10 Outubro 2017
Numa extensa carta pastoral, o cardeal-arcebispo de Buenos Aires Mario Poli diz que foi levado a pensar um sínodo diocesano depois do importante discurso de Francisco proferido em outubro de 2015 sobre o 50º aniversário da instituição do Sínodo dos Bispos em Roma.
A reportagem é de Austen Ivereigh, publicada por Crux, 07-10-2017. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Inspirado pelo convite do Papa Francisco em 2015 a restaurar a antiga prática de assembleias e consultas da Igreja, o arcebispo de Buenos Aires anunciou um sínodo diocesano com duração de três anos e que se voltará especialmente à missão e escuta de todos os batizados.
Por ser a diocese natal do papa, este primeiro Sínodo – em 400 anos de história – provavelmente será acompanhado de perto por bispos de outros lugares que contemplam a ideia de fazer algo semelhante.
Numa extensa carta pastoral, o cardeal-arcebispo Dom Mario Poli disse que foi levado a pensar um sínodo diocesano depois do importante discurso do papa em outubro de 2015 sobre o 50º aniversário da instituição do Sínodo dos Bispos em Roma.
Nele, o papa convidou a Igreja a introduzir meios de discernimento coletivo em todos os níveis, instrumentos que tornariam possíveis o diálogo e a consulta a todo o Povo de Deus, sustentando que “precisamente o caminho da sinodalidade é o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milênio”.
Poli diz que ficou tocado em especial pela menção do papa sobre o sínodo diocesano como o “primeiro nível no exercício da sinodalidade” em que o clero, os religiosos e religiosas e leigos são convidados a colaborar com o bispo para o bem da comunidade eclesial sob o antigo princípio da Igreja capturado na frase latina: “Quod omnes tangit, ab omnibus tractari e approbari debet” – ou seja: o que afeta a todos deve ser tratado e aprovado por todos.
Professor de história da Igreja durante anos, Poli disse, em entrevista no começo deste ano, que os sínodos trouxeram grandes benefícios à Igreja no passado, especialmente nas missões da era colonial espanhola no continente americano.
São Toríbio de Mogrovejo, arcebispo de Lima no século XVII, organizou as atividades missionárias da Igreja ao longo de um amplo território que incluía o Peru, o Equador e partes da Colômbia e do Chile, por meio de conselhos provinciais e num total de 14 sínodos diocesanos.
“Si a principios de siglo XVII él pudo hacer tantos sínodos, nosotros después de 400 años de vida creo que nos debemos un sínodo”, contou o religioso à revista espanhola Vida Nueva.
Poli diz ver o processo sinodal de três anos que se inicia este ano em Buenos Aires como a chave para realizar o sonho que o Papa Francisco tem de uma Igreja orientada permanentemente para a missão, a qual, segundo ele, é central para todo o processo.
“Como o Sínodo de Buenos Aires quer ser um impulso evangelizador renovado, o Papa Francisco nos fez perceber que a totalidade dos batizados, isto é, os mais comprometidos e também os que se afastaram por algum motivo, devem ser consultados na hora de programar as ações pastorais”, escreve Poli em sua carta pastoral.
O sínodo dividir-se-á em três partes. Estes meses restantes de 2017 serão dedicados à escuta e consulta, prestando atenção especial às razões pelas quais as pessoas se afastaram da Igreja.
O próximo ano, 2018, será dedicado ao estudo e à reflexão do material reunido por grupos em diferentes áreas pastorais da arquidiocese a partir das paróquias, movimentos, ordens religiosas e organizações de caridade.
Por fim, “o ano de 2019 dedicaremos a pedir luzes para conhecer a vontade de Deus na vida e missão da arquidiocese”, lê-se no texto de onze páginas intitulado “Carta Pastoral para marcar o início do I Sínodo da Arquidiocese da Trindade Santa de Buenos Aires, 2017-2018”.
No final de 2019, o grupo responsável por organizar o sínodo, conhecido como a “Equipo de Animación Sinodal – EAS”, irá elaborar uma série de declarações e decretos extraídos de cada área pastoral em um documento conclusivo a ser publicado assim que for aprovado pelo arcebispo.
No ano seguinte, 2020, a diocese celebrará o seu 400º aniversário.
Os moradores de Buenos Aires são famosos por suas rivalidades e discussões, e Poli reconhece que esta primeira experiência de uma assembleia sinodal arquidiocesana incluirá provavelmente “debates e desacordos acalorados, os quais precisaremos superar via diálogo e caridade cristã”.
Citando o documento papal Evangelii Gaudium, Poli escreve que o importante é desenvolver uma “comunhão na diversidade” que permita que as diferenças tencionadas se transformem em algo que vá além delas.
“Todos sairemos edificados e contentes se buscarmos, por meio do diálogo, o consenso desejado, superando o desânimo que causa o confronto estéril”, observa o cardeal-arcebispo, acrescentando que uma “espiritualidade de comunhão” será fundamental para o sucesso do Sínodo.
A carta pastoral pode ser lida, em espanhol, aqui.
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Primeiro Sínodo da história da diocese natal do Papa busca aprender com os católicos afastados - Instituto Humanitas Unisinos - IHU