31 Março 2013
"Às vezes nos parece que Deus não responde ao mal, que permanece em silêncio. Na realidade, Deus falou, respondeu, e a sua resposta é a cruz de Cristo: uma Palavra que é amor, misericórdia, perdão". Depois de uma hora e meia com a cabeça inclinada e em silêncio, muitas vezes com os olhos fechados em meditação, o Papa Francisco tomou a palavra no fim da Via Sacra no Coliseu e falou do mal presente no mundo e "em nós". Muitas vezes, Deus parece silente, explica o papa. Mas a sua resposta existe e é a cruz de Cristo, o seu abaixamento, a sua prostração como a do papa em São Pedro na tarde dessa sexta-feira, antes da chegada ao Coliseu.
A reportagem é de Paolo Rodari, publicada no jornal La Repubblica, 30-03-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
É um dos momentos mais repletos de significados da Sexta-Feira Santa. Francisco, o papa que teceu todo esse início de pontificado sobre a necessidade de um retorno a uma Igreja "humilde", "dos pobres", que abandone o "narcisismo" e a "mundanidade", se prostra para pedir ajuda. A melhor imagem de um papado que quer se pôr a serviço, de um papa que pretende ser pastor e, portanto, chefe de uma Igreja que tem na radicalidade evangélica e, ao mesmo tempo, na necessidade da conversão o seu significado mais profundo.
E nas meditações escritas ainda para a Via Sacra pelos jovens libaneses juntamente com o patriarca Bechara Boutros Rai, emergem aqueles muitos "pilatos" que "seguram nas mãos as rédeas do poder e fazem uso dele a serviço dos mais fortes". Ao peso da cruz que curva as costas de Jesus, afirmam, acrescenta-se aquele do mundo que curva as suas costas sob o "laicismo cego", que quer sufocar a fé e a moral, ou o "fundamentalismo violento que usa como pretexto a defesa dos valores religiosos".
O retorno a uma Igreja humilde, que vive da cruz, está também nas palavras do pregador da Casa Pontifícia, padre Raniero Cantalamessa, que também na Sexta-Feira Santa à tarde, em São Pedro, lembrou como no edifício da Igreja, ao longo dos séculos, "para se adaptar às exigências do momento" foram construídas paredes, escadas, quartos e salas. Porém, "chega o momento em que se percebe que todas essas adaptações não respondem mais às exigências atuais, ou, melhor, são obstáculos, e então é preciso ter a coragem de derrubá-las e levar o edifício de volta à simplicidade e à linearidade das suas origens".
Cantalamessa, franciscano (frei capuchinho), citou a história de Franz Kafka intitulado Uma mensagem imperial. Como o castelo de Kafka, a Igreja também é feita de "muros divisórios, a partir daqueles que separam as várias Igrejas cristãs entre si, o excesso de burocracia, os resíduos de cerimoniais, leis e controvérsias passadas, que já se tornaram apenas detritos...".
Mas, em um certo ponto, tudo isso deve ser abatido. Cantalamessa também disse: "Foi justamente essa a missão recebida por São Francisco diante do crucifixo de São Damião: 'Vai, Francisco, repara a minha Igreja'".
No dia em que a Igreja celebra a paixão de Jesus, também surgiu uma notícia lúdica. Nos próximos meses, em honra ao Papa Francisco, Itália e Argentina irão organizar um amistoso de futebol. A ideia foi lançada pelo técnico italiano, Cesare Prandelli.
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A oração do Papa Francisco estendido no chão - Instituto Humanitas Unisinos - IHU