04 Julho 2018
Um escândalo financeiro sacode o coro de papa Francisco. O Vaticano suspendeu o diretor administrativo da Capela Musical Pontifícia Sistina, Michelangelo Nardella, e abriu uma investigação interna para avaliar sua atuação sobre as contas de turnês internacionais de coro pessoal do Papa. Fontes do Vaticano revelam ao ilfattoquotidiano.it que há suspeitas de consideráveis desvios e de uma gestão econômica ruim. Mas há mais ainda: a investigação teria revelado que algumas assinaturas atribuídas à cúpula da Secretaria de Estado presentes na documentação contábil do coro são falsas.
A reportagem é de Francesco Antonio Grana, publicada por Il Fatto Quotidiano, 03-07-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
A investigação interna foi confiada ao Núncio Apostólico Mario Giordana que já ouviu tanto o diretor do coro, monsenhor Massimo Palombella, como Nardella, mas também todos os cantores adultos e pais dos "pueri cantores", os meninos cantores que animam as celebrações presididas pelo Papa na Basílica de São Pedro e em outros locais.
Até o momento, a única medida preventiva tomada pelo Vaticano foi de suspender a turnê nos Estados Unidos que estava a programada de 01 a 26 de julho de 2018. Isso não é tudo. Há vários dias, foram perdidos os rastros de Nardella e da sua família que teriam fugido para os Estados Unidos, no aguardo das decisões do núncio Giordana.
Até a abertura do inquérito interno, Nardella com sua esposa e filhos moraram no apartamento de 400 metros quadrados, onde, até novembro de 2013, data da sua morte, vivia o Cardeal Domenico Bartolucci, que dirigiu o coro da Capela Sistina por 41 anos, de 1956 a 1997, e que em 2010 recebeu a nomeação como cardeal de Bento XVI. O apartamento está localizado no histórico edifício que abriga o coro, no centro de Roma, na via del Monte della Farina.
Na época da morte do cardeal o apartamento ficou vazio durante 3 anos. Então Nardella, com a aprovação do então secretário de Estado, o cardeal Tarcisio Bertone, conseguiu ocupá-lo e foi morar com a família depois de ter feito reformas por seis meses. Tanto Nardella, contabilista, como sua esposa, psicóloga, tinham os respectivos escritórios dentro do edifício que usufrui de extraterritorialidade. Outra coisa que causou incômodo nos últimos anos, foi a escolha da esposa Nardella de instalar seu consultório na antiga capela do prédio, antigamente usado como convento dos monges Teatinos.
Nos últimos tempos, é a primeira vez que o antigo coro do Papa é objeto de uma investigação interna. Com os seus 1500 anos de história, a Capela Musical Pontifícia Sistina é hoje o mais antigo coro do mundo ainda em atividade. "Encontramos - lemos em seu sítio oficial - registros dos cantores do Papa desde os primeiros séculos da Igreja e sabemos que Gregório Magno, em 597 enviou para evangelizar a Inglaterra, junto com os monges, alguns cantores. O Capela Musical do Papa seguiu ao longo dos séculos, participando ativamente, todas as reformas da liturgia papal até hoje. Em sua função de coro pessoal do Santo Padre é chamada a ser uma ferramenta para o ecumenismo e o diálogo entre denominações cristãs para dar o seu contributo para recompor na arte o que foi separado por eventos históricos e políticos".
Desde 2010, por decisão de Bento XVI, quem dirige o coro da Capela Sistina é monsenhor Palombella que, em 2015, foi reconduzido ao cargo por Francisco. Nascido em Turim, em 1967, o diretor foi ordenado sacerdote. Ele é membro da Congregação salesiana desde 1996. Palombella também é membro, na função de especialista, da consulta do Departamento Litúrgico Nacional da Conferência Episcopal Italiana.
Em 2017 Bergoglio nomeou-o consultor da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. Tanto com o Coro inter-Universitário de Roma, que dirigiu até 2011, como com a Capela Musical Pontifícia Sistina tem a seu crédito inúmeros concertos na Itália e no mundo e uma série de gravações em CD e DVD.
A investigação sobre a Capela Sistina ocorre um ano depois do escândalo que atingiu outro coro famoso e antigo, das vozes brancas da Catedral de Regensburg. Naquele caso, no entanto, o delito era diferente: 547 crianças haviam sofrido abusos físicos e psicológicos por padres e professores entre 1945 e o início dos anos 1990. Em 67 casos houve também violência sexual. Um escândalo que atingiu diretamente a família Ratzinger, porque o irmão mais velho do papa emérito Bento XVI, monsenhor Georg, foi por 30 anos, de 1964 a 1994, diretor dos Regensburger Domspatzen, como são conhecidos em todo o mundo.
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Vaticano, tempestade sobre as contas do coro do Papa. Suspenso o diretor administrativo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU