06 Setembro 2023
"Não há mais apenas ciência e apenas técnica. Há tecnociência", escreve Rodrigo Petronio, escritor, filósofo e professor da Fundação Armando Alvares Penteado - FAAP, em comentário publicado em sua página no Facebook, 04-09-2023.
Há muito o que dizer sobre "Oppenheimer". Desde a atuação espetacular de Cillian Murphy a aspectos técnicos. O que acho mais importante é pensar a situação da ciência no mundo atual.
Vivemos em um mundo todo construído pela revolução científica do século XVII. E, paradoxalmente, nunca houve tanta necessidade de se defender a ciência. Precisamos defendê-la de três grandes inimigos. Defendê-la dos negacionistas, que questionam os seus fundamentos. Defendê-la dos tecnocratas, que se empenham em reduzi-la a um puro instrumento, vazio de sentido e mero meio eficaz de capitalização e destruição. Defendê-la dos cientificistas, aqueles que definem a cientificidade da ciência a partir de critérios que não têm mais relevância em um debate sério de epistemologia. Para dificultar o trabalho, esses três inimigos da ciência se retroalimentam mutuamente. Os negacionistas potencializam os cientificistas. Os cientificistas dão insumo aos tecnocratas. Os tecnocratas, ao vampirizar a ciência e, ao mesmo tempo, liberar a potência da técnica, legitimam os negacionistas.
O cerne desse dilema: não há mais apenas ciência e apenas técnica. Há tecnociência. Distinguir ciência e técnica sem incorrer em uma ingênua tecnofobia ou retroagir a uma ciência do passado. Distinguir as diversas técnicas e suas especialidades sem incorrer em uma ingênua tecnofilia ou tecnofobia generalizadas. E, por fim, pensar como a técnica pode estar a serviço da ciência e não a ciência a serviço da técnica. Esse é o desafio do século XXI. A sobrevivência da humanidade deve estar nas respostas que vamos encontrar para esses impasses.
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O desafio do século XXI. “A técnica pode estar a serviço da ciência e não a ciência a serviço da técnica”. Comentário de Rodrigo Petronio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU