27 Junho 2024
“Não está claro do que falamos quando falamos da Palestina. O que, sim, está claro é o que ela deveria ser”, escreve Ricardo Dudda, jornalista espanhol, em artigo publicado por Ethic, 26-06-2024. A tradução é do Cepat.
No dia 10 de maio, a Assembleia Geral da ONU aprovou uma resolução dizendo que os palestinos reúnem os requisitos para ser membros de pleno direito das Nações Unidas. Na votação, 143 países foram a favor, 9 contra e houve 25 abstenções. É um resultado sem precedentes. Não muda o status da Palestina de mero observador sem voto na ONU, mas é um ato simbólico de grande importância.
Entre os 9 votos contrários, dois eram óbvios: Israel e Estados Unidos. Em seu discurso na Assembleia, o embaixador israelense pegou uma cópia da Carta das Nações Unidas e jogou em um pequeno triturador de papel: “Vocês estão triturando a Carta da ONU com as suas próprias mãos. Sim, é isso que vocês estão fazendo. Triturando a Carta da ONU. Que vergonha!”.
A posição israelense está muito longe do consenso internacional e de sua posição há décadas. Nos Acordos de Oslo, de 1993, foram lançadas as bases de um futuro Estado palestino ao se pactuar a criação de uma Autoridade Palestina na Cisjordânia. Hoje, ao contrário, o governo de Netanyahu considera que a mera invocação de um Estado palestino sugere a destruição de Israel. Os Estados Unidos, que também votaram contra, não vão tão longe, consideram que o Estado palestino deve surgir de negociações entre israelenses e palestinos. É uma maneira de escapar do problema.
A Espanha foi um dos 143 votos a favor. No final de maio, o governo de Pedro Sánchez aprovou o reconhecimento oficial do Estado da Palestina, que “deve ser, em primeiro lugar, viável; com a Cisjordânia e Gaza conectadas por um corredor e com Jerusalém Oriental como a sua capital e unificadas sob o governo legítimo da Autoridade Nacional Palestina”. Ou seja, as fronteiras de 1967. É uma posição legítima, necessária e majoritária. Ao mesmo tempo, é puro wishful thinking. Hoje, a solução de dois Estados tem muito apoio internacional e bem pouca probabilidade de acontecer.
O que é a Palestina hoje? Após os Acordos de Oslo, a Cisjordânia foi dividida em três áreas: a A, que representa 18% e é totalmente controlada (ao menos no papel) pela Autoridade Palestina (AP); a B, que representa 22% e onde a AP administra os assuntos civis e Israel a segurança; e a C, que representa 60% e é de total controle israelense.
Na prática, Israel governa militarmente as três áreas, mantém o frágil governo palestino em uma situação de subordinação e, há décadas, promoveu a construção de assentamentos ilegais. Hoje, a Palestina é Gaza, uma região em ruínas governada por um grupo terrorista, e 165 “ilhas” na Cisjordânia com autogoverno limitado e cercadas por um mar de controle militar israelense.
O reconhecimento do Estado palestino, por tanto, é menos o reconhecimento de uma soberania do que uma maneira de obrigar Israel a desocupar a Cisjordânia e Jerusalém Oriental, que conquistou após a guerra de 1967. É um objetivo legítimo e, ao mesmo tempo, improvável a médio prazo. Não está claro do que falamos quando falamos da Palestina. O que, sim, está claro é o que ela deveria ser.
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O que é a Palestina? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU