05 Dezembro 2016
O cardeal Bechara Boutros Rai recordou o vínculo especial entre o ex-superior-geral dos jesuítas e o País dos Cedros. Desde 1958, o Líbano, do qual era um profundo conhecedor, representou uma terra de estudo e de missão. Ele era um ponto de referência para os sacerdotes e seminaristas, estudantes jovens e idosos.
A reportagem é de Fady Noun e publicada por Asia News, 01-12-2016. A tradução é de André Langer.
Na igreja de Nossa Senhora de Jamhour, os católicos do Líbano e da Companhia de Jesus celebraram os funerais solenes, e ao mesmo tempo em privado, para comemorar a morte do Pe. Peter-Hans Kolvenbach, superior-geral da ordem jesuíta durante um longo tempo (1983-2008). O funeral aconteceu no dia 27 de novembro, dia seguinte à morte do sacerdote, que faleceu poucos dias antes de completar 88 anos, os quais celebraria no dia 30 de novembro.
A cerimônia contou com a presença do patriarca maronita, o cardeal Bechara Rai, do Pe. Artuso Sosa Abascal, o novo superior-geral dos jesuítas, o jesuíta superior provincial para o Oriente Médio e o Magreb, e o núncio apostólico dom Gabriele Caccia. Nos atos também estiveram presentes o vigário patriarcal dom Hanna Alwan, o arcebispo de Beirute, dom Boulos Matar, o superior dos jesuítas no Líbano e também membros da família do padre Kolvenbach.
Como assinala o Pe. Salim Daccache, reitor da Universidade de São José, e o primeiro a anunciar a morte em uma nota biográfica muito discreta, o Pe. Kolvenbach – que governou a Companhia de Jesus durante 25 anos – morreu em Beirute, “sua terra de sempre”. De fato, o ex-superior-geral dos jesuítas tinha escolhido desde 1958 o Líbano como terra de missão.
No entanto, em 1981 foi chamado a Roma como reitor do Pontifício Instituto Oriental; depois, dois anos mais tarde, o homem da paz e da harmonia foi eleito superior-geral da Companhia de Jesus. Após sua renúncia, em 2008, decidiu voltar a Beirute definitivamente e transformar-se no administrador do Fundo Armênio na Biblioteca Oriental e pesquisador do centro de documentação e pesquisa árabe-cristão na Universidade de São José.
Deste modo, o Pe. Kolvenbach pôde voltar ao primeiro amor, porque é precisamente no Instituto de Letras Orientais que pôde aprender os fundamentos da língua e da literatura armênia, na qual se especializou. E foi sempre em Beirute que, uma vez terminados os seus estudos de Teologia, foi ordenado sacerdote no dia 29 de junho de 1961, segundo o rito armênio. Paralelamente, aprofundou seus estudos de Filologia e Linguística em Beirute e Paris.
A guerra marcou para sempre e de forma indelével sua carreira acadêmica. Empenhado nos estudos de doutorado centrou-se de “modo particular na Bíblia armênia”, quando, no final dos anos 70, uma bomba caiu sobre o prédio em que se encontrava a comunidade de São Gregório dos jesuítas, na qual residia. A explosão transformou em pó o armário do interior, no qual eram armazenados os arquivos da sua pesquisa, classificados durante anos.
“O Pe. Kolvenbach foi famoso por sua simplicidade – destacou o Pe. Daccache em seu discurso –, por sua franqueza, por seu humor e por seu caráter ascético. De fato, vivia no andar superior da residência, no único quarto em que havia apenas um colchão no chão”.
Grande amigo do Líbano, sua hospitalidade e seus comentários foram reservados para aqueles que tiveram a sorte de poder ser considerados amigos. Muitos buscavam sua companhia e foram ao seu encontro em busca de um conselho. Era considerado, com razão, um conhecedor do Líbano e de sua vida cotidiana mais do que os próprios cidadãos libaneses.
O Patriarca Rai juntou-se, no dia 30 de novembro, ao grupo de pessoas que renderam tributo ao Pe. Kolvenbach “em um espírito de fidelidade a uma pessoa excepcional, que tinha em seu coração um grande amor pelo Líbano, para o Líbano e para as Igrejas Orientais”. “O Pe. Kolvenbach – disse o líder da Igreja maronita – deu muito aos nossos sacerdotes e seminaristas, aos nossos jovens estudantes e idosos, os jovens e aos mais pequenos, durante os 24 anos no Líbano, primeiro como estudante de Teologia e depois como professor na Universidade de São José”. “De volta ao Líbano – explicou o cardeal –, apoiou o nosso país através da oração e, iluminado com seu exemplo de humildade e serenidade, a alegria e a paz, e seu duro trabalho como intelectual”.
Rendendo homenagem ao Pe. Kolvenbach “pelo que representa e pelo que fez”, o patriarca destacou, em particular, “sua fixação no Líbano [que] surge no modo de seguir, em detalhe, os acontecimentos que o ensanguentaram”. “Quem de nós – acrescentou –, de passagem por Roma, não foi convidado à sua preciosa mesa e não podia recordar sua preocupação com o Líbano, combinada com sua esperança? Que valor e que paz derivava destas reuniões tão fraternais”.
O Pe. Kolvenbach encarna “a fidelidade à Igreja e ao Líbano dos padres jesuítas, desde a sua primeira chegada [ao País dos Cedros] há quatro séculos”, recordou o Patriarca Rai, que terminou seu discurso dizendo que toda a Igreja maronita roga também “pela Companhia de Jesus e pelo êxito do mandato do novo superior-geral”.
Ao término da celebração, fez-se a apresentação de condolências.
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Patriarca Rai: o Pe. Kolvenbach é um testemunho de fidelidade dos jesuítas à Igreja e ao Líbano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU