20 Dezembro 2024
Inventário de termelétricas, produzido pelo IEMA, indica que elas foram menos acionadas no ano passado do que em 2022, mas cada gigawatt-hora ficou mais poluído.
A reportagem foi publicada por ClimaInfo, 20-12-2024.
O parque termelétrico que injeta eletricidade no Sistema Interligado Nacional (SIN) emitiu 4,8% a mais por gigawatt-hora (GWh) em 2023, em comparação ao ano anterior. Foram emitidas 671 toneladas de dióxido de carbono equivalente por gigawatt-hora (tCO2e/GWh) no ano passado, ante 641 tCO2e/GWh em 2022. Esse aumento aconteceu porque as usinas a carvão mineral, mais poluentes, operaram por mais tempo.
É o que aponta o 4º Inventário de emissões atmosféricas em usinas termelétricas, lançado na 5ª feira (19/12) pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA). O estudo também mostra que enquanto usinas a gás fóssil registraram queda de 20% na operação no ano passado ante 2022, as usinas a carvão tiveram aumento de 11%, destaca Nayara Machado na Agência Eixos.
Apesar do aumento de emissões por GWh, houve queda no acionamento das térmicas, o que resultou em uma redução de 10% nas emissões totais associadas à geração baseada em combustíveis fósseis. Isso devido a níveis suficientes de água em reservatórios para geração hidrelétrica e a ascensão de fontes renováveis. “Mas, em períodos de estiagem, como ocorreu em 2024, a geração dessa modalidade aumenta e, como consequência, as emissões são maiores também”, explicou Raissa Gomes, coordenadora do estudo e pesquisadora do IEMA.
Ao todo, as 67 termelétricas analisadas geraram 18 milhões de tCO2e, das quais 96% são provenientes de quase metade delas. Dez usinas responderam por 71% dos gases de efeito estufa, sendo metade delas alimentadas por carvão mineral e a outra, por gás fóssil. Sobre as usinas com os maiores níveis de emissões por GWh gerado, nove das dez piores são movidas a carvão.
Os dados do IEMA comprovam a ineficiência de usinas que empregam o carvão como combustível – em 2023 essa categoria de usinas teve média de eficiência de apenas 33%. A Região Sul é a maior emissora, com 45% das emissões inventariadas (8 milhões de toneladas de CO2e).
Vale lembrar que o Projeto de Lei 576/2021, que regula as eólicas offshore, foi aprovado na Câmara e no Senado com “jabutis” fósseis (matérias estranhas ao tema), entre eles a postergação dos contratos de termelétricas a carvão até 2050. Pela legislação em vigor, essa obrigatoriedade acabaria em 2028. Se o presidente Lula não vetar essa excrescência, teremos energia muito suja e mais cara por mais 22 anos.
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