhou-se diante dele e perguntou:
- «Bom Mestre, que devo fazer para herdar a vida eterna?» Jesus respondeu: «Por que você me chama de bom? Só Deus é bom, e ninguém mais. Você conhece os mandamentos: não mate; não cometa adultério; não roube; não levante falso testemunho; não engane; honre seu pai e sua mãe.»
O homem afirmou: «Mestre, desde jovem tenho observado todas essas coisas.» Jesus olhou para ele com amor, e disse: «Falta só uma coisa para você fazer: vá, venda tudo, dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro no céu. Depois venha e siga-me». Quando ouviu isso, o homem ficou abatido e foi embora cheio de tristeza, porque ele era muito rico.
Jesus então olhou em volta e disse aos discípulos: «Como é difícil para os ricos entrar no Reino de Deus!». Os discípulos se admiraram com o que Jesus disse. Mas ele continuou: «Meus filhos, como é difícil entrar no Reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo buraco de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus!» Os discípulos ficaram muito espantados quando ouviram isso, e perguntavam uns aos outros: «Então, quem pode ser salvo?» Jesus olhou para os discípulos e disse: «Para os homens isso é impossível, mas não para Deus. Para Deus tudo é possível».
Pedro começou a dizer a Jesus: «Eis que nós deixamos tudo e te seguimos.» Jesus respondeu: «Eu garanto a vocês: quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e da Boa Notícia, vai receber cem vezes mais. Agora, durante esta vida, vai receber casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, junto com perseguições. E, no mundo futuro, vai receber a vida eterna.
(Correspondente ao 28º Domingo Comum, do ciclo B do Ano Litúrgico).
Neste domingo escutamos um texto que foi muito importante para as comunidades no primeiro século e para nós. Com distintos estilos ou acentuações os três evangelhos narram este acontecimento.
No evangelho de Marcos escutamos que quando Jesus saiu de novo a caminhar, “um homem foi correndo, ajoelhou-se diante dele e perguntou: «Bom Mestre, que devo fazer para herdar a vida eterna?».
Jesus está continuamente a caminho, é um peregrino que ensina-nos nesse caminhar com ele, ao seu lado. Ele nos ensina que ser cristão não é uma disciplina que se aprende ou uma graduação que se obtém depois de vários anos de estudo.
O ensino de Jesus é oferecido nos aconteceres da vida, nas pessoas que se aproximam dele, suas atitudes, proximidade, as palavras ditas, sejam de gratidão ou de rejeição.
Ao longo deste ano lemos e meditamos diferentes situações e as respostas oferecidas por Jesus, assim como as reações dos discípulos, suas ideias, seu entusiasmo, a discussão entre eles sobre quem era o mais importante no Reino de Deus.
Se desejamos ser parte desse grupo de caminhantes junto com Jesus, lembremos as variadas situações que ele está nos ensinando “que é o Reino de Deus”. Possivelmente não é aquilo que desejamos num primeiro momento ou que imaginamos.
Jesus não é um rei glorioso que nos liberta das injustiças de uma forma quase mágica. E ao longo deste caminho junto com os discípulos vamos conhecendo “Quem é Jesus”.
Possivelmente pensávamos que pelo fato de ser cristãos desde pequenos/as já o conhecíamos. Mas a mensagem vai por outro lado. Jesus com sua grande sabedoria ensina-nos também hoje as mudanças internas e externas que cada um/a e as comunidades devemos realizar para entrar no Reino de Deus, porque “não é fácil entrar no reino de Deus”.
Jesus aproveita nossas atitudes, nosso critérios, prejuízos, desejos, também nossas reações e lutas internas para continuar com infinita misericórdia a apresentar-nos o grande mistério do Reino.
“Um homem foi correndo, ajoelhou-se diante dele e perguntou”. Ele corre tentando dialogar com Jesus antes que saia da sua aldeia. Há nele uma forte procura: corre, deseja, pergunta e depois ele “afirmou: ‘Mestre, desde jovem tenho observado todas essas coisas’.”
Jesus olha para ele com amor e propõe uma coisa nova: que “deixe de pensar na outra vida e pense nesta vida dando um novo sentido”.
Deixemos que esse olhar de Jesus também repouse sobre cada uma/a com acolhedor afeto. Qual é nossa resposta a Ele?
E podemos escutar assim seu convite como Jesus fez a este homem. Convida-o a segui-lo como também nos convida hoje. Mas para isso é preciso escutar também o que significa segui-lo. Ele disse: “vá, venda tudo, dê o dinheiro aos pobres” e assim “terá um tesouro no céu. Depois venha e siga-me.”
Usa três verbos: vender, dar e seguir. Que significam estas palavras para cada um/a de nós? Que temos que vender? Não está falando somente do dinheiro. É vender tudo aquilo que para nós é uma riqueza, é uma exortação à partilha total que vai contra a mentalidade do acúmulo que tanto predomina na nossa cultura.
Neste tempo de um consumismo obsessivo, como o chama o Papa Francisco: “consumismo obsessivo” causa um dano enorme ao meio ambiente. Mas não dá para ignorar a questão do crescimento populacional ilimitado.
É um convite e um chamado a lutar pela justa divisão dos bens, que não existam mais crianças nem pessoas que morrem a cada dia. Que exista terra para todos e os refugiados encontrem acolhida dos países ricos e não somente impedimentos.
Que o trabalho seja partilhado para todos nesta terra que Deus nos deu para que toda pessoa possa viver dignamente!
Para isso, cada um/a tem que fazer sua parte, correr o risco de dar o que tem, desapegar-se das coisas, talentos, relações, não guardar para si com "justificadas" razões: "quem vai me ajudar amanhã...?, e se me acontece alguma coisa...?".
Há muitos exemplos de homens e mulheres que assumiram plenamente a proposta de Jesus, como, por exemplo, o bispo do Xingu, Dom Erwin Krautler. “Aos 76 anos Dom Erwin não perdeu a garra com que, em 1965, deixou a nativa Áustria pelas margens do impetuoso rio Xingu: a “casa de Deus”, como o chamam os nativos”.
Ele mesmo dirá que há cinco décadas “vive ao seu lado, compartilhando seu empenho para salvar a floresta da fome insaciável de recursos das grandes sociedades hidroelétricas e mineradoras, da indústria da madeira, das monoculturas de soja e palma”. “Vi a aflição do meu povo e ouvi o grito que lhes arrancam os seus opressores. São as palavras de Deus. Adonai, nosso Senhor, no Êxodo. Mas, com todo o respeito, eu posso pronunciar estas palavras porque encontrei um povo escravo”, escreve o bispo e missionário da Congregação do Preciosíssimo Sangue. Uma frase reveladora.
Palavras de Salomão
(O livro da Sabedoria - que foi lido neste domingo na Primeira Leitura coloca estas palavras na boca do rei)
Por isso, eu supliquei e a inteligência me foi dada.
Invoquei, e o espírito da sabedoria veio até mim.
Eu a preferi aos cetros e tronos e, em comparação com ela,
considerei a riqueza como um nada.
Não a comparei com a pedra mais preciosa,
porque todo o ouro, ao lado dela, é como um punhado de areia.
E junto dela, a prata vale o mesmo que um punhado de barro.
Amei a sabedoria mais do que a saúde e a beleza,
e resolvi tê-la como luz, porque o brilho dela nunca se apaga.
Com ela me vieram todos os bens,
e em suas mãos existe riqueza incalculável.
Referências
BARBAGLIO, Giuseppe, FABRIS, Rinaldo; MAGGIONI, Bruno. Os Evangelhos (I). São Paulo: Loyola, 1990.
BRAVO GALLARDO, Carlos. Galiléia ano 30. Para ler o evangelho de Marcos. São Paulo: Paulinas, 1996.
KONINGS, Johan. Espírito e mensagem da liturgia dominical. Porto Alegre: Escola Superior de Teologia, 1981.
SICRE, José Luis. O Quadrante. I – A Busca. São Paulo: Ed. Paulinas. 1999.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Evangelho de Marcos 10,17-30 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU