23 Fevereiro 2023
Um experimento com 60 empresas e cerca de 3.000 trabalhadores, principalmente no Reino Unido, durante um período de 6 meses, onde os funcionários trabalharam um dia a menos por semana sem perda de remuneração. Em alguns casos, aumentando a produtividade.
A reportagem é de Giacomo Talignani, publicada por La Repubblica, 22-02-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Uma semana de trabalho de quatro dias também pode ser eficaz para ajudar o clima e o meio ambiente. Há poucas horas foram publicados os resultados daquele que é considerado o maior teste experimental do mundo de uma semana curta sem redução salarial. O projeto chama-se "4 Day Week Global" e envolveu 60 empresas e quase 3.000 trabalhadores - principalmente no Reino Unido - em um período de seis meses em que os funcionários trabalharam quatro dias em vez de cinco sem perda de remuneração.
Os resultados indicam que a quase totalidade (91%) das empresas que experimentaram esta fórmula vão continuar com o programa dado que em média as receitas aumentaram 35% (em relação ao ano anterior), o absentismo diminuiu e também os efeitos em termos de saúde e bem-estar dos trabalhadores foram julgados mais do que positivos.
No relatório, destaca-se que os resultados ambientais também são animadores, sobretudo em nível da redução do tempo de deslocamento de carro para ir ao trabalho.
Uma consultoria que aderiu ao programa 4 Day Week, a britânica Tyler Grange, quis investigar mais sobre esse aspecto e outros potenciais benefícios ambientais. Nessa empresa que faz consultoria ambiental, trabalhar quatro dias levou a um aumento da produtividade diária de 22% e "em média vimos uma redução de 21% no número de milhas percorridas de carro", relatam do grupo, especificando também como alguns colaboradores nos dias livres optaram por participar de programas de voluntariado em associações ambientalistas.
De acordo com Juliet Schor, economista e socióloga do Boston College, uma semana de trabalho mais curta é a chave para reduzir as emissões de CO2. “Embora os benefícios climáticos sejam a coisa mais difícil de medir, temos muitas pesquisas mostrando que, com o tempo, à medida que os países reduzem as horas de trabalho, suas emissões diminuem”. De estudos anteriores, uma redução de 10% nas horas está associada a uma redução de 8,6% na pegada de CO2.
Um dos aspectos positivos da redução da semana de trabalho é de fato a diminuição dos deslocamentos e da utilização de meios de transporte particulares, mas os dados recolhidos no Reino Unido também demonstram como ter mais tempo livre levou a um aumento de comportamento a favor do meio ambiente: mais voluntariado para causas ambientais, maior atenção à reciclagem e em geral um maior compromisso ecológico.
“Quando as pessoas trabalham menos, têm mais tempo livre para atividades sustentáveis que geralmente exigem mais tempo”, relatou Stefanie Gerold, pesquisadora da Universidade de Tecnologia de Brandenburgo, na Alemanha, à BBC.
Mas há outro aspecto, até agora examinado apenas superficialmente, que segundo o experimento da empresa Tyler Grange é muito animador: a redução das emissões de dióxido de carbono associadas ao envio e armazenamento de dados. “A falta de tráfego online empresarial às sextas-feiras poderia ter um impacto substancial nas emissões, talvez até mais importante do que a queda nos deslocamentos”, argumentam da empresa, embora sem dados oficiais.
Por outro lado, porém, alertam outros especialistas como Anupam Nanda, professor de economia urbana da Universidade de Manchester, no difícil cálculo da possível redução de emissões ligada à semana curta também é decisivo poder considerar como os funcionários gastam seu tempo livre porque isso também pode "levar a um maior consumo de bens e serviços de alta intensidade de CO2. Se você acabar pegando um avião ou dirigindo centenas de quilômetros para atividades recreativas, isso dificilmente poderá ajudar a enfrentar a crise climática", argumenta Nanda.
Se olharmos para os dados do projeto 4 Day Week neste sentido, o número de viagens de lazer nacionais realizadas pelos trabalhadores envolvidos diminuiu 5,5% em quatro semanas, mas o número de voos internacionais realizados no tempo livre manteve-se inalterado.
De forma mais geral, tanto os participantes do projeto quanto uma série de estudos realizados, por exemplo na Islândia, Suécia e Estados Unidos, indicam, no entanto, vários impactos positivos, em nível ambiental, da semana curta, mas esses efeitos permanecem difíceis de serem mensurados atualmente. Também por isso, os especialistas sugerem mais casos-piloto para coletar informações e dados para entender o impacto potencial da redução da jornada de trabalho - dependendo dos países - por exemplo, sobre o aquecimento global.
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Como a semana de trabalho de quatro dias pode ajudar contra a crise climática - Instituto Humanitas Unisinos - IHU