24 Março 2023
As capacidades do sistema ainda estão em fase de avaliação, mas, enquanto pesquisadores e especialistas analisam os materiais que o acompanham, muitos expressaram desapontamento com uma característica específica: apesar do nome de sua empresa-mãe, o GPT-4 não é um modelo de inteligência artificial aberto.
O comentário é de Paolo Benanti, frei franciscano da Terceira Ordem Regular, professor da Pontifícia Universidade Gregoriana, de Roma, e acadêmico da Pontifícia Academia para a Vida. Em português, é autor de “Oráculos: entre ética e governança dos algoritmos” (Unisinos, 2020).
O artigo foi publicado por Avvenire, 23-03-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O GPT-4 acaba de ser lançado, e a rede fervilha de análises e testes. O que chama a atenção, além das potencialidades que ele demonstra, são todos os detalhes que emergem do relatório técnico que a OpenAI disponibilizou em seu site.
O que é o GPT-4? É o novo modelo de inteligência artificial da OpenAI que pode gerar texto a partir de imagens ou outros textos. GPT significa Generative Pretrained Transformer. É um instrumento de processamento de linguagem natural que usa uma rede neural profunda.
A primeira grande novidade é que ele é multimodal: pode aceitar diversos tipos de entrada, como vídeos, sons, imagens e textos. Assim, pode ter uma “compreensão” mais profunda do contexto e gerar respostas mais precisas e pertinentes.
No entanto, o GPT-4 só pode produzir texto como saída. É um modelo, ou seja, um sistema computacional que imita as capacidades da inteligência humana, como o raciocínio, a aprendizagem, o planejamento e a criatividade, baseando-se em algoritmos que elaboram os dados e produzem respostas.
No estado da arte, existem diversos tipos de modelos de inteligência artificial, dependendo do método de aprendizagem e da tarefa a ser realizada. Infelizmente, às vezes há confusão entre esse sistema “inteligente” e a forma com a qual ele interage.
A questão já havia surgido com o ChatGPT, talvez o primeiro momento em que os modelos GPT conquistaram a honra dos noticiários globais, saindo do nicho dos especialistas. A forma do chat – em termos mais técnicos, o bot – não é o modelo. O modelo está atrás e é capaz de fazer várias coisas.
No ChatGPT, ele responde textualmente a um interlocutor humano entretendo um discurso, ou seja, mostrando a capacidade de entender perguntas e de dar respostas com sentido, mostrando uma coerência temporal: é como se ele “seguisse” o fio lógico das várias perguntas, fazendo a conversa com o usuário evoluir com base no que foi perguntado e dito anteriormente.
Se quisermos entender o GPT-4, não devemos parar na experiência do usuário que podemos fazer dele, mas devemos analisar seus componentes que geram essas capacidades “inteligentes” (desculpem o excesso de aspas, mas são rótulos para descrever funções e não atribuições de propriedades “ontológicas”).
As capacidades do sistema ainda estão em fase de avaliação, mas, enquanto pesquisadores e especialistas analisam os materiais que o acompanham, muitos expressaram desapontamento com uma característica específica: apesar do nome de sua empresa-mãe, o GPT-4 não é um modelo de inteligência artificial aberto.
A OpenAI compartilhou vários benchmarks e resultados de testes para o GPT-4, além de algumas demonstrações intrigantes, mas não ofereceu praticamente nenhuma informação sobre os dados utilizados para treinar o sistema, sobre seus custos de energia, sobre o hardware específico ou sobre os métodos para criá-lo.
Várias vezes vimos como as inteligências artificiais costumam ser inexplicáveis: agora, parece que chegamos ao ponto em que, além de inexplicáveis, elas são fechadas. É também por isso que precisamos da algorética.
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GPT-4, o algoritmo inexplicável e fechado. Artigo de Paolo Benanti - Instituto Humanitas Unisinos - IHU