27 Novembro 2018
Na Holanda, a lei proíbe a interrupção de uma função religiosa: por isso centenas de pastores se alternam há um mês para evitar a repatriação de uma família hospedada na igreja.
Já completou um mês. 720 horas 43.200 minutos consecutivos de culto.
A informação é publicada por Riforma, 26-11-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Como já foi dito há alguns dias, uma pequena igreja protestante em Haia organizou serviços religiosos dia e noite para proteger uma família de refugiados armênios da expulsão da Holanda. De acordo com a lei, os policiais nos Países Baixos não podem entrar em locais de culto durante as cerimônias. Pastoras e pastores de todo o país estão se alternando para nunca interromper o culto e, assim, impedir que as autoridades prendam a família armênia Tamrazyan, há nove anos na Holanda. "Ao oferecer hospitalidade a essa família, poderemos dar-lhes tempo e lugar para demonstrar ao Secretário de Estado a urgência de sua situação", declarou Theo Hettema, presidente do Conselho da Igreja Reformada nos Países Baixos.
Sasun e Anousche Tamrazyan e seus três filhos, Hayarpi, Warduhi e Seyran, fugiram de sua Armênia natal e buscaram asilo nos Países Baixos após que o ativismo político do pai foi causa de ameaças de morte. Depois de vários anos de procedimentos judiciais e uma decisão a favor do asilo, o governo holandês iniciou procedimentos legais e conseguiu derrubar a decisão. A família, então, pediu uma "anistia para as crianças", uma política que permite que famílias refugiadas com filhos que residem nos Países Baixos por mais de cinco anos possam obter uma autorização de residência. Seu pedido foi rejeitado, o que não é incomum: o governo holandês concedeu apenas 100 dos 1.360 pedidos de aceitação de famílias com crianças desde maio de 2013.
Os Tamrazyan, cujos filhos estão estudando em escolas do país, viviam em um centro de asilo no município de Katwijk há dois anos, quando souberam da ordem de expulsão. Decidiram procurar refúgio na Igreja Reformada que frequentavam na cidade, mas, por ser pequena demais para abrigar a família, acabaram recorrendo a outras congregações protestantes na cidade vizinha de Haia em busca de ajuda. Em 25 de outubro, a Igreja Betel respondeu ao seu chamado. Desde então, a família Tamrazyan não saiu mais do templo. O pedido para hospedar o Tamrazyan coloca a liderança da Igreja em uma posição incômoda, porque, como Hettema explica, nenhuma igreja deveria escolher entre o respeito pela dignidade humana e o respeito pelo governo. Mas no final, disse à sua comunidade eclesial que tinha decidido acolher a família para permanecer fiel à "abertura e hospitalidade da igreja". Hettema diz que a igreja não tem planos para pôr fim ao serviço religioso em curto prazo, mas espera que o ministro da Migração, Mark Harbers, use seus poderes "discricionários" para conceder o visto de residência ao Tamrazyan, como já aconteceu no passado em alguns casos.
Os governos holandeses estão sob o fogo das críticas nos últimos anos devido às duras leis aprovadas sobre o asilo. A ascensão dos partidos de extrema direita introduziu a retórica anti-imigração no debate cotidiano e criou um clima de tensão para muitos refugiados. Mas este mês, os Tamrazyan descobriram outra parte do país: centenas de pessoas foram à igreja da Betel para mostrar seu apoio. Hettema disse que mais de 300 reverendos holandeses se ofereceram como voluntários para continuar os serviços em Betel, e uma petição pedindo ao governo holandês que conceda mais vistos a famílias de refugiados arrecadou quase um quarto de milhão de assinaturas.
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Na Holanda continuam cultos ininterruptos para salvar uma família de migrantes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU