17 Agosto 2023
"A escolha política de amanhã deverá ser, portanto, fazer chegar os refugiados, os requerentes de asilo, os fugitivos por causa das guerras, da fome e do clima, ou simplesmente os migrantes em busca de um novo mundo", escreve Raniero La Valle, jornalista e ex-senador italiano, em artigo publicado por Chiesa di Tutti, Chiesa dei Poveri, 16-08-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Nos últimos dias, multiplicaram-se os naufrágios e os desembarques do já imenso povo dos migrantes, vítimas do nosso genocídio. Num naufrágio em Lampedusa registaram-se 41 mortos, ao largo da costa de Marettimo 2 mortos e dois "desaparecidos", ou seja, afogados, perto da Tunísia, em Sidi Mansour, 18 mortos, outros 12 ao largo de Sfax e um naufrágio também no Canal da Mancha, com 6 vítimas que os franceses enterraram em Calais. O cemitério do mar: mas um cemitério ainda maior, disse o Papa Francisco ao regressar de Lisboa, é o Norte de África, onde antes dos naufrágios, os refugiados acabam nos campos de concentração. Agora flotilhas inteiras estão atravessando o Mediterrâneo, até a Guarda Costeira, apesar de Salvini, é forçada a pedir ajuda aos navios humanitários que caso contrário seriam apreendidos ou enviados pelo governo para portos distantes.
Cada vez mais aproxima-se uma situação em que apenas duas opções serão possíveis: uma, a mais fácil e perversa, enviar a frota, segundo a primeira ideia de Giorgia Meloni, para defender as fronteiras marítimas no "Mare nostrum" como dizia o fascismo que agora voltou à moda; e a segunda, a mais difícil mas virtuosa e aberta às esperanças do amanhã, é tirar o controle do mar dos traficantes, abrir portos e fronteiras, e reconhecer o direito universal de migrar (o ius migrandi pela primeira vez teorizado por Francisco de Vitória quando a América foi "descoberta"). A escolha política de amanhã deverá ser, portanto, fazer chegar os refugiados, os requerentes de asilo, os fugitivos por causa das guerras, da fome e do clima, ou simplesmente os migrantes em busca de um novo mundo, com os navios de linha, os aviões de todas as companhias, os ônibus, os carros e qualquer outro meio de transporte reconhecido e legal.
Então sim, o acolhimento terá que ser organizado, e muitas coisas terão que mudar, nos nossos próprios modos de vida, no encontro com os outros. Mas, como dizia De Gaulle, que também pode ser considerado um cultor da nação, "o futuro está na mestiçagem"; como recordava Senghor "todas as grandes civilizações foram civilizações de mestiçagem" e, como escrevia o teólogo francês Jacques Audinet já em 1999 em seu livro "Le temps du métissage": “Olhar de frente a mestiçagem promete à Europa empreender uma imensa mudança de mentalidade: o fim de sua hegemonia política, mas ainda mais intelectual e cultural”. Em positivo, falar a novidade do que está acontecendo em seu solo, a transformação das identidades, das relações. Em suma, a continuação do que a Europa sempre fez e do que faz a Europa, mas que curiosamente os últimos séculos esconderam. A Europa terra mestiça. O tema começa a se impor.
Terra de misturas, com certeza. A França, em particular, foi constituída por meio de uma contribuição constante e uma interpenetração de vários povos. Mas então, por que disfarçar, ou tentar esquecer tudo isso?”
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“Todas as grandes civilizações foram civilizações de mestiçagem” (Senghor). “O futuro está na mestiçagem” (De Gaulle) - Instituto Humanitas Unisinos - IHU