Domingo de Pentecostes – Ano A – O sopro Espírito gera paz e alegria e impulsiona a missão

Foto: Cathopic

Por: MpvM | 26 Mai 2023

A reflexão é de Virma Barion, religiosa da Congregação Carmelitas da Caridade de Vedruna. Ela é teóloga, biblista e atua na formação pastoral e em assessorias teológicas.

 

Leituras do dia

1ª leitura - At 2,1-11a
Salmo - Sl 103(104),1ab.24ac.29bc-30.31.34 (R. cf. 30)
2ª leitura - 1Cor 12,3b-7.12-13
Evangelho - Jo 20,19-23

Acolho a quem vai participar desta reflexão, nesta data tão bonita e esperada: Domingo de Pentecostes. Sintam-se muito benvindas e benvindos.
Pentecostes significa 50 dias após a Páscoa. Durante esses cinquenta dias, visitamos diversos texto que nos falavam da Ressurreição de Jesus, textos que alimentaram a nossa fé neste tempo tão conturbado em que vivemos. Cada dia despertamos a consciência de que necessitamos muito da presença da Ruah Santa, o Espírito de Deus para nos guiar na escuridão e na luz dos nossos tempos.

Os textos que a liturgia nos oferece no dia de hoje alentam o nosso coração. Ao orar com a primeira leitura (At 2,1-11a), resolvi sentar-me com as mulheres que estavam no cenáculo naquele dia e conversei com elas sobre o que acontecera. Lá estavam elas, junto com Maria, a Mãe de Jesus, depois de terem feito uma bonita caminhada de três anos, para alguma delas, desde Galileia até Jerusalém, com Jesus, o Mestre. Elas me contaram que, como mulheres que percebem as coisas de longe, davam-se conta das necessidades de Jesus e dos seus discípulos e os assistiam carinhosamente. Foram elas que prepararam a mesa da última ceia, embora não apareçam quase nada nos relatos e, muito menos, no imaginário dos artistas que representaram aquele momento da Ceia. Contaram-me o que aconteceu na morte e no sepultamento do amor de suas vidas. Elas estiveram presentes o tempo todo, tanto no calvário como no sepulcro, pois precisavam ver direitinho como o colocavam. Tinham intenção de ir até lá, logo cedo, quando ainda estava escuro, no dia da Ressurreição. Elas nos convidam, tanto a mulheres como a homens, a ficar atentas e atentos hoje aos sinais da presença do Espírito de Deus no meio de nós, mesmo que seja difícil de vislumbrá-lo.

O que ainda me contaram sobre o dia de Pentecostes?

Disseram-me que naquele dia estavam todas no mesmo lugar, junto com os discípulos de Jesus. Como já dissemos, Maria a mãe de Jesus também estava presente. De repente, um vento forte encheu a casa onde estavam e umas línguas como de fogo, pousaram sobre quem se encontrava na sala. Nesse momento foram se sentindo repletas do Espírito Santo. A praça, em frente à casa, ficou cheia de gente, dados os fenômenos extraordinários que aconteciam.

Pedro saiu à janela e começou a falar ao povo. Claro, ele falava a língua da Galileia, mas todas as pessoas presentes entendiam a sua linguagem, como se fosse em sua própria língua. Pedro deu testemunho do que estava acontecendo pela força de Jesus de Nazaré que havia ressuscitado. E o resultado daquele evento, foi a coragem e a esperança que voltou ao grupo. Perderam o medo e foram a anunciar por todo lado, a Ressurreição de Jesus.

Será muito oportuno perguntar-nos hoje: o que nos está causando medo?

Mas, a liturgia de hoje não termina com o relato de Pentecostes. Ela nos oferece um salmo maravilhoso que, tenho a certeza, de que vocês, como eu, amamos. É o Salmo 103. Convido vocês a rezarem esse Salmo hoje à noite, antes de dormir. Ele deixará um sabor gostoso no coração da gente. O autor dessa oração louva a Deus pela sua presença amorosa no universo e diz, claramente que, sem o sopro do Espírito, tudo volta ao pó deixando de existir. É uma invocação amorosa ao Espírito que enche toda a terra. O salmista agradece a presença de Deus tão clara no nosso mundo e diz que essa presença nos enche de alegria. Aqui podemos perguntar-nos pela causa da nossa tristeza. Será que ela é tão persistente porque nos falta o sopro do Espírito de Deus?

Depois desse lindo Salmo a liturgia nos oferece também um fragmento da primeira Carta de Paulo aos Coríntios (1Cor 12,3b-7.12-13). Nesse fragmento o autor nos faz contemplar a diversidade de dons que existem entre nós, frutos do mesmo Espírito. Ele nos lembra que os dons existem para o bem comum, para o bem de todos. Não podem ser guardados por cada pessoa. Paulo compara isto com os membros do corpo: o corpo tem muitos membros, mas cada membro serve o corpo formando uma unidade. Quando servimos às demais pessoas com os nossos dons, formamos a unidade que nos garantiu Jesus com sua Ressurreição. Vale a pena viver essa experiência.

Mas, a liturgia não para por aqui. Ela nos oferece um trecho muito bonito do Quarto Evangelho (Jo 20,19-23), que é conhecido entre nós como Evangelho de João. O relato de hoje insiste em nos mostrar como os discípulos eram tomados pelo medo depois da morte de Jesus. Sua estratégia era ficar fechados por medo dos judeus, pois os perigos da perseguição e da morte eram constantes para os seguidores de Jesus. Quem se atrevesse a seguir o caminho traçado por Jesus e praticar as mesmas ações que Ele havia praticado, poderia ser morto como Ele morreu. Inclusive isto justifica a postura das mulheres no calvário “olhando de longe” (segundo Marcos), pois nem se podia manifestar luto ou solidariedade para com os crucificados por motivos políticos. Poderiam sofrer a mesma pena. Será que em nossos dias há perseguição a quem segue o caminho de Jesus, realizando o que ele realizou?

No relato de hoje Jesus oferece duas vezes a paz para o grupo reunido. Mostra-lhes as mãos e o lado, comprovando que o Ressuscitado era o Crucificado. Esse encontro provocou alegria nos discípulos. E, uma vez pacificados e alegres, receberam o sopro do Espírito e a grande missão do envio, com a grandeza do poder de perdoar os pecados.

O ato de perdoar é motivo de paz e de alegria. Imagino que vocês têm essa experiência da paz e da alegria depois de perdoar alguém ou alguma realidade ou receber o perdão. Eu já vivi isso e posso dar o testemunho de que vale a pena perdoar sempre. Então viveremos verdadeiramente a alegria da Ressurreição. Vamos tentar?

Quando o Divino Espírito nos invade com os seus sete dons e seus 12 frutos, os milagres acontecem: quem é mutilado, pode aplaudir; quem é cego e surdo pode ver e ouvir as maravilhas de Deus; quem é coxo, pode saltar e correr. Acabam-se as discriminações, as exclusões, o terrorismo, a violência.

Que venham sobre nós os dons e o frutos do Espírito Santo. Amém.

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