28 Junho 2023
Após sucesso eleitoral da AfD em eleição regional na Alemanha, observadores alertam para o risco de rompimento do "cordão sanitário" formado por partidos tradicionais que vinha mantendo a sigla de ultradireita isolada.
A reportagem é de Hans Pfeifer, publicada por Deutsche Welle, 26-06-2023.
Eleições regionais ocorridas na Alemanha no último fim de semana tiveram grande repercussão política e midiática, com o partido Alternativa para a Alemanha (AfD) dominando debates nas redes sociais. Pela primeira vez, um político da sigla de ultradireita foi eleito chefe de uma autoridade distrital no país: Robert Stuhlmann venceu a eleição no distrito de Sonneberg, no estado da Turíngia.
A eleição em si, porém, não está no centro de toda a agitação, até porque o novo administrador distrital tem pouca margem de manobra política. O que motiva o debate são as ambições políticas do partido, que pode usar a vitória em Sonneberg como impulso para conquistas muito maiores. Pesquisas de opinião atuais apontam, por exemplo, que a AfD tem uma chance realista de se tornar a força política mais forte nas eleições de três estados federais do leste alemão em 2024.
E isso apesar de todos os escândalos políticos, apesar dos casos de doações partidárias, conexões com extremistas de direita, insultos racistas. E apesar também do fato de que alguns membros e ex-membros do partido repetidamente fizeram referências positivas ao fascismo e ao nazismo de Adolf Hitler. Após o recente sucesso eleitoral, um dos líderes do partido, Tino Chrupalla, não escondeu seu contentamento: "Isso é apenas o começo!"
Mas por que o partido faz tanto sucesso no momento? Ele parece se sair bem em duas questões políticas em particular: imigração e proteção climática. Durante anos, a luta agressiva contra refugiados e imigrantes tem sido a questão central da AfD, com o medo da "ameaça muçulmana" incitado deliberadamente em suas campanhas. "A narrativa básica da AfD sempre foi a de que há uma ameaça cultural", disse o consultor político e de comunicação Johannes Hillje em entrevista ao jornal alemão Tageszeitung. "Por muito tempo, ela veio de fora através dos migrantes. Agora ela também vem de dentro, através da transição social rumo à neutralidade climática – um projeto central da atual Coalizão do Semáforo e dos Verdes".
A AfD também parece se beneficiar da disputa política entre os outros partidos no Bundestag (Parlamento alemão). Conservadores, social-democratas, verdes e liberais culpam uns aos outros por decisões políticas: rápida transição energética, sim ou não? Limite de velocidade nas autoestradas? Retorno à energia nuclear? Com exceção da AfD, todos os outros partidos, em diferentes coalizões, contribuíram para tais decisões. Os outsiders de ultradireita podem, portanto, apresentar-se como a "única verdadeira oposição". Como seus concorrentes políticos se recusam a cooperar, eles não precisaram se responsabilizar por nenhuma decisão até agora.
Mas, segundo o assessor político Hillje, a coalizão federal – composta por social-democratas, verdes e liberais – também tem sua parcela de culpa na alta da sigla radical: "O governo acabou fornecendo uma base de mobilização emocional para a AfD, na qual a incerteza material foi alimentada pelo lei do aquecimento", disse Hillje em entrevista ao programa de televisão Bericht aus Berlin. A lei prevê a conversão de sistemas privados de aquecimento para energias renováveis, levantando temores de possível aumento de custos entre os proprietários. Tal medo, aliado à insatisfação fundamental com a democracia, é para Hillje um "pacote de estímulos" perfeito para a ultradireita.
Críticos também culpam os conservadores da União Democrata Cristã pelos avanços da AfD. Com Friedrich Merz na liderança, o partido tem adotado uma linha dura contra os refugiados e contra questões sociais como os direitos LGBTQ, buscando atrair os eleitores da sigla de ultradireita. Críticos, no entanto, veem poucas chances de sucesso, pois, na dúvida, o lado radical originário sempre ganha – no caso, a AfD.
Com o sucesso da AfD, a Alemanha vive atualmente um desdobramento político já observado nos Estados Unidos, onde, apesar de todas as mentiras e escândalos, o ex-presidente Donald Trump continua sendo uma força política decisiva. Assim como Trump nos EUA, a AfD na Alemanha se apresenta como a única alternativa ao establishment político e como a voz do povo supostamente reprimida pelos meios de comunicação.
Diante das inúmeras conexões da AfD com organizações anticonstitucionais e de uma ala radical do partido cada vez mais influente, repetidamente negando às minorias seus direitos como alemães, instituições e forças sociais vêm alertando sobre a crescente influência da sigla. Oponentes políticos, associações empresariais, associações muçulmanas e o Conselho Central dos Judeus veem a AfD como uma ameaça à democracia.
Após o atual sucesso eleitoral na Turíngia, a AfD também passou a receber apoio do campo neonazista: em seu canal no Telegram, o proeminente extremista de direita Michael Brück parabenizou o partido: "Não deve haver falsa condescendência na limpeza necessária da administração," escreveu Brück, dirigindo-se ao recém-eleito administrador distrital da AfD.
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Ultradireita expande sua influência na Alemanha - Instituto Humanitas Unisinos - IHU