Meios de comunicação religiosa da Europa e do Brasil pedem fim do comércio entre seus países e Israel

Rapaz palestiniano observa um soldado israelita junto ao muro que separa Israel e a Palestina ocupada (Foto: Justin McIntosh | Wikimedia Commons)

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07 Julho 2025

Um conjunto de sete publicações de comunicação religiosa independentes, entre as quais o 7Margens e o Instituto Humanitas Unisinos - IHU, divulgam nesta manhã de segunda-feira, 7 de Julho, em simultâneo, uma carta aberta dirigida e enviada também aos governos de Portugal, Brasil, Espanha, Itália, e aos responsáveis da União Europeia, exigindo a denúncia do acordo de comércio entre União Europeia e Israel, o fim do comércio de armas com o Estado judaico, o reconhecimento do Estado da Palestina e a libertação imediata de todos os reféns em poder do Hamas.

A carta é publicada por 7Margens, 07-07-2025.

O texto pede ainda o reconhecimento como processo de genocídio da operação do exército israelense na Faixa de Gaza e o apoio à reconstrução de “uma Palestina independente e democrática, no quadro dos dois povos, dois Estados livres e independentes”.

Apesar de estar aparentemente em conclusão um acordo de cessar-fogo, estes meios consideram que há questões de fundo que devem ser encaradas e é nessa perspectiva que se colocam. Aliás, as anteriores tréguas negociadas, nomeadamente a do início do ano, rompida por Israel com a retoma dos bombardeamentos, mostrou a fragilidade dos acordos conseguidos até agora. Por isso, consideram que deve ser feita pressão junto de Israel para que pare todas as hostilidades e dê garantias de um cessar-fogo durável, possibilidade de ajuda humanitária e estabelecimento de um Estado palestino livre e democrático.

Com o título “Vemos, ouvimos e lemos, não podemos calar – Parar o genocídio, dar de comer aos esfomeados, construir a paz”, os profissionais das sete publicações dizem que enquanto jornalistas não lhes “basta noticiar a violência trágica que se abate sobre um povo massacrado diariamente em Gaza e espoliado e expulso das suas terras na Cisjordânia”; e que, enquanto crentes não se podem “resignar ao silêncio”. Pelo contrário, juntam a sua às vozes que dizem que “há outra solução” e que “israelenses e palestinos podem viver lado a lado em paz”, cumprindo as resoluções das Nações Unidas.

“Um cessar-fogo imediato e durável; a libertação imediata dos reféns em poder do Hamas; restabelecer a ajuda humanitária em segurança; iniciar negociações com vista à paz justa na região; exigir o acesso livre dos meios de comunicação aos territórios da Palestina; criar condições para a reconstrução da Palestina à luz do direito internacional e numa base democrática”, são medidas sugeridas pelas publicações signatárias: 7Margens (Portugal), Instituto Humanitas Unisinos (Brasil), Catalunya Religió, Flama e Religión Digital (Espanha), Adista e Rocca (Itália).

O apelo dirige-se aos responsáveis políticos e a “todos os cidadãos e cidadãs, crentes e não crentes, bem como às igrejas e diferentes comunidades religiosas e aos seus responsáveis”, acrescenta o documento. “É tempo de quebrar o silêncio cúmplice e agir! Hoje, ao contrário do que se passou no início da década de quarenta do século passado no nosso continente, hoje vemos, ouvimos e lemos notícias do genocídio. Não podemos calar.”

Do texto, está a ser dado conhecimento também a responsáveis do Vaticano e do Conselho Mundial de Igrejas, apelando a que essas instâncias denunciem também a situação “e exerçam toda a sua influência para a consecução da paz, incluindo oferecendo-se como mediadores”.

Eis a carta.

Carta aberta de publicações de comunicação religiosa aos governos e à União Europeia, sobre a tragédia de Gaza

Vemos, ouvimos e lemos, não podemos calar – Parar o genocídio, dar de comer aos esfomeados, construir a paz

Nós, diretores e jornalistas dos media abaixo referidos, erguemos a nossa voz para exigir aos governos dos nossos países e os responsáveis políticos da União Europeia que:

  • cessem o comércio de armas com Israel
  • reconheçam o Estado da Palestina,
  • denunciem o acordo de comércio União Europeia-Israel
  • garantam a libertação imediata de todos os reféns em poder do Hamas
  • reconheçam como processo de genocídio a operação do exército israelense em Gaza
  • e apoiem a reconstrução de uma Palestina independente e democrática, no marco dos “dois povos, dois Estados livres e independentes”.

Nesta hora crítica não podemos ficar silenciosos. Como jornalistas, não nos basta noticiar a violência trágica que se abate sobre um povo massacrado diariamente em Gaza e espoliado e expulso das suas terras na Cisjordânia. Não nos basta escrever editoriais e opinar sobre a bestialidade desumana que se desenrola em Gaza.

Mulheres em Gaza fazem fila num ponto de distribuição de alimentos (Foto: UNRWA)

Como crentes não nos podemos resignar ao silêncio. Calar-nos é aceitar que a única solução para o conflito é o extermínio do povo palestino e a anexação da Faixa de Gaza pelo Estado de Israel. Como crentes juntamos o nosso grito de esperança para dizer: há outra solução! israelenses e palestinos podem viver lado a lado em paz, dois povos, dois Estados! Para tal basta cumprir as resoluções das Nações Unidas.

É preciso um cessar-fogo imediato e durável; a libertação imediata dos reféns em poder do Hamas; restabelecer a ajuda humanitária em segurança; iniciar negociações com vista à paz justa na região; exigir o acesso livre dos meios de comunicação aos territórios da Palestina; criar condições para a reconstrução da Palestina à luz do direito internacional e numa base democrática.

O nosso apelo dirige-se em primeira instância aos responsáveis políticos dos países da União Europeia e da própria União, mas também a todos os cidadãos e cidadãs europeus, crentes e não crentes, bem como às igrejas e diferentes comunidades religiosas e aos seus responsáveis. É tempo de quebrar o silêncio cúmplice e agir! Hoje, ao contrário do que se passou no início da década de quarenta do século passado no nosso continente, hoje vemos, ouvimos e lemos notícias do genocídio. Não podemos calar.

Uma vez que na maior parte dos casos somos meios de comunicação religiosa, apelamos também à hierarquia católica e ao Papa Leão para que o Papa Leão, a Igreja Católica e o Conselho Mundial de Igrejas, em particular, denunciem a situação e exerçam toda a sua influência para a consecução da paz, incluindo oferecendo-se como mediadores.

Ao assinarmos este manifesto comprometemo-nos a acolher e noticiar as iniciativas lançadas pelos nossos concidadãos contra o genocídio em Gaza e a favor da paz entre aqueles povos.

7Margens (Portugal) – jornal online de informação sobre religiões, espiritualidades, cultura e direitos humanos.

Adista (Italia) – semanário independente de informação religiosa e política.

Catalunya Religiò (España) – Informativo independiente de actualidade religiosa publicado con o apoio de várias entidades religiosas.

Flama (España) – Agência cristã de notícias.

Instituto Humanitas Unisinos – IHU (Brasil) – site de reflexões inter/transdisciplinares sobre sociedade sustentável, ética, teologia pública, mulheres sujeitos socioculturais e trabalho.

Religión Digital (España) – Portal de informação sócio-religiosa em espanhol para Espanha e América desde há 27 anos.

Rocca (Italia) – Revista pela paz, direitos humanos, democracia, não-violência e justiça.

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