19 Abril 2024
" O Cardeal Müller, talvez o expoente de maior destaque da oposição interna à Igreja do Papa Francisco, escolheu ficar ao lado dos líderes da frente nacionalista e da extrema direita europeia", escreve Francesco Peloso, jornalista, em artigo publicado por Domani, 18-04-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
O Cardeal alemão Ludwig Gerhard Müller, ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, foi inesperadamente o convidado de honra na conferência promovida pelo “conservadorismo nacional” realizada nos dias 16 e 17 de abril em Bruxelas; é um encontro organizado por uma rede da direita europeia e estadunidense, que está se empenhando fortemente para ganhar vantagem nas próximas eleições para o Parlamento Europeu e na corrida eleitoral para a Casa Branca.
Além disso, é preciso dizer que a iniciativa não teve vida fácil: inicialmente foi barrada por Emir Kir, um prefeito socialista, filho de imigrantes turcos, que governa Saint-Josse, um dos municípios de Bruxelas, onde estava acontecendo a manifestação. “Emiti um decreto como prefeito para proibir esse evento por razões de ordem pública”, disse Kir, “a extrema direita não é bem-vinda aqui”, acrescentou enfurecendo, no entanto, os organizadores.
A medida do prefeito, de fato, foi contestada pelo próprio governo belga, bem como por vários líderes europeus, que acusaram o prefeito de ter violado princípios democráticos elementares; assim, os trabalhos da conferência foram retomados na quarta-feira.
Nesse contexto, portanto, o Cardeal Müller, talvez o expoente de maior destaque da oposição interna à Igreja do Papa Francisco, escolheu ficar ao lado dos líderes da frente nacionalista e da extrema direita europeia, tais como o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, o ex candidato à presidência francês Eric Zemmour, os ingleses Nigel Farage, ex líder da frente pró-Brexit, e Suella Braverman, ex ministra do Interior inglesa e o ex primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki.
Mesmo que nessa ocasião não estivesse prevista a intervenção de Giorgia Meloni, que, no entanto, se sente de certa forma em casa: primeiro por ter participado em edições anteriores, depois por ser presidente do partido dos conservadores-reformistas europeu, para não falar, finalmente, entre as instituições patrocinadoras do evento encontramos a fundação Nazione futura, próxima do partido da Primeira-Ministra.
Müller, por sua vez, não perdeu tempo e comparou a tentativa de acabar com a manifestação pelas autoridades locais ao que estava acontecendo "na Alemanha nazista", "eles são como as SA", disse ele.
O menu foi o clássico desses eventos: firme rejeição da UE e das suas instituições em nome de uma recuperação do papel das nações e, portanto, defesa de não melhores especificadas tradições nacionais, da família, da identidade cristã do continente, ameaçada pela imigração, especialmente aquela islâmica; e, nessa edição da conferência, uma piscadela para os agricultores que recentemente saíram às ruas em vários países europeus expressando a sua oposição às políticas ambientais da UE.
Entre os oradores esperados, também se destacou o nome de Gloria von Thurn-und-Taxis, alemã, outrora conhecida como a "princesa punk" pelos penteados originais com que se exibia em público, que, no entanto, tornou-se uma militante ativa do tradicionalismo católico; ela é amiga do ex-secretário de Bento XVI, D. Georg Gaenswein, do próprio card. Müller e de Steve Bannon, o homem que liderou a primeira campanha eleitoral vitoriosa de Donald Trump. “Os direitos humanos fundamentais – disse Müller durante a conferência – são a liberdade religiosa e a liberdade de consciência, não somos escravos do Estado”, mesmo o “moderno Estado democrático evoluiu a partir de cidadãos livres”.
Recentemente, numa entrevista ao canal web estadunidense pró-vida, Lifesitenews, Müller voltou aos temas que lhe são mais caras, afirmando que o presidente católico Joe Biden deveria ser excomungado pela sua posição em apoio à legislação que permite o aborto; recentemente, em diversas ocasiões, criticou o caminho sinodal alemão (demasiado aberto às reformas), alertou o Papa contra prosseguir no caminho do diaconato feminino, defendeu a missa pré-conciliar em latim e acusou Francisco de heresia.
Müller foi afastado da direção do antigo Santo Ofício pelo Papa Francisco em 2017, quando tinha 69 anos; portanto, depois de apenas um primeiro quinquênio de governo como prefeito e com amplo adiantamento em relação aos canônicos 75 anos em que é apresentada a renúncia (exceto por prorrogação concedida pelo próprio pontífice).
Certamente a substituição não foi muito bem recebida pelo cardeal, que desde então multiplicou os seus ataques ao bispo de Roma, procurando também apoio no movimento pró-vida no exterior. Por outro lado, para Müller como para os outros tradicionalistas duros e puros, a vida tornou-se difícil e com as muitas nomeações cardinalícias feitas por Francisco o risco é não ter tanto peso no próximo conclave.
Portanto, é melhor inverter o curso e procurar alianças na política e na liderança conservadora para tentar influenciar a vida da Igreja.
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Na UE, o Cardeal Müller junta-se à cruzada soberanista de Orbán, Zemmour e Meloni. Artigo de Francesco Peloso - Instituto Humanitas Unisinos - IHU