11 Outubro 2018
"Manter a temperatura global abaixo de 1,5º C, reduziria significativamente o risco de eventos climáticos extremos e severos, particularmente ondas de calor e as mortalidades decorrentes", escreve José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE, em artigo publicado por EcoDebate, 10-10-2018.
O mais recente relatório divulgado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), divulgado no dia em que o Brasil ia às urnas no primeiro turno das eleições de 2018, considera que os esforços para limitar o aumento médio da temperatura global a 1,5º Celsius (como estabelece o limite inferior do Acordo de Paris) exigirá “mudanças sem precedentes” em nível global.
O relatório, apresentado em Incheon, na Coreia do Sul, foi aprovado por consenso e elaborado com base em cerca de 6.000 estudos, mostrando a grande diferença entre um aumento de temperaturas de +1,5º C e de +2º C. Ele foi compilado por mais de 80 dos principais cientistas do clima do mundo, de quase 40 países, e reúne 40.000 comentários de artigos com revisão por pares. Com clareza e sem tergiversação, o relatório diz que cada fração de um grau no aumento da temperatura realmente importa e deve ser levado em consideração imediatamente.
O documento considera que uma temperatura global acima de 1,5º C, em relação ao período pré-industrial, poderá ter efeitos catastróficos para os ecossistemas, a biodiversidade, a produção de alimentos e para o modo de vida rural e urbano de toda a população mundial.
Manter a temperatura global abaixo de 1,5º C, reduziria significativamente o risco de eventos climáticos extremos e severos, particularmente ondas de calor e as mortalidades decorrentes, diminuiria a escassez de água potável, evitaria a elevação do nível do mar a patamares catastróficos, impediria o naufrágio do delta dos rios, diminuiria o processo de acidificação dos oceanos e o branqueamento dos recifes de corais, etc. Os efeitos das mudanças climáticas já se fazem presente na atualidade. No mês passado os Furacões e Tufões – potencializados pela elevação da temperatura das águas oceânicas – provocaram grandes prejuízos. A passagem do tufão Jebi deixou mortos e muitos prejuízos no Japão. O furacão Florence abalou a costa leste dos Estados Unidos, especialmente as duas Carolinas (do Sul e do Norte). O tufão Mangkhu casou mortes e muita destruição nas Filipinas, Hong Kong e China. Nessa semana (09 a 13 de outubro de 2018), o furacão Michel ameaça várias ilhas do Caribe e a costa americana do golfo do México.
A crise é séria, já traz danos irreparáveis e o tempo é curto para evitar o pior. Segundo o IPCC o mundo tem apenas 12 anos para evitar um colapso ecológico, pois para que a meta mais ambiciosa de 1,5°C seja atingida, as emissões de gases de efeito estufa pelas atividades antrópicas teriam que ser reduzidas, em relação aos níveis de 2010, em cerca de 45% até 2030, chegando a zero por volta de 2050.
O grande problema é que as emissões apresentam uma trajetória de aumento, sendo que em 2017 o acréscimo foi de 2%. Assim, as emissões globais de CO2 de todas as atividades humanas foram de 41 bilhões de toneladas métricas para 2017, estreitando os limites do “orçamento carbono”. Portanto, reduzir estas emissões quase pela metade até 2030 e zerar até 2050 é uma tarefa hercúlea.
Para aumentar a complexidade da questão, há pesquisadores que consideram que o lapso de tempo necessário para reverter o quadro do aquecimento global é ainda mais estreito. Artigo de Christiana Figueres e outros importantes cientistas, publicado na prestigiosa revista científica Nature, em 2017, mostra que o tempo para evitar uma catástrofe climática é mais curto e precisa ser revertido, no máximo, em três anos.
Isto quer dizer que quanto mais o mundo procrastinar as soluções, mais radicais serão as medidas a serem adotadas no futuro. Hipostasiar o crescimento econômico exponencial e menosprezar o meio ambiente é como dar um tiro no pé hoje, que vai se transformar em uma gangrena amanhã. Como disse o professor e pesquisador Clóvis Cavalcanti, presidente do ISEE (The International Society for Ecological Economics): “Na natureza, todo crescimento contínuo termina em desastre: este é o princípio da célula cancerosa”.
Ou seja, é impossível manter o crescimento demoeconômico exponencial com base no modelo “Extrai-Produz-Descarta” que causa tantos danos ao meio ambiente. É urgente o decrescimento dos impactos antrópicos do sistema global de produção e consumo. O relatório do IPCC traz um alerta fundamental, mas o perigo é que a situação seja ainda mais grave. Até o Nobel de economia reconheceu a importância da sustentabilidade e, em 2018, escolheu dois economistas que estudam o meio ambiente.
Os candidatos à presidência que estão disputando o segundo turno das eleições presidenciais, neste mês de outubro de 2018, precisam se posicionar sobre esta premente e candente questão climática e apresentar medidas para que o Brasil possa diminuir suas emissões e garantir a saúde dos ecossistemas. O Brasil não pode se dar ao luxo de eleger um presidente contra o meio ambiente.
Sem as mais simples formas de existência e a mais ampla rede ecológica não há vida evoluída no Planeta. Sem estabilidade climática o céu pode se tornar um inferno. Não existe futuro para as atuais e as próximas gerações humanas e não-humanas se o planeta se tornar uma “Terra estufa”.
Referências:
IPCC. Global Warming of 1.5 °C http://www.ipcc.ch/report/sr15/
Christiana Figueres et. al. Three years to safeguard our climate, Nature, 28 June 2017 https://www.nature.com/news/three-years-to-safeguard-our-climate-1.22201
Clóvis Cavalcanti, presidente da ISEE, O Prêmio Nobel de Economia de 2018 http://ecoeco1.hospedagemdesites.ws/ecoeconovo/artigos/
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
A humanidade tem pouco tempo para mitigar o aquecimento global - Instituto Humanitas Unisinos - IHU