Domingo de todos os santos – Ano C – Subsídio exegético

(Foto: Jeronimo Sanz | Flickr)

04 Novembro 2022

Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana – ESTEF

Dr. Bruno Glaab
Me. Carlos Rodrigo Dutra
Dr. Humberto Maiztegui
Me. Rita de Cácia Ló 

Leituras do dia

Primeira Leitura: Ap. 7,2-4.9-14
Segunda Leitura: 1Jo 3,1-3
Salmo: 23,1-4b. 5-6
Evangelho: Mt 5,1-12ª 

O Evangelho

Neste Domingo há duas datas importantes na tradição da Igreja: o “Dia de Todos os Santos e Santas” (1º de Novembro) e dia das pessoas falecidas (“Finados”, dia 2 de Novembro). O Evangelho das Bem-Aventuranças oferece o sentido da vida em santidade, tanto em sua dimensão histórica, quanto em sua dimensão eterna. A lista é um resumo de diversos ensinamentos de Jesus que sempre inicia com a palavra macarios. Este termo, macarios, significa, em grego, “felizes, pessoas portadoras do favor de Deus” o que se relaciona diretamente com a palavra sanctus, que em latim significa “santos, pessoas separadas para Deus”. O Evangelho da comunidade de Mateus reflete a dolorosa experiência da perseguição, da violência e da morte, em 64 a 67 d.C. (quando morrem os apóstolos Paulo e Pedro em Roma) e em Jerusalém após a revolta judaica (em 70 d.C., quando outras testemunhas da revelação de Cristo são mortas ou obrigadas a fugir).

O marco do “Sermão do Monte”

Mt 5,1-2. Estes primeiros dois versículos são a introdução geral ao chamado “Sermão do Monte” quando Jesus “ao ver aquela multidão de povo (...) subiu ao monte” e ali “sentou-se, os discípulos de aproximaram dele (...) e começou a ensinar”. Estes discursos encerram em 7,28-29: “Ao terminar estes discursos a multidão do povo se admirava de sua doutrina, pois ele os ensinava como quem possuía autoridade e não como os escribas” (Bíblia Sagrada, Vozes). O sentido, então, de todo este conjunto é mostrar qual é a diferença entre a interpretação do ensinamento de Moisés entre Jesus e as autoridades da religião oficial de sua época (como também se diz na crítica ao escribas e fariseus em Mt 23,2-3).

O caminho da felicidade na santidade (Mt 5,3-12)

As “bem-aventuranças” tem um “princípio” e um “fim” bem evidentes. São aquelas que se referem as pessoas que “possuirão o Reino dos Céus”. Estas são as pessoas que tem “espírito de pobre”, em grego “hoi ptoxoi tô pneúmati” (“os pobres do espírito” e não “de espírito”) em 5,3 e as pessoas perseguidas em 5,10-12). Todas as outras bem-aventuranças se derivam destas ou levam a estas. O espírito de pobre é que faz feliz quem chora, porque sabe que terá consolação (5,4), que leva as pessoas humildes, coletivamente, cooperativamente, a possuir a terra (5.5), que faz com que as pessoas tenham sempre fome e sede de consciência e serem saciadas (5,6), que faz com que seja vivida a misericórdia solidária que nos habilita para receber misericórdia (5,7), que nos faz pessoas de coração puro e aberto e vemos, no rosto das pessoas pobres, o rosto de Deus (5,8), e que capacita para promover a paz que emerge da justiça, do amor, da solidariedade, e da misericórdia que nos iguala como filhos e filhas de Deus (5,9). E tudo isso faz que, como os antigos profetas e profetisas, soframos perseguição e enfrentemos a violência de quem se apropriou do poder (seja este econômico, político ou religioso) em benefício próprio.

Relacionando com as outras leituras

A primeira leitura, do Livro de Apocalipse, mostra também um contexto de perseguição das comunidades que, ao abraçar a santidade e a felicidade de viver o Evangelho com espírito de pobres, vivenciaram a violência e a morte. As 144.000 pessoas são 12 vezes 12, vezes 1000, quer dizer as 12 tribos originárias, as comunidades dos 12 apóstolos, multiplicadas infinitamente, o que se reforça na segunda parte desta leitura, quando afirma “depois disto vi uma multidão que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas” (Ap 7,9), isto é a Comunhão de Todas as Santas e Santos. O mesmo refere a leitura da 1ª Carta de João 3, quando diz que “o mundo não nos conhece, porque também não conheceu o Pai” (v. 1b). Conhecer o “Pai” comum, é ter o espírito de pobre da santidade que vive a felicidade do compromisso as pessoas pobres, excluídas, injustiçadas, tristes, perseguidas, e nos faz irmãs e irmãos.

 

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