26 Julho 2024
"O patriarca nunca critica abertamente o papa, mas, de fato, o inclui em seu alarme contra o Ocidente que 'traiu o Evangelho'. E, inclusive, o Patriarcado de Moscou rejeitou de forma brusca as tentativas do Vaticano de admitir de alguma forma a bênção de pessoas homossexuais que convivem com um parceiro do mesmo sexo".
O artigo é de Luigi Sandri, jornalista italiano, em artigo publicado por L'Adige, 22-07-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
O Vaticano está tentando restabelecer relações com Moscou, onde o Patriarca Kirill troveja contra a rendição das Igrejas ocidentais à modernidade, enquanto o Cardeal Secretário de Estado, Pietro Parolin, está na Ucrânia para uma festividade dos católicos latinos que se comemorava ontem, mas o papa não fez nenhuma menção a essa recorrência. O cardeal, como legado papal, presidiu a celebração de encerramento da peregrinação dos católicos de rito latino ao santuário mariano de Berdychiv. Esses fiéis, em sua maioria de origem polonesa, são uma minoria no país em comparação com os greco-católicos predominantes de rito bizantino. O prelado - que, além de Kiev, também visitou Odessa e Kharkiv, tomando conhecimento pessoalmente da imensa destruição causada no país pelos ataques russos iniciados em fevereiro de 2022 - reiterou continuamente o carinho especial de Francisco pela "martirizada Ucrânia" e seu voto de que uma "paz justa" seja finalmente alcançada. Mas como realizar esse grande sonho? O cardeal não elaborou seu pensamento.
O pontífice expressou repetidamente seu desejo de ir a Kiev, mas com a condição de que também possa, ao mesmo tempo, ir a Moscou. Até agora, no entanto, embora estivesse confirmado o "sim" das Igrejas ucranianas e do presidente Volodymyr Zelenskyj, nunca chegou o sinal verde do Patriarcado e do chefe do Kremlin, Vladimir Putin. Em junho de dois anos atrás, foi feita uma proposta para que Francisco e Kirill se encontrassem em Jerusalém; mas depois a hipótese foi cancelada, devido às diferenças intransponíveis entre Roma e Moscou sobre o julgamento ético da guerra em curso (que os russos chamam de "Operação Militar Especial").
O que fazer, então? Talvez alguma reunião esteja sendo preparada, embora não saibamos como e onde: a hipótese deriva do fato de que, em 11 de julho, o papa se encontrou com o metropolita Anton de Volokolamsk, o "ministro das relações exteriores" da Igreja russa: o Vaticano confirmou a audiência, mas sem dizer mais nada. Enquanto essa rede está crescendo (enriquecida pelas notícias que Parolin trará de Kiev para o papa), crescem também os ataques histórico-teológicos de Kirill ao Ocidente, acusado, em essência, de não mais defender os valores cristãos e de se render à secularização. O patriarca nunca critica abertamente o papa, mas, de fato, o inclui em seu alarme contra o Ocidente que "traiu o Evangelho". E, inclusive, o Patriarcado de Moscou rejeitou de forma brusca as tentativas do Vaticano de admitir de alguma forma a bênção de pessoas homossexuais que convivem com um parceiro do mesmo sexo.
Irredutivelmente divididos em tais questões éticas e, mais ainda, no julgamento ético sobre a Operação Militar Especial (que, para Kirill, é uma "guerra santa" legítima e obrigatória), que documento conjunto poderiam assinar juntos o papa da Primeira Roma e o Patriarca da Terceira Roma? Enquanto isso, o sangue de pessoas inocentes corre nos rios ucranianos.
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Papa e Patriarca continuam distantes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU