22 Outubro 2023
"Nas próximas horas, a Assembleia Sinodal enfrenta o desafio de reagir ao que está a ser expresso pelos diferentes círculos mais pequenos, de não se perder em discursos ideológicos preparados, que continuam a responder a interesses pessoais, locais, ou de grupos de pressão, algo que é percebido até nas perguntas das coletivas de imprensa. Aí aumenta o risco de ruptura e é difícil a aterragem da Assembleia Sinodal".
O artigo é de Luis Miguel Modino, padre espanhol e missionário Fidei Donum.
Podemos dizer que a primeira sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo da Sinodalidade vive nestes dias um momento decisivo, é hora de concretizar as coisas. Desde o início insistiu-se que este Sínodo é uma oportunidade para pôr em prática a sinodalidade, para caminhar juntos, mas não podemos negar que um avião não pode estar constantemente a voar, que tem de chegar um momento em que aterra. Se você demorar muito para fazer isso, o risco de bater fica cada vez mais evidente.
Enquanto aguardam a elaboração do Documento Síntese, que deverá ser o trabalho fundamental da última semana, os círculos menores chegam ao ápice do discernimento comunitário, e para isso é necessário, fundamental, decisivo, passar do eu ao outro, que é o exercício que se realiza na segunda rodada do processo de discernimento comunitário, e assim alcançar a clareza absoluta do sentimento comum.
O Módulo B3, o quarto e último do Instrumentum Laboris, tem como tema “Participação, responsabilidade e autoridade”, e visa refletir sobre os processos, estruturas e instituições necessárias a uma Igreja sinodal missionária. Um dos grandes desafios que o Sínodo da Sinodalidade enfrenta é a mudança de estruturas, algo que incomoda muitas pessoas. Na verdade, sentar-se numa mesa redonda, como iguais, não é algo que todos aceitam de bom grado.
Aquela estrutura eclesiástica onde todos escutam, dialogam e não repreendem o outro porque disseram algo que não gosto, principalmente se estão abaixo de mim na classificação eclesiástica que formei na minha cabeça, é uma revolução estrutural, que exige aquela conversão pastoral que Francisco pede desde que lançou o seu programa de pontificado na Evangelii Gaudium, inspirado no Documento de Aparecida, do qual o então Cardeal Bergoglio coordenou a comissão de redação.
Estas estruturas de articulação a todos os níveis da Igreja são uma das grandes questões quando falamos de uma Igreja sinodal. Uma questão complexa e em que a Igreja deve avançar com pés de chumbo, seguindo o tempo de Deus, se quiser evitar cismas que, em vez de nos conduzirem a uma Igreja sinodal, nos conduzem a uma Igreja dividida, como já aconteceu noutros momentos da longa história do cristianismo.
Quando conseguimos pensar por nós mesmos, quando deixamos Deus trabalhar e o Espírito Santo estar presente, fica muito mais fácil focar, conectar as posturas e seguir em frente. Não se trata apenas de buscar consensos, mas de chegar a pontos que façam com que todos se sintam em paz, pois temos a certeza de ter chegado onde Deus indicou no caminho. É um caminho que todos sentem, há um sentimento de pertencimento, de que vale a pena caminhar adiante.
Nas próximas horas, a Assembleia Sinodal enfrenta o desafio de reagir ao que está a ser expresso pelos diferentes círculos mais pequenos, de não se perder em discursos ideológicos preparados, que continuam a responder a interesses pessoais, locais, ou de grupos de pressão, algo que é percebido até nas perguntas das coletivas de imprensa. Aí aumenta o risco de ruptura e é difícil a aterragem da Assembleia Sinodal.
É hora de escrever, do ponto de vista concreto, o que acarreta complexidade, mas que será o que fará avançar um caminho sinodal que vai e quer ir muito além de outubro de 2024. É um sonho, um sonho de outra Igreja, com espaço para todos. Ali está a pista de pouso. Esperemos que a Assembleia Sinodal, onde somos nós o piloto, o encontre.
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Se o Sínodo não se concretizar, não pousar, corre o risco de desabar - Instituto Humanitas Unisinos - IHU