19 Fevereiro 2025
A enxurrada de medidas sobre a imigração tomadas pelo presidente Donald Trump nestas primeiras semanas de mandato está provocando uma espécie de reação em cadeia das igrejas estadunidenses.
A reportagem é de Francesco Peloso, publicada por Domani, 15-02-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
A Igreja Católica, em primeiro lugar, está elevando o tom de suas críticas e, nos últimos dias, o papa também interveio com uma carta dirigida aos bispos estadunidenses dedicada justamente à crise da imigração. Várias igrejas protestantes também expressaram forte oposição às políticas anti-imigração promovidas pela Casa Branca.
O papa resistiu por cerca de 20 dias (a posse de Trump ocorreu em 20 de janeiro) antes de atacar o novo governo republicano: “Estou acompanhando de perto a grande crise que está ocorrendo nos Estados Unidos com o início de um programa de deportações em massa”, escreveu o pontífice em sua mensagem aos bispos EUA. “A consciência corretamente formada”, acrescentou, “não pode deixar de fazer um julgamento crítico e expressar seu dissenso em relação a qualquer medida que identifica tácita ou explicitamente o status ilegal de alguns migrantes com a criminalidade”. Francisco explicava logo em seguida que “um autêntico estado de direito é demonstrado precisamente no tratamento digno que todas as pessoas merecem, especialmente as mais pobres e marginalizadas”.
Palavras que provocaram uma reação incomodada do responsável pela “segurança de fronteira” da Casa Branca, Tom Homan: “Tenho palavras duras para o papa: digo isso como católico de longa data. Ele deveria se concentrar em seu trabalho e deixar a aplicação das leis para nós. Ele tem um muro ao redor do Vaticano, não tem?”.
Várias das ordens executivas de Trump despertam a preocupação dos líderes cristãos nos EUA: a suspensão do programa de acolhimento de refugiados, portanto, a interrupção da análise dos pedidos de asilo; a possibilidade dada às autoridades policiais de procurar imigrantes ilegais até mesmo dentro de igrejas, hospitais e escolas; a política de deportações em massa que seria dirigida contra milhões de imigrantes que já residem nos EUA há muitos anos. Também é particularmente alarmante o bloqueio da fronteira sul com o México, onde milhares de pessoas estão esperando uma resposta sobre a possibilidade de entrar nos EUA.
A transferência de migrantes para a prisão de Guantánamo também foi alvo de duras críticas por parte de organizações católicas: “A remoção de migrantes do solo estadunidense para detenção aumenta o alto risco de violações de direitos, especialmente em áreas conhecidas por violações de direitos humanos”, afirmou Anna Gallagher, diretora executiva da Catholic Legal Immigration Network.
Outro elemento de conflito entre a Casa Branca e a Igreja Católica é a suspensão da Usaid pela dupla Trump-Musk, o principal braço humanitário e de desenvolvimento internacional do governo dos EUA, que só em 2023 administrou mais de 40 bilhões de dólares em dotações combinadas. O congelamento de fundos, dos quais algumas agências católicas estão entre os maiores beneficiários, entre elas a Catholic Relief Services, que dirigiu um apelo ao Congresso para permitir que os fundos sejam utilizados, no qual, entre outras coisas, pode se ler: “Esse congelamento está afetando milhões de nossas irmãs e irmãos que precisam de acesso à assistência humanitária, de saúde e de desenvolvimento”.
Alistair Dutton, Secretário Geral da Caritas Internationalis, foi ainda mais duro: “A interrupção abrupta da USAID matará milhões de pessoas e condenará centenas de milhões a uma vida de pobreza desumanizadora. Isso é uma afronta desumana à dignidade humana dada por Deus às pessoas, o que causará imensos sofrimentos”. Mais ainda, o congelamento de fundos federais pelo governo Trump para organizações sem fins lucrativos que prestam assistência social aos mais pobres do país provocou outras reações negativas. A começar pela da Catholic Charities USA: “As pessoas que perderão o acesso a cuidados essenciais são nossos vizinhos e familiares. Elas vivem em todos os cantos do país e representam todas as raças, religiões e afiliações políticas... Pedimos encarecidamente que o governo reconsidere essa decisão”, disse a presidente Kerry Alys Robinson.
Previsíveis, também, as estocadas contra a Casa Branca vindas da Igreja Episcopal estadunidense (os anglicanos nos EUA), uma denominação à qual também pertence a Bispa Mariann Budde, de Washington, que havia criticado abertamente as políticas de imigração e contra os direitos das pessoas LGBTQ de Trump durante os ritos da cerimônia de posse do novo presidente.
“Em nossa Igreja”, pode afirma-se em uma declaração divulgada pela Igreja Episcopal, ”os migrantes são membros do corpo de Cristo e parte de nossas congregações e comunidades, e nossa vida comum é mais rica por causa de sua contribuição... Estamos ao seu lado e enfrentaremos esses desafios juntos”. Discurso semelhante ao da Igreja Evangélica Luterana nos EUA: “Como igreja, somos chamados a nos manifestar quando o governo distorce ou nega a imagem de Deus em cada pessoa, colocando em risco o acesso à proteção, à paz e ao pão de cada dia. Quando ocorre dano ou iniquidade, somos chamados por Deus para responder com amor e mobilização.”